A resolução aprovada após a reunião do Diretório Nacional do PT, realizada nesta sexta-feira (22), materializa o que o partido já tinha como prioridades urgentes diante da atual conjuntura política brasileira: a mobilização permanente contra a reforma da Previdência e o fortalecimento da campanha pela libertação de Lula com ações em praticamente todo o país – no dia 7 de abril, dia em que a prisão política completa um ano, Curitiba será o palco de ato nacional pelo ex-presidente.
Para a presidenta Nacional do PT, deputada Gleisi Hoffmann, o posicionamento do partido será, via de regra, barrar todo e qualquer novo retrocesso imposto por Jair Bolsonaro – o partido lançou, logo após a reunião, a Campanha Contra a reforma da Previdência com iniciativas que se estenderão por tempo indeterminado. “Nós entendemos que este não é o momento para se fazer uma reforma da Previdência. Isto não quer dizer que o sistema não precise de ajustes. Nós fomos governo e fizemos uma reestruturação da Previdência. O problema é que o que eles querem fazer não é uma reforma. O que eles querem é promover a destruição da Previdência”, reiterou a parlamentar durante coletiva concedida no final da tarde desta sexta.
Gleisi, no entanto, é contundente ao explicar a importância incontestável de todos os partidos que formam a frente progressista no Congresso no enfrentamento ao desumano projeto apresentado pelo Executivo: “Nós vamos definir na próxima terça-feira (26 de março) qual vai ser a nossa estratégia dentro do Parlamento. O fato é que PDT, PCdoB, Rede PSOL já se manifestaram posição contrária à reforma. Mas a maneira como iremos fazer isso será debatida em conjunto”.
Sobre os pontos do projeto que podem agravar a situação econômica e social do país, a presidenta destaca a sugestão de transferir para o setor privado toda a responsabilidade sobre a aposentadoria do trabalhador e trabalhadora brasileiros, o famigerado regime de capitalização: “A capitalização privada é uma das maiores crueldades da proposta. Você vai ficar responsável pela própria aposentadoria sem contrapartida dos patrões e do Estado. Quando você estiver desempregado quem vai pagar o seu sistema de capitalização? (…) Esta reforma interessa ao sistema financeiro, aos bancos, que vão passar a gerir um grande recurso a partir da capitalização.”, questiona.
Desgoverno em ruínas
A presidenta do PT também falou na coletiva de imprensa sobre a lamentável falta de articulação do governo de Jair Bolsonaro para lidar com o Congresso. “Além da capacidade diminuta de diálogo entre o Executivo com o Parlamento, como temos visto diariamente desde o início deste governo, tem a parte da impopularidade da reforma. Como o deputado vai chegar para a base dele e falar “olha, eu vou lá retirar os seus direitos, você vai ter que se virar, vamos aumentar idade mínima para se aposentar, o tempo de contribuição… É difícil um parlamentar fazer isso”, ilustra.
Mesmo diante de governo que está apenas em seu terceiro mês e já mostra um enfraquecimento cada vez mais agudo, baixar a guarda está fora de cogitação, insiste Gleisi. A campanha contra a reforma ficará permanentemente na rua. Nós vamos começar a partir da próxima segunda uma série de iniciativas contra a reforma. Também orientamos os nossos diretórios a realizarem audiências nas câmaras e aprovarem moções contrárias. Nosso pessoal vai tomar esta iniciativa. Também estamos preparando uma campanha muito forte em todas as redes sociais”.
O líder do PT no Senado, Humberto Costa, que também participou da coletiva, também falou sobre os problemas que Bolsonaro e seus asseclas terão de enfrentar para levar adiante a destruição da Previdência. “Os senadores não vão abrir mão de discutir a reforma. De forma nenhuma a gente vai aceitar qualquer interferência. Pelo que temos visto, pela própria postura do Executivo, o governo não vai ter vida fácil para aprovar esta reforma”, completou.
Lula Livre
A campanha pela libertação do ex-presidente Lula tem ganhado cada vez mais adeptos no Brasil e no mundo – basta notar a crescente onda de manifestações contra a sua prisão política tanto por aqui quanto em países da América Latina, Europa, além dos EUA. Mas é no próximo dia 7 de abril, quando começa a Jornada Lula Livre, cujo grande ato acontecerá em Curitiba.
A iniciativa é parte da reorganização das estratégias de mobilização dos comitês populares espalhados por todas as regiões da nação e reativa e fortalece a campanha Lula Livre lançada ano passado. “Vamos pra rua. Presidente Lula, vamos provar a sua inocência. Essa caminhada vamos fazer juntos. Vamos ocupar as ruas de todo o Brasil e lutar pela soberania, pela liberdade de Lula, contra a reforma da Previdência e pela democracia”, anunciou a presidenta do PT, deputada Gleisi Hoffmann.
Temer e Lava Jato
Perguntada sobre a prisão de Michel Temer em nova operação da Lava Jato no Rio de Janeiro, Gleisi não deixou dúvidas sobre o posicionamento do partido – que já havia se manifestado por meio de nota oficial. Temer prestou um papel deplorável à democracia brasileira ao se sujeitar a ser o objeto de um golpe de estado. Politicamente e economicamente não tem nenhuma defesa. É lamentável. Ele está escrito numa página muito feia da história política brasileira”.
Isso não quer dizer que, reafirma Gleisi, “a gente analise os processos judiciais de acordo com quem ele se aplica. Lei é lei. Existe um procedimento legal que deve ser seguido. O que a gente tem visto na Lava Jato é a utilização de mecanismos judiciais para fazer política, para disputar poder e protagonismo. Tanto que o Ministério Público estava criando uma fundação para financiar suas atividades. A troco do que?”
Por fim, a presidenta lamenta mais uma “atuação pirotécnica” do Judiciário brasileiro. “Nós repudiamos este tipo de coisa seja contra quem for. De novo uma ação que tem intenção midiática, de novo baseada em delações. Ou seja, nós estamos sem estabilidade jurídica no Brasil. E isto é muito ruim para o país”, concluiu.
Confira a entrevista na íntegra:
Por Henrique Nunes da Agência PT de Notícias