Mais do que comentar os resultados da última pesquisa do Instituto DataFolha, divulgada no sábado (2), é importante refletir sobre os motivos do favoritismo incontestável do Presidente Lula nas sondagens para as eleições de 2018. Além de crescer na liderança das consultas eleitorais em todos os cenários, Lula também dispara e consolida ampla vantagem sobre todos os demais pré-candidatos em um eventual segundo turno.
Chega a ser compreensível, mas jamais justificável, a surpresa de parcela da sociedade com a popularidade de Lula. As disputas políticas no Brasil nunca se deram em uma arena justa e nem foram um caminho fácil e tranquilo para ser trilhado por Lula e pelo PT. Lula é o alvo de uma campanha sistemática e violenta de ataques à sua imagem, sua pessoa, aos membros de sua família e também ao legado de seu governo na melhoria de vida da população brasileira.
A leitura tendenciosa e contaminada pelo ambiente das disputas políticas sempre foi um vetor de desqualificação dos avanços dos governos do PT ou mesmo da invisibilidade nos noticiários da importância e da efetividade dessas políticas de inclusão social na transformação da realidade brasileira.
Esta semana, a ex-ministra do Desenvolvimento Social do Governo Dilma, Tereza Campello, lançou um livro “As faces da desigualdade – Um olhar sobre os que ficam para trás”, no qual discorre com precisão científica e aprofundada sobre as causas e efeitos da desigualdade no Brasil, suas dimensões para além dos comparativos patrimonial e de renda monetária e, ainda, sobre o que representaram de fato as políticas inclusivas dos governos de Lula e Dilma e os investimentos na proteção social do nosso povo entre os anos de 2002 e 2015.
O Brasil ainda é um dos países mais desiguais do mundo. Há muitos desafios e muitas dívidas sociais ainda pendentes. O golpe que destituiu do poder a Presidenta Dilma e os interesses por trás das medidas tomadas pelo governo que está aí desde então, tem imposto um estado de exceção autoritário e antidemocrático ao País, com graves retrocessos: um estado de desigualdades.
O golpe trouxe um desmonte criminoso na reversão dos níveis profundos de desigualdade que estava em curso desde 2003 e que freava um ciclo histórico de exclusão e de injustiça social. As políticas dos governos do PT impactaram na desnaturalização da pobreza e das discrepâncias, provando que a desigualdade social em toda a sua complexidade não é algo dado e irreversível. Ela pode e deve ser mudada com vontade política e com intervenções de um estado forte, presente e responsável.
Em pouco mais de uma década, o aumento real do salário mínimo, a formalização do mercado de trabalho, a incorporação dos mais pobres no orçamento federal, a distribuição efetiva da renda, o Bolsa Família e suas condicionalidades, bem como a promoção de uma política social integrada, segundo Tereza Campello, explicam boa parte das transformações do período.
Mas ela lembra que as pessoas não são excluídas apenas sob o viés da economia. A exclusão nega-lhes todo o acesso a direitos, bens e serviços produzidos pelo conjunto da sociedade. Nega-lhes oportunidades de vida digna.
Para atuar efetivamente na problemática da desigualdade, é preciso enxergar outras questões determinantes, como acesso à água, saneamento básico, energia, à educação, saúde, moradia e a bens de consumo, que incrementam o mercado interno. Em uma comunidade no interior do Paraná, o simples acesso à energia elétrica por meio do Programa Luz Para Todos, por exemplo, representou a inserção de comunidades inteiras na produção de leite, produto que pode a partir daí, somado aos incentivos e créditos para a produção da agricultura familiar e camponesa, ser resfriado, comercializado, transportado e transformado.
Isso não é diferente da realidade em pequenas propriedades do semi-árido nordestino com a chegada de cisternas, a proteção de fontes ou mesmo a expansão dos investimentos na infraestrutura das comunidades.
“As faces da desigualdade no Brasil” são diversas e complexas. Os governos de Lula e Dilma atacaram e obtiveram resultados importantes e significativos em cada uma dessas frentes. Esse assunto não se esgota aqui. Temos ainda muito o que refletir a respeito e também muito o que fazer para recuperar o que foi perdido e transformar.
A pesquisa, objetivamente, aponta para esse caminho.
*Artigo inicialmente publicado no Blog do Esmael
Gleisi Hoffmann é senadora da República e presidenta nacional do Partido dos Trabalhadores (PT).