O governo de Jair Bolsonaro (PSL) ordenou aos diplomatas brasileiros, que em reuniões internacionais, declarem “o entendimento do governo brasileiro de que a palavra gênero significa o sexo biológico: feminino ou masculino”. As instruções oficiais vieram do Ministério das Relações Exteriores do Brasil, conhecido como Itamaraty, chefiado pelo ministro Ernesto Araújo.
Em uma reunião na ONU e outra na Comissão Interamericana de Direitos Humanos da OEA, os diplomatas brasileiros receberam instrução de destacar para diplomatas de outros países a visão do governo do Brasil sobre gênero, segundo noticiou a Folha de S. Paulo.
Fontes do Itamaraty informaram à Folha que a instrução trata-se da retomada da definição tradicional de gênero. A coordenadora da Conectas Direitos Humanos, Camila Asano, criticou a medida e disse que a instrução pode “comprometer a credibilidade internacional do país”.
“Se tal ordem não for imediatamente revertida, o Brasil se unirá a diplomacias que propagam posições retrógradas em espaços internacionais, ignorando avanços nacionais e globais na luta contra desigualdades e preconceitos”, afirmou em entrevista à Folha.
A instrução vinda do Itamaraty se equipara a declarações feitas pelo atual Ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, e do próprio Jair Bolsonaro.
Araújo já chegou a criticar o globalismo durante um discurso, e afirmou que este conceito promove ideias como a “ideologia de gênero”, e também do “racialismo”, que para ele é a concepção da sociedade dividida em raças, além do ecologismo, definido pelo ministro como a ecologia transformada em ideologia.
Ernesto afirmou que o globalismo é ruim porque ele cria um mundo onde “você não tem mais nação, onde você não tem mais família, onde você não tem mais homem e mulher”.
Bolsonaro também ataca frequentemente o termo “ideologia de gênero”, ele chegou a afirmar durante sua visita a Washington, nos Estados Unidos, que “EUA e Brasil são irmanados na fé em Deus, no combate à ‘ideologia de gênero’, ao politicamente correto e às fake news”.
Camila Asano explicou que a instrução do Itamaraty pode causar impacto na concessão de refúgios pelo Brasil.
“Uma das razões para conceder refúgio é a perseguição, incluindo por questões de orientação sexual e identidade de gênero. Se o Itamaraty orienta seus diplomatas dessa forma, o Brasil pode se distanciar de países que acolhem refugiados perseguidos justamente por essas razões. Isso mancha a reputação do país como referência na agenda de proteção a refugiados”, finalizou.
Da Redação da Secretaria Nacional de Mulheres do PT com informações da Folha de S. Paulo