A Polícia Federal não pode ser utilizada como instrumento político, seja para perseguir adversários do governo ou proteger apoiadores. A crítica é da deputada federal e presidenta nacional do Partido dos Trabalhadores, deputada Gleisi Hoffman (PR). Ela participou de programa ‘Debate 360′, da rede CNN com o deputado Vitor Hugo (PSL-SP). Os dois discutiram, entre outros temas, a operação Placebo da PF, o auxílio emergencial de R$ 600 à população durante a crise sanitária e a falta de foco do governo no enfrentamento da pandemia. Gleisi enumerou os erros do presidente Jair Bolsonaro na condução da crise, cobrou medidas de proteção ao trabalhador e pediu esclarecimentos quanto ao uso da PF como instrumento político.
A deputada se referiu à deflagração da operação da PF que levou a uma busca e apreensão no Palácio das Laranjeiras, residência oficial do governador do Rio de Janeiro, e no escritório de advocacia onde trabalha a mulher de Wilson Witzel. A operação ocorreu um mês após a reunião ministerial de 22 de abril, quando Bolsonaro reclamou da atuação da PF e xingou governadores, incluindo Witzel. Gleisi lembrou que, desde o famigerado encontro palaciano, Bolsonaro subiu o tom em relação a adversários políticos e vem escalando os ataques aos governadores do Rio e de São Paulo.
“Um mês depois da reunião, da intervenção que ele disse que iria fazer na área de segurança, a Polícia Federal, já com uma nova direção, faz essa ação no Rio de Janeiro. Me parece que política foi um fator importante para pautar a polícia. Isso é preocupante”, afirmou a líder petista. Gleisi destacou a necessidade de se esclarecer as coincidências entre os episódios.
A deputada ressaltou ainda que o caso já estava sendo investigado pela Polícia Civil do Rio de Janeiro. “Eu me pergunto o que fez Sérgio Moro, que era ministro da Justiça à época. Por que Morou não agiu? Muitas coisas precisam ser esclarecidas”, questionou. Gleisi também disse esperar que o Palácio do Planalto não use o episódio para perseguir outros governadores que estão empenhados no combate à pandemia e na proteção da população. “É um governo cheio de armações”, criticou.
Bolsonaro despreza vida
Para a presidenta do PT, está claro, depois da divulgação do vídeo da reunião, que o governo não tem interesse no enfrentamento do coronavírus. “Já tínhamos uma crise em ascensão, milhares de mortes. E não se discutiu a crise, não se discutiu a saúde, não se discutiu a vida do povo, não houve solidariedade pelas mortes”, lamentou.
“O presidente da República só queria saber de armar a população e salvar sua família, seus filhos e seus amigos. Esse foi o recado da reunião, é um governo que olha para o umbigo, não tem capacidade administrativa, política, não consegue se colocar do lado do povo e não traz resultado para a população”, argumentou. “O Brasil está entre os primeiros lugares de mortes por dia, e tudo o que o presidente da República diz é ‘e daí?’ e manda as pessoas se exporem ao vírus”.
Auxílio emergencial para o povo
A deputada destacou ainda que o governo não tem projeto para salvar a economia. “Qual é o projeto? ferrar as pequenas empresas, como sugeriu o Paulo Guedes?”, indagou. Em resposta ao comentário de Vitor Hugo de que o governo está fazendo o possível para proteger empregos e salvar vidas, citando o anúncio de um pacote de investimentos, a presidenta do PT retrucou: “Onde está? O mais efetivo até agora foi a renda emergencial e não foi proposta de vocês. Bolsonaro e Guedes queriam dar R$ 200”, lembrou. “Estão se lixando para o povo, para as pequenas empresas, para a saúde”.
Gleisi ressaltou que o crédito para micro e pequenas empresas não é liberado porque o governo cria empecilhos burocráticos, como a exigência de uma folha de pessoal bancarizada. “Pergunta se um restaurante que paga a cozinheira, os garçons no final de semana consegue bancaria a folha? A verdade é que esse governo fala muito e faz muito pouco”, disse.
A presidenta do PT destacou ainda que a bancada do partido no Congresso defendeu o auxílio emergencial de R$ 1.045, um salário mínimo, para os trabalhadores durante a pandemia. “O que nós queremos é que a população tenha renda. Estamos defendendo a extensão do prazo [do auxílio] para o final do ano, a população precisa de proteção. Se Bolsonaro quisesse proteger o povo, estenderia o benefício e não deixava apenas um banco fazer o pagamento. Colocaria outros bancos para o povo não ficar humilhado, esperando nas filas”, criticou.
Atentado contra o trabalhador
Gleisi também comentou o ataque ao trabalhador disfarçado de ajuda na Medida Provisória 936, que autoriza acordos para redução de jornada de trabalho e salário diante a crise sanitária. “É uma medida do desemprego, deveria ter vergonha de fazer propaganda dela. Onde já se viu reduzir o salário das pessoas numa crise como essa? Tem gente que está com até 60% do salário reduzido”, protestou.
A deputada reafirmou que o partido é contra a medida e apresentou proposta alternativa: o governo banca parte dos salários, a exemplo do que fizeram outros países, como EUA, França e Inglaterra.
A presidenta do PT reiterou que o Brasil não quebrou porque os governos do partido deixaram uma reserva de US$ 378 bilhões e criticou a proposta de Bolsonaro de reduzir o auxílio emergencial para R$ 200, após o pagamento da terceira parcela. “Usem as reservas, salvem o povo brasileiro, lavar as mãos é uma vergonha. O presidente deveria ter vergonha de anunciar um negócio desse”.
Planalto sem estratégia para o país
Perguntada sobre o Plano Pró-Brasil, no contexto da reunião do dia 22 de abril, a deputada afirmou que o governo não avançou nas estratégias para a retomada do crescimento brasileiro. “O que eu vi foi o general Braga Neto ser desautorizado e até desrespeitado pelo Paulo Guedes, que praticamente pediu para que não se discutisse mais o chamado Pró-Brasil. E não se discutiu mais”, afirmou.
“A única coisa que se discutiu de concreto, que o Paulo Guedes trouxe para a questão da economia, foi trazer os cassinos, a jogatina para o Brasil”, apontou. “Quem vê a fala do Paulo Gudes tem vergonha”. Segundo a deputada, para um governo que defende “Deus acima de tudo”, a reunião não foi nada cristã. “A quantidade de palavrão, as ameaças, [planos] de armar o povo, trazer jogatina para o Brasil, onde é que isso está ligado ao preceito cristão?”, indagou.
Da Redação