A médica sanitarista Adele Benzaken não é mais a diretora do Departamento de Vigilância, Prevenção e Controle das Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs), do HIV e Hepatites Virais do Ministério da Saúde. Em uma conversa que durou duas horas, na manhã de quinta-feira (10), o novo secretário de Vigilância em Saúde da pasta, Wanderson Kleber de Oliveira, comunicou a demissão.
“Ele verbalizou, várias vezes, a questão da cartilha para homens trans, que tinha sido lançada em janeiro e foi amplamente divulgada pela própria assessoria de comunicação do Ministério da Saúde, através do Blog Saúde. Entretanto, logo após o início do novo governo, essa cartilha recebeu algumas críticas e mandou-se retirar do ar. Então, acredito que uma das razões foi essa”, disse a médica.
Benzaken é uma das especialistas mais respeitadas na área, com mais de 40 anos de experiência, e estava no Departamento de Vigilância desde 2016. Ela é autora da primeira cartilha de ISTs.
Prevenir epidemia
Segundo a médica sanitarista, a cartilha “Homens Trans: vamos falar sobre prevenção de infecções sexualmente transmissíveis?” foi elaborada pelo Instituto Brasileiro de Transmasculinidade (Ibrat). “O Ministério da Saúde deu todo o apoio a essa população, que é invisibilizada. Nós sabemos que a população trans é a que tem a maior taxa de prevalência no Brasil, e que é preciso trabalhar a educação com essa população, sob pena do Brasil ter, daqui a quatro anos, uma epidemia generalizada”, disse.
Em nota, o Ministério da Saúde justificou a retirada da cartilha “para adequações técnicas”. “Na página 13, há uma ilustração sobre uma técnica chamada pump. A imagem, no entanto, não é acompanhada de orientações sobre o uso adequado da técnica e os riscos associados. Sem informações adequadas, a prática pode trazer riscos à população-alvo da publicação”, diz a assessoria.
Diversas entidades e organizações não-governamentais (ONGs) que atuam no tratamento e prevenção às doenças sexualmente transmissíveis (IST/DST) manifestaram apoio à ex-diretora.
“Sem ofensa”
A exoneração aconteceu uma semana após o ministro Luiz Henrique Mandetta afirmar, em entrevista à Folha de S.Paulo, que o governo Bolsonaro iria estimular a prevenção à Aids “sem ofender às famílias”.
A médica publicou uma carta agradecendo o apoio da equipe e destacando os avanços que a diretoria conquistou nos últimos anos.
Médica formada pela Universidade Federal do Amazonas (1978), Adele Benzaken é doutora em Saúde Pública pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e dirigiu a Fundação de Dermatologia Tropical e Venereologia Alfredo da Matta (FUAM), entre 2007 e 2010. Entre os anos de 2008 e 2013, trabalhou no “Painel de Especialistas em DST, incluindo o HIV” da Organização Mundial de Saúde (OMS) e no Programa Conjunto das Nações Unidas para HIV/Aids no Brasil (Unaids/Brasil). Também assessorou a Organização Pan-Americana para a Saúde (Opas).
Por Saúde Popular