O secretário de Administração e Finanças da Central Única dos Trabalhadores (CUT) do Rio Grande do Norte, José Teixeira da Silva, tem participado de atos contra o golpe na capital potiguar, e na noite de segunda-feira conversou com a Agência PT. Para ele, os interesses do capital concentrados nas regiões Sul e Sudeste do país querem se aproveitar da proximidade com o governo de Michel Temer (PMDB) para sequestrar os investimentos públicos que haviam sendo distribuídos mais igualitariamente pelo país pelos governos de Lula e Dilma.
“Esse ódio que é alimentado pela grande mídia do país, concentrada no Sudeste, envolve, também, a velha discriminação entre as regiões brasileiras. O Nordeste historicamente exportou ‘escravos’ para a elite do sul e sudeste do país. É o que está caracterizado naquela canção de Luiz Gonzaga, ‘triste partida’. Essa sempre foi a história”, pondera.
“Nossos trabalhadores tinham de ir pra São Paulo para não passar fome, mesmo vivendo em condições subumanas nos morros, sem acesso a energia elétrica, sem água. Assim surgiram as grandes favelas. Desde 2003, com o primeiro governo de Lula, o nordestino passou a ter a possibilidade de nascer, crescer e viver em sua própria terra, sem ser exilado. Muitos nordestinos que viveram no sudeste do país nos últimos anos estão voltando, mas, hoje, não sabemos até quando teremos um Nordeste pujante, que possa receber seus filhos. É lamentável”, completa Silva.
Durante os governos Lula e Dilma, investimentos em grandes obras do Programa de Aceleração do Crescimento, programas sociais de distribuição de renda e a política de valorização do salário mínimo, além do investimento na expansão do ensino técnico e universitário, deram início a um processo lento, porém inédito, de redução das desigualdades regionais do Brasil: o peso da região Norte no PIB passou de 4,7%, em 2002, para 5,4% em 2011. Já o do Centro-oeste subiu de 8,8% para 9,6%. O Nordeste avançou de 13% para 13,4%. Nesse mesmo período o Sul e o Sudeste perderam espaço na produção nacional de bens e serviços, passando de 56,7% para 55,4% e 16,9% para 16,2% respectivamente –mas ainda retendo praticamente três quartos da geração de riqueza nacional.
Apenas nas três edições do PAC durante os governos petistas, por exemplo, de 99 obras em hidrovias e terminais hidroviários, 61 estão no Norte e Nordeste. De 48 obras em ferrovias, 24 se localizam no Nordeste. De 396 obras em ferrovias, 177 se localizam nas regiões Norte e Nordeste. Das 18 novas universidades criadas pelos governos petistas, 9 se localizam nas regiões Norte e Nordeste. Essa prioridade no investimento em áreas de estrutura pública mais frágil, agora, está em risco.
Até mesmo um senador do partido de Temer reconhece: Hélio José (PMDB-DF), em entrevista a blogueiros, afirmou que o plano de governo do governo golpista não pertence sequer ao partido, mas aos empresários paulistas reunidos em torno da Fiesp. Paulo Skaf, presidente da Federação das Indústrias de São Paulo, foi um dos maiores agitadores do golpe. Ao longo do processo de desgaste dos governos petistas desde a eleição de 2014, lançou a campanha simbolizada pelo pato amarelo contra as medidas econômicas do governo contra a crise econômica internacional, ofereceu a estrutura física da Fiesp a manifestantes de direita e despejou dinheiro na mídia corporativa por meio de diversos anúncios publicitários de apoio ao golpe.
“Todos os brasileiros e brasileiras, as massas deste país, os trabalhadores, cidadãos e cidadãs bem intencionados, inclusive empresários que a vida inteira investiram na construção este país, estão se sentindo golpeados. É um golpe, como a presidenta Dilma passou o dia reafirmando”, lamenta José Teixeira da Silva.
“O orçamento para as universidades federais no próximo ano já está 40% menor. Mesmo com o crescimento da população, com problemas a resolver, e aí diminui o orçamento, quer dizer… esse orçamento serve à sociedade, serve aos filhos da classe trabalhadora, possibilidade que mais negros, jovens, mulheres possam chegar às universidades. Ou seja, com o golpe, vai ser menos universidade pública e mais universidade privada; menos instituto federal de ciência e tecnologia e mais Sistema S; vai ser menos SUS e mais incentivo aos planos privados de saúde. Essa é a grande preocupação que temos”, conclui o sindicalista.