As reivindicações dos caminhoneiros que protestam há uma semana nas estradas são justas. Trata-se de uma profissão sofrida, que os obriga a longas jornadas, longe da família, correndo riscos de acidentes e de assaltos. É errado dizer que o país se tornou refém dos protestos. Somos reféns, todos nós, de um governo irresponsável e insensível às demandas sociais.
Na raiz da insatisfação com o preço dos combustíveis está a política entreguista praticada pela Petrobras desde o golpe do impeachment, dois anos atrás. A empresa foi entregue ao senhor Pedro Parente, legítimo representante do governo Fernando Henrique Cardoso, para fazer o que os tucanos não conseguiram em seu tempo: destruí-la e entregar nosso patrimônio aos interesses privados, nacionais e estrangeiros.
A política de alinhamento dos preços dos combustíveis às variações do câmbio e dos preços internacionais do petróleo é parte desse plano. É uma estratégia perversa, que beneficia os acionistas privados em detrimento da economia popular. Suas consequências estão sendo percebidas agora nos postos de gasolina, mas chegaram primeiro nos lares mais pobres, onde falta dinheiro para comprar o gás de cozinha.
Pedro Parente reduziu em 30% a produção de derivados em nossas refinarias, abrindo nosso imenso mercado à importação de combustíveis no estrangeiro. Além de transferir grandes lucros para as empresas de fora, tornou o Brasil extremamente vulnerável às especulações com os preços internacionais que caracterizam o setor de petróleo.
De nada vai adiantar a redução temporária do preço do diesel, tardiamente oferecida aos caminhoneiros, nem o corte de impostos federais sobre combustíveis, se a Petrobras continuar trabalhando contra o Brasil. As soluções propostas pelo governo não tocam na raiz do problema e transferem para o Tesouro o custo da negociação. Não temos dúvida de que o custo fiscal do acordo levará a novos cortes no orçamento da saúde, educação e políticas públicas que beneficiam o povo.
Diante de uma crise que já era esperada, o governo golpista optou por defender os interesses dos grandes grupos que se beneficiam das importações de combustíveis, demonstrando mais uma vez a quem serviu o golpe do impeachment. E mais grave ainda: sem capacidade nem legitimidade para dialogar, convocou as Forças Armadas para parar o movimento.
O país inteiro está submetido, desde o fim de semana, a uma situação de exceção, da qual se aproveitam os pescadores de águas turvas para estimular aventuras autoritárias, pedindo intervenção militar.
Nenhuma solução para o Brasil está fora da democracia, da realização de eleições livres e diretas, de um governo que esteja legitimado pelo voto popular. Um governo que olhe para povo e para o desenvolvimento do Brasil.
Nos governos do PT, havia previsibilidade e uma política justa e soberana de preços dos combustíveis. Mas havia principalmente diálogo democrático e a legitimidade obtida nas urnas para dirigir o país. Por isso insistimos em lançar a candidatura do ex-presidente Lula e defender o direito do povo de votar livremente. É na democracia, e não no uso da força, que poderemos reconstruir a Petrobras e o Brasil.
Gleisi Hoffmann é senadora e presidenta nacional do PT