“Partidos de esquerda têm papel de radicalizar a experiência democrática”, defendeu a presidenta do PT, senadora Gleisi Hoffmann. Nesta segunda-feira (7) ela participou do primeiro dia do Seminário República e Democracia.
O evento organizado pela Fundação Friedrich Ebert, Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo e Instituto Novos Paradigmas, teve mediação de Tarso Genro.
Esteve presente o secretário-geral do PDT, Manoel Dias; o presidente da Fundação Lauro Campos, Juliano Medeiros; a Secretaria Nacional de Relações Internacional do PT, Mônica Valente; além de nomes como Silvio Caccia Bava, Cesar Oller Nascimeto, José Genuíno, Gilberto Maringoni, entre outros.
Hoffmann relembrou o histórico de formação da República e da Democracia no Brasil, que nas suas palavras levaram a um “Estado anêmico”.
“Tanto a República como a Democracia estão comprometidas pela profunda desigualdade social do Brasil”, afirmou a presidenta do PT.
“O predomínio do latifúndio, da escravidão e da monocultora consolidaram uma desigualdade muito grande. A desigualdade foi construída pelo sentido geral da colonização, com sentido de tirar o máximo no menor tempo possível.”
“Depois, a forma atrasada pela qual nós nos incorporamos ao capitalismo mundial, que elaborou uma nova forma de produção e reprodução da desigualdade, se somou à desigualdade da construção do Brasil.” Ela acrescentou que “essa história influencia grandemente a construção da República e de nossa frágil Democracia”.
Segundo Hoffmann, “prevalece no Brasil uma classe dominante que se apropria do Estado para interesse próprio, usa o público para o privado e, assim, o Estado é capturado para manter privilégios”.
Para Gleisi, o Estado acabou sendo gerido por uma alta burocracia que vê na estrutura estatal uma forma de se servir e servir aos seus interesses. “Se pegar o Judiciário ou o Ministério Público, vemos atentados à democracia e ao povo por parte de um grupo que ganha muito e sem pudor de pedir aumento.”
A presidenta do PT ressaltou que as instituições brasileiras são refratárias às políticas de promoção da igualdade porque o estado brasileiro foi construído a partir da desigualdade e ele reproduz desigualdade.
Ela também ressaltou que poucas exceções conseguiram intervir nesse quadro, como Getúlio Vargas, que criou a Petrobras e a Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT), e os governos de Lula e Dilma nos últimos anos.
“Esse governo, com todos os seus problemas, durou quatro mandatos e, para tirá-lo, houve um golpe. Claro que a retirada trouxe com violência as políticas neoliberais, que foram entre 1970 e 1980 contrapostas ao Bem-Estar Social com políticas técnicas que deveriam ser afastadas das decisões políticas.”
“A ofensiva mundial foi grande, mas, no Brasil, quando acontece, é pior por conta do Estado anêmico brasileiro. Vemos essa ofensiva com Thatcher, Pinochet, Reagan. Tudo tem que ser ligado ao capital, desregulamentação do sistema financeiro e sobreposição do sistema financeiro ao sistema produtivo. É a face mais cruel do capitalismo.”
Hoffmann ainda abordou como o Estado de Bem-Estar social era visto como padrão civilizatório do capitalismo, mas na falta de uma contraposição ao sistema capitalista, como foi o socialismo real.
“O povo se tornou detalhe estatístico que não é levado em conta por essa gente. A pobreza volta a ser maior e as democracias passam a ser de fachada porque não asseguram mais os direitos civis e econômicos a todos. Quando muito, direitos políticos e liberdades formais, que não são para todos.”
A presidenta do PT também destacou que, com a ascensão de um populismo de direita por todo o mundo, “a esquerda só retoma seu protagonismo quando ela coloca claramente seu programa”.
“As pessoas têm que ver sentido na política. Aqui no Brasil, a situação não é diferente, é até mais difícil pela nossa debilidade democrática. O que nós temos no Brasil é uma república que não é efetiva. Temos república e democracia de fachada.”
Ela defendeu que “os partidos de esquerda têm o papel de radicalizar a experiência democrática. Reforma do sistema financeiro, regularização da mídia. Precisamos buscar algo como a geringonça de Portugal. Precisamos claramente de uma reforma política com constituinte exclusiva”.
Gleisi ainda ressaltou o perigo de uma radicalização da direita, que, ao não conseguir disputar na democracia formal, pode gerar uma crise para apresentar uma solução autoritária.
Da redação da Agência PT