Há pessoas que melhoram com o passar dos anos. Não é o caso de Fernando Henrique Cardoso, o “príncipe” dos banqueiros e bilionários que hoje comandam o país. Depois de apoiar o golpe do impeachment e abrir caminho para Bolsonaro em 2018, sua atuação pública se resume a resmungar contra o PT e brandir o fantasma da polarização, como se não tivesse responsabilidade pelo que ocorreu ao país.
Parece aqueles ex-jogadores de futebol que viram comentaristas de tevê. Ao invés de entrar no jogo, fica olhando para o campo e repete o bordão: “cuidado com a polarização”.
FHC defende as reformas econômicas antipovo, antiestado e antidesenvolvimento, conduzidas por Paulo Guedes, Rodrigo Maia e David Alcolumbre, para transferir o que restou de renda e patrimônio dos trabalhadores e do estado para os banqueiros e bilionários.
Durante seu governo, a dívida pública líquida explodiu: saltou de 27 para 60% do PIB graças a uma política monetária que chegou a pagar 45% de juros reais ao ano para seus amigos rentistas. Deixou a presidência com 12% de inflação ao ano, 12% de desemprego, salário mínimo de 57 dólares, o país nas mãos do FMI e reservas cambiais de US$ 17 bilhões (22 vezes menos que o acumulado pelos governos do PT).
Mesmo assim o príncipe se acha no direito de dar lições de governança, de economia e de combate à desigualdade, em artigos e entrevistas a cada dia mais vazios.
Se houvesse livre debate de ideias na grande imprensa brasileira, FHC já teria sido poupado de tantos vexames. Mas ele se presta a sustentar a falácia de que Lula e Bolsonaro seriam males equivalentes, até mesmo iguais, e por isso suas rabugices encontram portas sempre abertas na imprensa e nos palcos dos especuladores.
O PT não é e nunca foi um partido extremista. Nasceu e cresceu lutando pela democracia e para enraizá-la. Nada mais diferente do que fazem Bolsonaro e os que se aproveitam financeiramente de seu governo. Nada mais diferente do que fez FHC, que aprovou a reeleição comprando votos no Congresso e, para ficar mais tempo no governo, enganou o país com uma política artificial de câmbio fixo nociva ao país.
Durante 20 anos, o PT “polarizou” com o PSDB. Será que essa polarização era boa naquela época aos olhos do FHC? Ou será q na opinião dele, caberia uma terceira via, um caminho do meio como ele propõe agora?
Não é culpa da esquerda e do PT que os eleitores mais conservadores, que votavam no PSDB, tenham embarcado na canoa de Bolsonaro. Afinal, nela estavam (e estão) os que defendem o programa tucano de entrega do país, das nossas riquezas, da entrega da Petrobrás e do pré-sal, do estado mínimo, dos cofres públicos escancarados para os rentistas e cada fez mais fechados para os pobres.
O PSDB de Fernando Henrique mantém seu projeto antipovo e antinacional pelas mãos de Paulo Guedes, que não por acaso era o conselheiro econômico de Luciano Huck antes do apresentador desistir de enfrentar Lula e o PT nas eleições de 2018.
FHC está totalmente errado quando diz que os postos de liderança estão vagos no Brasil. Foi o seu campo político que se aliou à extrema-direita fascista e, agora, tenta fabricar um líder nos estúdios da Globo, porque sentem vergonha de apoiar o governo Bolsonaro. Não têm líderes porque não têm projeto para o Brasil
Do lado do povo, não faltam lideranças engajadas na retomada da democracia e de um projeto de desenvolvimento nacional autônomo com inclusão social e combate à desigualdade. A maior delas chama-se Luiz Inácio Lula da Silva, aquele ex-presidente que os bilionários, os juízes corruptos, a imprensa dos banqueiros e FHC tentam, mas não conseguem, apagar do coração do povo brasileiro.
Gleisi Hoffmann é presidenta nacional do PT e deputada federal
*Artigo publicado originalmente no Brasil 247