Nesta quinta-feira (15), o presidente Lula está em viagem ao estado do Paraná, para visitar duas fábricas no estado e anunciar R$ 3,2 bilhões em investimentos. Como sempre, aproveitou a oportunidade para conversar com a imprensa local e concedeu uma entrevista ao jornalista João Barbiero, da Rádio T, uma das principais emissoras da região. Na conversa, abordou temas relevantes, como a recuperação econômica, a taxa de juros e o atual estado do debate político.
Ao retornar a Curitiba, onde ficou encarcerado injustamente por 580 dias, o presidente contou da emoção de ser recebido no aeroporto por “uma companheira que trabalhava terceirizada na PF quando estive preso lá, e foi gentil comigo quando nem todo mundo queria ser”. E também se lembrou da vigília em frente à prisão, que todos os dias gritava seu nome, para que ele escutasse de sua cela. “Embora eu não a visse, o significado dela é enorme para mim”, afirmou.
“Eu me sinto bem em Curitiba. Tenho muitos amigos aqui, e o PT tem uma história importante na cidade, com relações políticas muito respeitosas, que nos deram uma liderança da qualidade política da Gleisi Hoffmann”, acrescentou, citando a presidenta nacional do PT e deputada federal pelo Paraná, que o acompanha na visita ao estado.
Visita a fábricas
No Paraná, Lula participa da retomada das operações da Fábrica de Fertilizantes Araucária Nitrogenados S.A. (ANSA), também conhecida como Fafen-PR, e do anúncio de investimentos de R$ 3,2 bilhões na Refinaria do Paraná (Repar). A volta da operação da ANSA, que havia entrado em estado de hibernação durante o governo passado, marca um passo importante na busca pela autossuficiência agrícola, fortalecendo o agronegócio nacional e reduzindo a dependência de importações.
“É um absurdo pensar que uma Fábrica de Fertilizantes Nitrogenados ficou anos parada. O Brasil precisa reduzir sua dependência da importação de fertilizantes. Eu duvido que alguém tenha feito mais pelo agro do que nós. Não faço isso para o fazendeiro gostar de mim; faço porque a agricultura é importante para o país”, afirmou Lula durante a entrevista.
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O presidente também visita a fábrica da Renault, reforçando a posição do Brasil como um mercado estratégico para a indústria automotiva, atraindo investimentos bilionários e garantindo milhares de empregos. Segundo ele, esses projetos são prova de que, mesmo diante das dificuldades, as empresas confiam no potencial do país.
Sobre os investimentos federais para o Paraná, Lula enfatizou a grande atenção dedicada pelos governos do PT ao estado. “Eu duvido que, na história do Paraná, tenha havido algum governo que investiu mais neste estado do que nós. Só na área de transportes, serão R$ 50 bilhões investidos. O crédito agrícola chegou a R$ 53 bilhões, e para a agricultura familiar foram R$ 8 bilhões”, afirmou.
Juros e política monetária
Ao ser questionado sobre a política do Banco Central, Lula criticou os elevados juros praticados no país, que estão entre os mais altos do mundo. No entanto, salientou que setores como o agronegócio e programas como o Minha Casa Minha Vida não são atingidos por essas taxas elevadas. “São os médios empresários, com dificuldade de acesso ao BNDES, ao BB, que pagam mais caro”, afirmou, destacando a necessidade de reduzir a Selic, permitindo que o dinheiro circule e crie um dinamismo na economia.
Lula também mencionou a pressão externa causada pela inflação nos Estados Unidos e a cotação do dólar, mas reafirmou seu compromisso com a estabilidade econômica, dizendo que trocará o presidente do Banco Central no fim do ano, mas não fará “loucuras para não levar a um desastre”.
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Presidencialismo e o papel do Congresso
Em seguida, a entrevista abordou o modelo político brasileiro, com Lula comentando que, apesar da nova Constituição ter sido promulgada com viés parlamentarista, o plebiscito optou pelo presidencialismo, o que gera distorções. Ele apontou a concentração de metade do orçamento nas mãos do Congresso como uma anomalia única no mundo, reconhecendo a importância das emendas parlamentares, mas criticando o excesso de recursos destinados a elas. “Quando tenho que tirar dinheiro de uma área pra pagar emenda, isso começa a dificultar. E o governo precisa governar”, alertou.
Lula também comentou sobre a gestão do governo Bolsonaro, afirmando que o país foi abandonado: “Guedes assumiu a economia e queria vender tudo. E o Congresso acabou assumindo o controle do orçamento”.
Boas relações com quem pensa diferente
O presidente reforçou, mais uma vez, que trabalha pelo Brasil, e não para favorecer aliados. Lembrou de quando lançou o novo PAC e reuniu prefeitos e governadores de todo o Brasil: “Quero que me apresentem as obras prioritárias para o estado de vocês”. Só o estado do Paraná, que tem um governador de oposição, recebeu mais de R$ 5 bilhões em créditos agrícolas.
Lula também falou sobre o que acontece na Venezuela nesse momento. “Não é bom que o presidente de um país dê palpite em outro”, disse. “Ainda não reconheço o resultado. Maduro deve uma explicação pra Venezuela e pro mundo. É preciso apresentar os dados por um órgão confiável. Brasil e Colômbia estão trabalhando para procurar uma saída, como um governo de coalizão.”
Desafios na comunicação política
A conversa também trouxe à tona a deterioração do debate político nas redes sociais, com Lula criticando as pessoas que vivem de inventar mentiras e maldades nas discussões online. “Chegamos à era do fim do argumento. As pessoas não dão importância pro argumento (…) Existem candidatos que conseguem 1 ou 2 milhões de votos, mas eles alimentam essas fake news, não participam de discussões políticas”.
Sobre o recente debate entre candidatos à Prefeitura de São Paulo, marcado por uma acalorada discussão entre os candidatos Guilherme Boulos e o coach bolsonarista Pablo Marçal, que estava ali apenas para provocar, sem apresentar nenhuma proposta, o presidente aconselhou: “Boulos não tem que responder esse cidadão. Não tem que perguntar e nem responder”. Em um tom mais otimista, incentivou a juventude a não desistir da política: “o político honesto que você procura pode estar dentro de você”.
Lula aproveitou para anunciar que, no dia 24 de setembro, convocará uma reunião na ONU com presidentes de todo o mundo para defender a democracia, “tão importante que garantiu que um metalúrgico tenha chegado 3 vezes à presidência da república. ”.
Por fim, o presidente compartilhou sua visão sobre envelhecimento e liderança. “Eu sempre digo: a velhice só chega pra quem não tem uma causa (…) Não tem tempo ruim pra mim”, declarou, revelando sua rotina de exercícios diários e o desejo de viver até os 120 anos. Por fim, concluiu destacando seu compromisso com o país, afirmando que sua obsessão é cuidar das pessoas, especialmente das mais frágeis.
Da Redação