Em entrevista ao canal Tutaméia, nesta quarta-feira, 1, a presidenta do Partido dos Trabalhadores, Gleisi Hoffmann, alertou para a necessidade de manter a disputa política e a mobilização popular para garantir a democracia, o desenvolvimento do país e os interesses do povo.
“O bolsonarismo está aí. Nós o derrotamos na urna, não na sociedade. Precisamos construir uma força hegemônica de defesa da democracia, dos direitos, do processo legal, de visão de mundo”, afirma Gleisi. “Isso é uma batalha que vamos ter de travar no dia a dia dentro do Congresso, no governo, na política brasileira, nos movimentos sociais. É um desafio importante para nós”, advertiu.
Na entrevista, a presidenta Nacional do PT, Gleisi Hoffmann, fez balanço deste primeiro mês do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Deputada federal reeleita pelo Paraná, Gleisi falou sobre avanços já implementados nesse período, expectativas para os próximos meses, necessidade de a sociedade derrotar o fascismo e o bolsonarismo, melhoria da qualidade de vida do povo brasileiro, defesa da democracia, promessas de campanha, ataque terrorista de 8 de janeiro às sedes dos Três Poderes e punição para golpistas e disseminadores de fake news.
“Ao mesmo tempo que tem de dar medidas concretas para a população, que responda à vida do povo, precisa fazer essa discussão política com o povo brasileiro”, aponta Gleisi.
Segundo Gleisi, é necessário mostrar o que significou esse período de destruição de políticas, de atentado contra o Estado Democrático de Direito, a violência como caminho para fazer a disputa politica, a desconstrução da imagem do Brasil no exterior e os flertes do bolsonarismo com as ilegalidades e com o crime. “Isso a gente tem de mostrar para que a sociedade tenha consciência do que significou em termos da qualidade de vida do povo brasileiro”, aponta Gleisi.
“O PT, enquanto principal base de apoio do governo Lula, seguirá “vigilante para que responsabilidade social e desenvolvimento do país sejam prioridades” e que partido, que completa 43 anos em 10 de fevereiro, está reestruturando a sua comunicação para o combate a fake news, “porque, quando se desvirtua a verdade, se altera o processo democrático”, afirma a presidenta do partido.
Acompanhe a seguir trechos da entrevista por temas:
‘Lula está muito bem’
“O presidente Lula está muito bem pelos seus posicionamentos, orientação, decisões, agendas, pela importância que dá a temas como os yanomamis, movimentos sociais, viagem internacional, posicionamento em relação aos crimes de 8 de janeiro, solicitação de medidas por parte de governo.
Eu não tinha dúvida que isso ia acontecer pela experiência que o presidente Lula tem. Ele governou o país por oito anos, conhece o estado brasileiro e conhece o Brasil. E essa experiência diz muito quando se senta na cadeira da Presidência da República. Não tenho dúvidas que é um bom início de governo e que ele, nos próximos meses, vai apresentar ainda mais resultados para a população brasileira”.
Responsabilidade Social
“O mercado tem de entender que a proposta vitoriosa nas urnas foi de responsabilidade social nesse país com desenvolvimento econômico. E isso não se faz do jeito que o mercado quer. Aliás, nós sabemos que as políticas liberais não levam a desenvolvimento, melhoria das condições de vida. Foi a Ponte para o Futuro que ajudou a eleger Bolsonaro.
O mercado não pode cobrar de nós o que não cobrou de Bolsonaro, que foi um irresponsável do ponto de vista fiscal. O governo do presidente Lula é um governo que tem compromisso com a maioria do povo brasileiro, compromisso que o povo possa ter três refeições, comida de qualidade, emprego, trabalho, remuneração, educação e cultura. Nunca faltamos com responsabilidade fiscal. Aliás, o presidente Lula já governou o país por dois mandatos e sempre teve muita responsabilidade.
“Nós enquanto PT, base de apoio, principal partido de sustentação do presidente Lula, vamos estar vigilantes para que a responsabilidade social e o desenvolvimento do país sejam a prioridade”.
Expectativa de mercado
“Neste primeiro semestre haverá decisões importantes do governo no campo da economia. Até porque estou vendo analistas e o próprio mercado soltarem previsão de crescimento da economia de 0,8%, muito baixo. Agora, o Fundo Monetário Internacional (FMI) fala em crescimento de 1,5%. É muito baixo, precisamos que a economia cresça pelo menos 2,5% neste ano, o ideal seria 4%, para o país recuperar as condições de vida do povo. As medidas que o governo vai tomar tem de ser nesse sentido, de sustentar o crescimento da economia, mas com responsabilidade social”.
Transição
“O governo Lula tem um mês só. Nós ainda não conseguimos fazer todas as coisas necessárias e importantes. Talvez essa sensação de ter um governo há mais tempo venha da transição, chamada de governo de transição porque não havia governo nos dois meses que seguiram às eleições em que Bolsonaro foi derrotado. As pessoas se miravam no que o grupo da transição estava fazendo, nas posições do presidente Lula, nos encaminhamentos”.
Revogaço
“Temos coisas importantes nesse um mês de governo, como os decretos já sustados, entre eles os que desestruturavam a participação social, quebra de sigilos, que devem sair agora, e o que restringe o uso de armas pela população. Eu não tenho dúvidas que o acerto do governo na economia e nas políticas sociais vão ser fundamentais para a gente fazer esse enfrentamento ao bolsonarismo.
Para as pessoas verem o que um governo construído em bases democráticas, com participação social, traz de resultado para a população. A nossa população está muito sofrida com tudo que aconteceu na economia nos últimos quatro anos de Bolsonaro”.
Propostas de campanha
“As medidas que foram discutidas durante a campanha, que compõem o programa de governo, ainda não começaram a ser implementadas porque há um prazo de preparação. Por exemplo, nós falamos da renegociação de dívida das famílias, que é um caos para o povo brasileiro. Estamos com mais de 50 milhões de famílias endividadas e isso impacta nas condições de vida das pessoas.
Eu sei que o presidente Lula já demandou a equipe econômica e as outras áreas do governo para fazer o estudo da situação, como fazer a proposta e encaminhar. Espero que em fevereiro a proposta para ser apresentada à sociedade”.
Isso é importante porque vai ter impacto muito grande na economia, vai liberar as famílias para ter mais consumo, se sustentar e melhorar as suas condições de vida”.
Salário mínimo
“O aumento do salário mínimo, que o presidente Lula quer até 1º de maio, vai ajudar na recuperação econômica, porque tem impacto muito grande no consumo das famílias, com impacto imediato na economia.
Assim como a retomada dos programas sociais, dos investimentos. O Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome está fazendo avaliação Auxílio Brasil, que volta a se chamar Bolsa Família. Há muita irregularidade, gente que não precisa está recebendo e quem necessita não. Acho que agora em fevereiro já termos a incorporação de novas famílias”.
Preços dos combustíveis
“Outra coisa que vai ter impacto na economia e precisa ser agilizada é a política de preços dos combustíveis. O presidente até adiou a isenção dos impostos, acho que fez correto, porque isso teria consequência para a vida das famílias e para a economia no quesito inflação.
Jean Paul Prates conseguiu ser nomeado presidente da Petrobras na semana passada em razão da Lei das Estatais, um retrocesso que criminaliza a política e o movimento sindical na tentativa de assepsia da empresa, como se ela não fosse majoritariamente do estado e, portanto, com o dever de dar resultados para o povo e não só para os seus acionistas.
Jean Paul Prates vai nomear a diretoria e começar a discussão para acabar com a política de dolarização dos combustíveis, compromisso do presidente Lula. São coisas que você não consegue fazer no primeiro mês não por falta de vontade, mas por conta de instrumentos administrativos”.
Ampla frente democrática
“É preciso fortalecer essa frente ampla democrática, que ficou ainda maior depois dos crimes de 8 de janeiro. A gente viu se formar uma maioria na sociedade denunciando o autoritarismo, a barbárie e o golpismo. Nós temos que cuidar para que essa frente continue existindo e para que a gente não baixe a guarda”.
Punição para crimes
“É importante a penalização de quem cometeu crimes porque é pedagógica. Ninguém pode ficar sem ser punido, claro, com o devido processo legal, respeito as leis. Não pode haver anistia. Isso não vai ajudar a vencer essa onda de autoritarismo que se instalou no Brasil”.
Supremo fortalecido
“Acho que o Supremo Tribunal Federal se fortalece sim. Até porque as instituições voltaram ter convivência melhor, voltaram aos seus devidos papeis, Executivo, Legislativo e Judiciário. E Isso é muito importante para a democracia.
O STF agiu com firmeza, tomou decisões importantes, investigou golpistas e está punindo com abertura de inquérito e averiguação respeitando o devido processo legal. Não pode, em nome de política, ter anistia para essa gente. Foi importante a atuação do ministro Alexandre de Moraes diante desses acontecimentos de ataque aos Três Poderes”.
Militares
“O presidente Lula foi muito feliz nas medidas que tomou em razão dos crimes de 8 de janeiro. Ele foi firme, cobrou posição da equipe, do Ministério da Defesa, dos militares, não entrou na onda de fazer uma Garantia da Lei e Ordem, que talvez uma parcela dos militares e da base bolsonarista quisessem.
Lula determinou a dissolução daquelas manifestações em frente a quarteis, uma vergonha para o Brasil e para as Forças Armadas, e foi firme em relação ao comandante do Exército, que teve clara insubordinação. Isso vai mostrando qual o papel do presidente, das Forças Armadas, importantes para o país, mas elas têm papel constitucional e foram politizadas nesse período todo com Bolsonaro. Ele levou a política para dentro dos quartéis e levou as Forças Armadas para dentro do governo.
Essa situação está sendo enfrentada para termos a convivência que a Constituição determina. É um processo, não é uma coisa que vai acontecer do dia para a noite”.
Bolsonarismo na sociedade
“O bolsonarismo está aí. Nós o derrotamos na urna, não na sociedade. Precisamos construir uma força hegemônica de defesa da democracia, dos direitos, do processo legal, de visão de mundo.
Isso é uma batalha que vamos ter de travar no dia a dia dentro do Congresso, no governo, na política brasileira, nos movimentos sociais. É um desafio importante para nós”.
Fake News
“Essa questão de fake news é algo que nós vamos ter de enfrentar. Isso está enraigado nas redes sociais. O bolsonarismo tem uma rede forte. Na campanha eleitoral, avançamos e fizemos o combate.
O governo Lula está reorganizando a comunicação e se organizando para não deixar isso vingar. É preciso medidas duras para veículos disseminadores. Vamos precisar como enfrentar isso nas redes sociais, porque mentir não é liberdade de opinião. Fazer o que eles fazem é crime, tem de haver punição, tem de ter regras.
Nós vamos fazer aniversário no dia 10, 43 anos, e já estamos reorganizando toda a nossa comunicação para fazer esse enfrentamento, que afeta a democracia essencialmente porque, quando você mente, esconde a verdade, desvirtua, mexe com o processo democrático”.
Monitoramento de fake news
“Durante a campanha eleitoral, nós fizemos monitoramento de redes sociais para chegar a quem formulava e iniciava a disseminação de fake news. Não adianta você combater no atacado, você tem de ir à fonte.
Fizemos um estudo importante que deu origem as ações de investigação no Tribunal Superior Eleitoral. Temos várias ações para serem julgadas, indicando a rede e onde começa a disseminação. Identificamos think tanks americanas e da Europa que são disseminadoras de conteúdo falso no Brasil. Tanto que muitas medidas que o TSE tomou durante a campanha foram em razão desses estudos que fizemos. Como quando o tribunal mandou derrubar sites, impediu disseminação de fake news e abriu sigilo bancário e fiscal de determinados empresários.
Esse trabalho nós vamos continuar. Vamos resgatar o que fizemos. Inclusive, queremos publicar, debater com a sociedade como se constrói essas narrativas do fascismo, que aqui é o bolsonarismo do atraso, e identificar os financiadores.
Essas pessoas precisam ser responsabilizadas e punidas pelo mal que causam à sociedade brasileira. Esse é um compromisso do PT. Eu acho que o governo tem instrumentos para fazer isso, porque é uma necessidade da democracia brasileira.
Já tem medidas sendo tomadas pela Advocacia-Geral da União, Ministério da Justiça, Secretaria de Comunicação no combate a fake news e seus financiadores, berço dessas ideias autoritárias do fascismo”.
Eleição na Câmara e Senado
“Temos condições de ter governabilidade. Com os partidos de esquerda e centro-esquerda, precisamos compor uma base estrutural para votar os projetos importantes para o Brasil”.
Da Redação