O sequestro de Lula foi uma operação política, midiática e inconstitucional. Incendiou os ânimos da militância de parte a parte e colocou a sociedade em estado de ebulição política. A situação ficou tão grave que o próprio juiz Sérgio Moro, que fala que só se manifesta nos autos, soltou uma nota para justificar o feito.
Disse que não havia antecipação de culpa, que a medida visava apenas esclarecimentos da verdade e que foram tomados cuidados para preservar a imagem do ex -presidente Lula(?). Repudiou ainda “atos de violência”.
Para tomar um depoimento à bem da verdade precisa o Ministério Público mobilizar 200 policiais federais, helicópteros, carros, naquela quantidade? Uma intimação juridicamente sustentada não teria chegado ao mesmo resultado, sem grandes gastos, comoção e insuflação política?!
A dita condução coercitiva está sendo objeto de discordância e críticas por vários juristas: “Condução coercitiva? O que é isso? Eu não compreendi. Só se conduz coercitivamente ou, como se dizia antigamente, debaixo de vara, o cidadão que resiste e não comparece para depor. E o Lula não foi intimado”, disse o ministro do Supremo Tribunal Federal, Marco Aurélio Mello. Ele não é petista!
Celso Antônio Bandeira de Mello, conceituado jurista, que também não é petista, foi na mesma direção: “Não passa de um absurdo. Porque quem não se recusa a depor, quem não resiste a colaborar com a autoridade, não pode receber nenhuma condução coercitiva”.
Outro não petista, o presidente do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil, Claudio Lamachia, também explicou a revista eletrônica Consultor Jurídico: “Sem a negativa, a condução à força é desnecessária… Todos devem ser investigados quando houver motivo, mas dentro da lei”.
Nunca me coloquei contra a Lava Jato como instrumento de combate à corrupção, importante para ajudar a mudar os costumes no Brasil. Mas sempre critiquei aspectos que considero falhas de condução, como os vazamentos seletivos feitos por autoridades investigativas, de maneira claramente direcionadas para abastecer a mídia de fofocas, poupando oposicionistas e condenando governistas.
Agora, percebi que não apenas os vazamentos são seletivos, as investigações e os objetivos da Lava Jato é que são seletivos. Não se está buscando de fato combater e muito menos acabar com a corrupção no Brasil. Está se buscando acabar com um partido político, destruir a imagem de um ex-presidente, desmoralizar o governo, mais que isso, mudar o governo. Isto ficou mais que caracterizado com o sequestro do presidente Lula, com ampla cobertura midiática engajada na mesma versão.
A jornalista Hildegard Angel fez uma avaliação forte, e ela sabe do que está falando: “A sociedade precisa refletir sobre a gravidade do atual momento brasileiro, quando o que se parece pretender não é o cumprimento da lei, é a perseguição a um político que um grupo não aprova: Lula. Quando exorbita-se com 1, exorbita-se com 1 milhão. Já vimos esse filme. Os golpistas são os mesmos, as táticas iguais às de 54 e 64, os caminhos percorridos idênticos, os argumentos se repetem… Vergonha dos companheiros da imprensa – não mais os chamarei de companheiros – que ajudaram a fazer ferver esse caldeirão para desestabilizar o Brasil e promover o caos, disseminando meias verdades, verdades transversas, dados manipulados, insinuações cínicas.”
O caldeirão está fervendo. Mexer com o maior líder popular que este país já teve, querer que ele simbolize o processo histórico de corrupção promovido pelas elites nos 500 anos que governaram o Brasil, não será aceito passivamente, seja pela militância de esquerda, pelos movimentos sociais, seja por grande parte da população mais pobre do país, que nos últimos 13 anos foi tratada com dignidade e consideração.
A situação, se não tomar o caminho da legalidade, só tende a piorar. Quem vai se responsabilizar por ela?!
Gleisi Hoffmann é senadora da República pelo Paraná. Foi ministra-chefe da Casa Civil e diretora financeira da Itaipu Binacional.
*Artigo publicado originalmente no Blog do Esmael, nesta segunda-feira (7)