O senador José Pimentel (PT-CE) foi um dos últimos a falar na tribuna do Senado, antes do início da votação do impeachment da presidenta eleita Dilma Rousseff, nesta quinta (12). Pimentel iniciou seu discurso explicando o que de fato são os crimes que imputam a ela. Segundo o senador, a equalização da taxa de juros do financiamento da agricultura é o que permite que o Brasil seja hoje o segundo maior produtor de grãos do planeta, além de ter na agricultura uma das principais fontes de riqueza e geração de trabalho.
“Essa política vem desde 1992. Portanto, desde 92 que nós temos a política de subsídio à agricultura brasileira. É a Lei nº 8.427, e nesta matéria não tem participação do Senhor Presidente ou da Senhora Presidente da República. É um ato feito pelo ministro da Fazenda, cumprindo as regulamentações do Conselho Monetário Nacional. Portanto, falar de pedalada nessa matéria é, no mínimo, tentar enganar 205 milhões de brasileiros”, esclareceu.
Para Pimentel, o golpe tem o apoio da elite brasileira que, ao longo da história, sempre viveu enganando os mais pobres e os trabalhadores. “Não esqueçamos que essa elite foi a última elite das Américas a libertar os escravos, e na época diziam: ‘Não podemos libertar os escravos, porque eles não sabem trabalhar, eles não têm como sobreviver’. Esses negros sobreviveram e estão hoje nas universidades”.
O senador ressaltou que, em 2015, durante o governo de Dilma, 60% do subsídio à agricultura brasileira foi voltado para a agricultura familiar: “Nós apoiamos o agronegócio e a agricultura familiar; não tem diferença. E é exatamente por isso que aqueles que defendem o próximo ‘governo’, entre aspas, do Sr. Michel Temer, a primeira coisa que fazem é acabar com o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA). E nós sabemos que, até o final dos anos 90, tínhamos muitos conflitos na agricultura brasileira, tínhamos muitas dificuldades, mas, na hora em que nós organizamos o agronegócio no Mapa e a agricultura familiar no MDA, nós conseguimos desenvolver os dois setores, assegurar crédito”, afirmou.
“Fico aqui muito triste quando vejo vários Senadores que conhecem a agricultura familiar, é decisivo nos seus Estados, votando num projeto para impedir uma Senhora Presidenta que alavanque a agricultura familiar, mas, nos seus Estados, fazem outro discurso. E aquele que vai votar pelo impedimento da Dilma estará votando para acabar com o MDA, como está no projeto de governo do Sr. Michel Temer, que está chegando pela porta dos fundos.”
O senador também assinalou o desenvolvimento regional promovido nos governos de Lula e Dilma, com as obras do Rio São Francisco: “Só com Lula é que as águas do São Francisco estão chegando no Ceará, na Paraíba, no Rio Grande do Norte, no chamado Nordeste setentrional, e são esses projetos que essa elite não aceita”.
Acusações sem fundamento
Pimentel apontou a fragilidade das acusações contra a presidenta eleita, uma vez que segundo o próprio relator do processo, o senador Antônio Anastasia (PSDB-MG), em três dos decretos de suplementação orçamentária assinados por ela não houve nenhuma alteração na meta primária. Já os demais, eram relativos a remanejamento de verba, com impacto zero, portanto, para o orçamento.
Ao final de sua fala, o senador mencionou que o golpe foi resultado de uma chantagem e de um “parecer comprado” com o claro objetivo de tirar da presidência uma mulher honesta, séria e que não praticou nenhum crime . “Estamos afastando uma presidenta que não cometeu nenhum crime, e quem diz isso não sou eu, é o próprio relator – quem quiser ter o cuidado, está na página 99 do seu parecer, distribuído para todos os Senadores e Senadoras da República”, afirmou.
“Aqui, o que estamos fazendo é uma das maiores injustiças a que já assisti na minha vida. Sou advogado, acompanhei muitos casos, mas igual a esse só uma coisa assiste: a frustração, a vontade de ser governo, que disputou quatro eleições nacionais com o Partido dos Trabalhadores e que perdeu”, sentenciou.
Veja abaixo na íntegra: