Após David Miranda publicar um artigo crítico à cobertura da grande imprensa contra Dilma Rousseff no “The Guardian” – um dos jornais mais prestigiados da Inglaterra – há uma semana, surgiu na caixa de comentários do site do periódico uma inusitada resposta do vice-presidente das Organizações Globo, João Roberto Marinho, rebatendo de forma furiosa as palavras do ativista. Nesta segunda, Miranda voltou a escrever sobre o assunto.
Em um longo texto, o brasileiro perguntou os motivos que levaram o herdeiro da Globo a ir ao site do “The Guardian” e se mostrou surpreso com o tom. “João respondeu com raiva – e com óbvias mentiras”, disse Miranda. Ele afirmou que a resposta do representante da família Marinho “está recheada de propaganda enganosa e de falsidades pró-impeachment, exatamente o que ele tenta negar que a Globo esteja fazendo”.
O ativista discorreu sobre o papel da Globo no golpe militar de 1964 e no apoio ao regime autoritário nos anos que se seguiram, “fazendo o papel de grande meio de propaganda da brutal ditadura”. Para ilustrar, David Miranda lembrou que a cobertura jornalística da Globo chegou a dizer que as manifestações pelas Diretas-Já em São Paulo, em 1984, seriam uma festa pelo aniversário da cidade.
Enquanto isso, explica Miranda, a riqueza e o poder da família Marinho cresceram como resultado direto de sua servidão aos militares ditadores do Brasil.
Viés pró-impeachment
Miranda comprovou que o vice-presidente da Globo, na resposta ao seu artigo, tentou levar os leitores do “The Guardian” a crer que é a Operação Lava Jato que está por trás do impeachment de Dilma, em vez do que se convencionou a chamar de “pedaladas fiscais” – o que não é um crime de responsabilidade.
“A enganosa tentativa de João de confundir o público estrangeiro misturando a operação Lava Jato com o impeachment de Dilma exemplifica perfeitamente o tipo de fraude e o viés pró-impeachment que a Globo vem disseminando institucionalmente por mais de um ano”, afirmou.
“A sugestão de que a Globo é uma organização de notícias neutra e imparcial – ao invés de principal braço de propaganda da oligarquia brasileira – é cômica para qualquer um que já tenha assistido a seus programas”
Para exemplificar que a Globo não está preocupada com o combate à corrupção, mas “remover, antidemocraticamente, a líder que eles repudiam e instalar aqueles de sua predileção”, Miranda destacou o tom ameno que a emissora dedica ao presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, e ao vice-presidente Michel Temer.
“A sugestão de que a Globo é uma organização de notícias neutra e imparcial – ao invés de principal braço de propaganda da oligarquia brasileira – é cômica para qualquer um que já tenha assistido a seus programas”.
Com monopólio, sem liberdade
O ativista relembrou que os Repórteres Sem Fronteira colocaram o Brasil apenas na 104º posição no Ranking de Liberdade de Imprensa de 2016. Uma das principais justificativas para a posição é que “a propriedade dos meios de comunicação continua muito concentrada, especialmente nas mãos de grandes famílias ligadas à indústria que são, muitas vezes, próximas da classe política.”
Além disso, David Miranda explicou também que a audiência média da TV Globo em dias comuns – quase metade da população brasileira sintonizada em sua programação – é o tipo de audiência que, nos Estados Unidos, acontece uma vez por ano: no Super Bowl, a final do campeonato de futebol americano.
Para Miranda, o herdeiro da Globo combate artigos em jornais estrangeiros contra a cobertura política da Globo porque tem medo do que pode acontecer se a emissora perder o controle do fluxo de informação que os brasileiros recebem.
“Ele tem que parar de fingir que não está apoiando vigorosamente o impeachment. Tudo o que João escreveu mostra isso”, finalizou.
Da Redação da Agência PT de Notícias, com informações do The Intercept