O Brasil completa vinte dias sem nomear um ministro da saúde diante da maior pandemia do século. Enquanto o país atinge mais de 500 mil casos, o ministério da saúde ainda não aplicou R$ 11,3 bilhões, que estão disponíveis para aquisição direta de insumos de saúde. E os estados e municípios linha de frente no combate à COVID-19, ainda não receberam até agora R$ 15 bilhões.
“A demora é porque a mortalidade da pandemia está, neste momento, periferizada e interiorizada. Temos um recorte de classe. Mortes de pobres, negros e mulheres (muitas nos serviços essenciais como a saúde). E para Bolsonaro essas vidas não importam”, afirma Eliane Cruz, coordenadora nacional do setorial de saúde do PT.
Esses são apenas alguns dos impactos da falta de competência e responsabilidade do governo Bolsonaro com a saúde pública. Depois dos ministros Mandetta e Teich, o presidente deixa claro que, não importa quem sente na cadeira, a diretriz é manter o país na rota do caos e da ignorância.
Na Atenção Básica, por exemplo, o protocolo de manuseio Covid-19 não se firmou — isso significa que não há uma política de combate ao vírus com capilaridade, que possa chegar nos lugares mais distantes onde há apenas um posto de saúde, ou com orientações precisas de prevenção, ou buscas ativas dentro de uma estratégia geral para proteger a população.
Eliane explica que a maior parte das ações está dedicada a hospitais e, apesar de esforços pontuais em unidades básicas de saúde que buscam tomar medidas, não há uma estratégia única e organizada — essencial para conter o avanço da doença no país.
Salvar vidas não é prioridade no governo Bolsonaro
“Apesar do colapso do SUS e do avanço da doença, a aplicação de R$ 460 milhões para a compra de ventiladores e respiradores continua parada”, revela Eliane.
Os profissionais da saúde, essenciais nessa guerra contra o vírus, também são o alvo do presidente, considerando a preocupante retenção de R$ 580 milhões para a aquisição de máscaras.
A falta de governança no ministro de saúde ganha ramificações preocupações. Em relação aos contratos, por exemplo, Cruz aponta que há muitas compras internacionais de insumos para testes; de respiradores e outros que não estão sendo priorizados.
A criminalização de gestores de saúde nos hospitais de campanhas, no setor de compras, em todas as áreas, também prejudica o andamento de políticas importantes para salvar a população e fragiliza, ainda mais, os governos estaduais e municipais que estão, de fato, tentando combater a pandemia.
Perspectivas trágicas
Eliane revela que, dentro de 8 a 10 semanas, com 1 mil mortes por dia, vamos atingir a trágica marca de mais de 100 mil mortes. “A tese de Bolsonaro é infecção rebanho, ou seja, se 70% da população for infectada chegaremos a 500.000 mortes segundo os cientistas da saúde”, explica Eliane. Quanto aos trabalhadores de saúde, há muita infecção e mortes, com reconhecimento do trabalho, mas pouco apoio institucional na ponta.
Para reverter esse quadro na área da saúde, Eliane reforça a necessidade de cumprimento da Constituição e compreensão da saúde pública enquanto direito e, administrativamente, a adoção uma estratégia que passe pela reorientação do parque de produção para produzir respiradores, testes, EPI, fila única de leitos para UTI, alojamentos para pessoas que precisam de isolamento e vivem em moradias com baixa condição de estrutura. “Saúde não é só hospital ou serviços de saúde, é – educação, renda, moradia, transporte, lazer, cultura, emprego – ou seja, é promoção de qualidade de vida”, finaliza.