A presidenta nacional do PT, Gleisi Hoffmann (PR), disse que a luta contra o afastamento de Jair Bolsonaro da Presidência da República passa por novas eleições presidenciais e uma guinada na agenda econômica. Ela reiterou que é contra a permanência de Hamilton Mourão à frente do país, caso o Congresso Nacional aprove o impeachment do presidente. “Vamos lutar por eleições diretas para presidente em 90 dias. Não basta tirar Bolsonaro e deixar o Paulo Guedes com sua política que vai levar o Brasil à quebradeira. Vamos chegar a uma queda no PIB de 8 pontos em 2020”, denunciou Gleisi, em entrevista ao UOL.
A deputada advertiu que o Brasil atravessa um momento difícil e se queixou da condução de Bolsonaro da crise política e econômica, lembrando que as dificuldades econômicas estão atingindo amplos segmentos da população, de trabalhadores autônomos a micros e pequenos empreendedores. Ela ainda considerou que Bolsonaro age de maneira irresponsável à frente da pandemia do novo coronavírus, que já matou mais de 37 mil brasileiros e infectou 700 mil pessoas no país.
Gleisi citou a falta de empenho da equipe econômica em liberar recursos para a manutenção dos negócios e lamentou que o desemprego esteja crescente, tendo atingido diretamente mais de 13 milhões de trabalhadores. “No Brasil 70%, da população vive com dois salários mínimos”, citou a deputada. Ela alertou que desigualdade no Brasil se agravou com a pandemia, que não é enfrentada pelo governo, que atua de maneira irresponsável e criminosa.
A deputada disse que o país hoje tem um governo militarizado, que não consegue administrar tantas crises, com dezenas de egressos das Forças Armadas ocupando cargos no primeiro e segundo escalão na Esplanada dos Ministérios. A situação é grave e preocupante. Por isso o PT apresentou uma Proposta de Emenda Constitucional para a convocação de eleições gerais em caso de impeachment do presidente. Ela saudou a crescente onda de pessoas e líderes políticos que perceberam o risco de uma derrocada da democracia, caso Bolsonaro permaneça à frente do Palácio do Planalto.
PT foi forjado na luta democrática
“O PT é a favor de todas as manifestações em defesa da democracia”, disse a deputada. “O PT nasceu da luta pela democracia, da luta dos trabalhadores. Defendemos um manifesto que trate do povo e coloque o povo no centro do debate. Os mais afetados pela pandemia são justamente os mais pobres”, disse. Segundo a presidenta do PT, só a luta pelo impeachment e uma nova eleição para presidente podem recolocar o país nos trilhos e apontar o rumo de uma saída para as crises política, econômica e sanitária. “A cabeça do Guedes não é a cabeça da Nação, é a de uma parcela da população apenas, de uma minoria”, ressaltou.
O PT moveu duas ações no Tribunal Superior Eleitoral que pedem a cassação da chapa presidencial eleita em 2018, formada por Bolsonaro e Mourão, pelo uso de fake news, abuso do poder econômico e disparo massivo de mentiras lançadas contra o candidato da legenda, Fernando Haddad, adversário político do presidente. Ela lembrou que o PT vem denunciando desde antes das eleições o caráter autoritário e fascista de Bolsonaro, eleito com a ajuda de empresários que o ajudaram na estratégia ilegal que combinou a manipulação das redes sociais com mentiras e fartos recursos.
Gleisi também alfinetou forças políticas que desdenharam da construção de uma aliança no segundo turno das eleições em 2018 e agora defendem a formação de uma frente contra o bolsonarismo. “A trajetória de FHC e do PSDB desde 2014, depois da eleição da Dilma, foi uma trajetória para desestabilizar o país. Não aceitaram o resultado da eleição, operaram contra o mandato da presidenta Dilma para desestabilizar e operaram o impeachment… Quem pensou todo o processo de impeachment (de Dilma) sem crime foi o PSDB”, criticou.
A autocrítica tucana
A parlamentar disse que líderes tucanos, como o hoje deputado Aécio Neves (PSDB-MG), precisam fazer uma autocrítica porque Bolsonaro está no poder e eles têm uma responsabilidade diante desse quadro. Sobre Ciro Gomes, que tem feito duras críticas contra o PT e o ex-presidente Lula, Gleisi ironizou a cobrança do pedetista sobre a ausência do petista nas manifestações em favor da democracia. “O PT não precisa assinar um manifesto para ser a favor da democracia”, destacou.
Gleisi afirmou que, se o PT é um partido tão irrelevante, como apontam os críticos, por que Ciro Gomes insiste no apoio da legenda, de Lula e dos petistas para lançar-se novamente na corrida pela cadeira no Palácio do Planalto. “A capacidade do Ciro é de 10 a 12 pontos percentuais. Ele precisaria do PT? A força do PT que determina isso? Se qualquer liderança precisa da força do PT (nas urnas), então é preciso reconhecer que quem tem força é o PT”, disse, respondendo às perguntas dos jornalistas Tales Faria e Thaís Oyama, colunistas do UOL.
Na entrevista, Gleisi saudou as manifestações de setores da sociedade civil brasileira que se incorporaram à onda de protestos e desaprovação a Bolsonaro. Ela lembrou que, no mês passado, a legenda se juntou a outros seis partidos políticos – PSOL, PCdoB, PSTU, UD, PCO e PCB – além de 400 entidades da sociedade civil, juristas e líderes de movimentos sociais, para dar entrada no impeachment do presidente. “Quem está isolado?”, questionou a deputada.
A responsabilidade de Moro
Ela também bateu no ex-ministro da Justiça, Sérgio Moro, que abriu uma dissidência no bolsonarismo e vem atacando o presidente da República. “Hoje faz um ano da Vaza Jato. Nenhuma medida foi tomada em relação às revelações sobre o papel dos procuradores e de Sérgio Moro na manipulação judicial”, questionou. “Sérgio Moro é responsável por Bolsonaro. Ele processou, prendeu e proibiu Lula de ser candidato e apresentou a delação de Palocci. Acho que Bolsonaro tem que beijar o chão que Moro pisa”, ironizou.
Gleisi rebateu as insinuações de que haveria uma contradição entre as críticas a Moro e ao fato de o PT ter aproveitado as denúncias do ex-ministro contra o presidente. “Entramos com queixa-crime contra Bolsonaro e Moro por prevaricação. Ele viu tudo que Bolsonaro fez e só denunciou um ano e meio depois. Ele participou de diversas daquelas reuniões que a gente viu. Na hora em que ele viu que estava difícil, saiu. Confessou um crime e pediu um seguro, isso nunca aconteceu no Brasil”, lamentou.
Da Redação