O aumento na participação das mulheres na política é um dos temas mais relevantes para a construção de um futuro democrático que supere as desigualdades históricas de gênero no Brasil. Não para o ministro golpista das Relações Exteriores, José Serra.
Nesta segunda-feira (25), em visita oficial ao México, Serra tentou fazer piada com o tema, mas acabou revelando a verdadeira faceta do governo golpista de Michel Temer.
Ao lado da chanceler mexicana, Claudia Ruiz Massieu, Serra chamou a atenção para o fato de que quase metade do Senado do México é composta por mulheres.
“Devo dizer, cara ministra, que o México, para os políticos homens no Brasil, é um perigo porque descobri que aqui quase a metade dos senadores são mulheres”, disse o golpista Serra. “Quero muito que você vá [aos Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro], mas será um perigo porque chamará a atenção para este assunto.”
O assunto foi tratado como uma questão de Estado pelo governo da presidenta eleita, Dilma Rousseff, que criou estruturas para cuidar da valorização das mulheres e combater as desigualdades de gênero no país.
Mas, ao assumir, o governo golpista de Temer montou um ministério sem nenhuma mulher no alto escalão, além de extinguir a Secretaria de Política para as Mulheres, que tinha status de ministério com Dilma.
A declaração de Serra se deu no dia seguinte ao Dia Internacional da Mulher Negra-Latina-Americana e Caribenha. A data foi criada para estimular e ampliar a reflexão sobre o racismo e o modelo de desenvolvimento socioeconômico que produz maior impacto negativo na vida das mulheres negras, indígenas, afro-indígenas, imigrantes e refugiadas.
Em seu site, o jornal argentino Infobae, um dos mais relevantes da América Latina, estampou notícia crítica ao comportamento de Serra. A publicação chamou de “desafortunada piada machista” a fala do ministro golpista.
De fato, os números da violência contra as mulheres nos dois países exigiriam de um ministro de Estado um posicionamento mais crítico e comprometido com a transformação da realidade feminina. Pesquisa de março deste ano realizada pelo Instituto Nacional de Estatística (INEGI) do México, e publicada pelo “El País”, revela que 72% das mulheres da Cidade do México (capital do país) disseram já ter sofrido algum tipo de violência sexual —número que cresce para 78% na faixa etária entre 20 e 29 anos.
No Brasil, as estruturas de Estado criadas nos governos do PT de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff iniciaram um processo fundamental para mudar a realidade das mulheres brasileiras. Uma das iniciativas, o Ligue 180, da extinta Secretaria de Políticas para as Mulheres, registrou altos índices de violência em 2015, entre os meses janeiro e outubro.
As informações do Ligue 180 indicam que 38,72% das mulheres em situação de violência sofrem agressões diariamente, sendo que 33,86% sofrem agressão semanal. Além disso, 85,85% dos casos corresponderam a situações de violência doméstica e familiar contra as mulheres. Em 67,36% dos relatos, o agressor já teve algum vínculo afetivo com as mulheres agredidas: companheiros, cônjuges, namorados ou amantes, ex-companheiros, ex-cônjuges, ex-namorados ou ex-amantes das vítimas.
Nesse contexto altamente adverso às mulheres, a declaração de Serra configura-se uma agressão direta à luta feminina, voltada à criação de mais espaços na política, menos desigualdade de gênero e combate mais eficiente, efetivo e eficaz à violência contra as mulheres.
Da Redação da Agência PT de Notícias