Ao chegar à Presidência da República, o ex-presidente Lula se tornou um símbolo – representa a competência e a possibilidade de ascensão de qualquer cidadão pobre e excluído. E é exatamente isso que as elites nunca aceitaram. E é por isso que precisam, não julgar e condenar o ex-presidente, mas aniquilá-lo. É preciso destruir o exemplo para que nunca mais nenhum pobre desse país ouse acreditar que também pode. Pode guiar a própria vida, pode até chegar ao comando dos destinos do país.
E, para tornar o problema ainda mais grave para nossas elites reacionárias, Lula ousou ser o melhor presidente que o Brasil já conheceu, ao trabalhar em função dos mais pobres. Excluídos como ele um dia foi. Em seu primeiro dia de governo, disse que ficaria feliz se, ao final do mandato, cada brasileira e cada brasileiro pudesse fazer três refeições por dia.
Fez muito mais que isso. Retirou nada menos que 36 milhões de brasileiros da miséria, e o país do Mapa da Fome. Entre 2002 e 2014, caiu em 82% o número de pessoas subalimentadas. Tudo isso foi feito com um programa que atende 25% da população, mas custa ao Estado 0,5% do Produto Interno Bruto (PIB) e virou um modelo copiado no mundo inteiro.
Pela primeira vez na História, populações pobres do meio rural (14 milhões de pessoas) tiveram acesso à energia elétrica, por meio do programa Luz para Todos. Com a construção de cisternas, 4,6 milhões de sertanejos puderam se ver livres das misérias provocadas pela seca.
Acusado pelas elites de ser analfabeto, foi o presidente que mais trabalhou pela educação. De R$ 16,6 bilhões em 2002, o orçamento do Ministério da Educação saltou para R$ 92,6 bilhões em 2014. Os resultados são impressionantes. As universidades federais saíram de 45 para 63, enquanto o número de campi saiu de 148 para 321 no período. Programas de bolsas garantiram acesso ao ensino superior a mais de quatro milhões de estudantes pobres. No Prouni, foram 1,46 milhão de bolsas entre 2004 e 2014, enquanto no Fies, a quantidade de beneficiários chegou a 2,6 milhões em 2017.
Mas a ousadia desse retirante nordestino foi ainda maior – ele se atreveu a defender a soberania brasileira. Desafiou as grandes potências do capitalismo central ao propor novas relações de poder com a união dos países da periferia – da África, da Ásia, da América Latina. Com isso, o Brasil articulou espaços próprios de influência, como o Brics, e nunca foi tão respeitado no cenário internacional.
Contrariou os interesses estrangeiros também ao proteger nossos recursos naturais, principalmente o petróleo do pré-sal. Para isso, alterou a legislação de modo a garantir que a Petrobras e o Estado brasileiro ficassem responsáveis pelas decisões estratégicas relacionadas à exploração dessa riqueza. Essa lei, não por acaso, foi a primeira a ser alterada assim que Michel Temer assumiu o poder.
Por sua trajetória e por sua ação como presidente, Lula foi o primeiro a tentar romper as correntes que até hoje nos prendem à escravidão. Fez isso ao mostrar que, ao contrário do que sempre pregaram as classes dominantes, os pobres não são piores, não têm menos potência criativa. Ao contrário. Podem ser até mais capazes. Afinal, foi isso que provou Lula, que partiu do nada, fugindo da miséria e da fome na carroceria de um caminhão do sertão nordestino, e chegar à Presidência da República.
Lula representa a possibilidade de emancipação. Emancipação das massas exploradas, que precisam ser mantidas como mero objeto de uso para o enriquecimento ainda maior das elites. Emancipação do Brasil frente às grandes potências mundiais.
O próprio Lula, com a clareza de pensamento que lhe é própria, denuncia sempre que o projeto em vigor visa nada menos que aniquilar a soberania nacional. Não por acaso, o primeiro ato desse governo sem voto foi entregar nosso petróleo às empresas estrangeiras. E agora anuncia um plano de privatizações que prevê a entrega até da Amazônia, da Casa da Moeda, do nosso espaço aéreo. O que está à venda, e por um trocado, é o Brasil.
O povo, claro, compreende, à sua maneira, essas manobras e reconhece o legado do ex-presidente. Isso ficou muito claro na caravana de 20 dias que fez pelo Nordeste. Uma caravana marcada por emoção, gratidão e esperança. Emoção porque Lula, melhor que ninguém, conhece a alma desse povo, sabe da sua realidade e estabelece uma relação autêntica com ele. Gratidão, porque essa população sente na pele a diferença dos governos do PT em suas vidas – o programa de cisternas, o Minha Casa, Minha Vida, o Bolsa Família. Esperança porque acredita na volta do único presidente que investiu no Nordeste, região que teve taxas de crescimento muito maiores que o resto do país durante seus governos.
Essa caravana mostrou a possibilidade real da reeleição de Lula à presidência. Não por acaso, logo em seguida vieram novos ataques, que têm tão somente o propósito de aniquilar a única liderança popular que conseguiu fazer frente às elites, que sempre se consideram donas do Brasil, e impedir esse retorno ao poder. Nunca foi sobre combate à corrupção. Nunca foi para provar que Lula é “chefe de quadrilha”. Se assim fosse, teriam provas. Por tudo isso, qualquer eleição sem Lula não passa de mais um golpe.
José Guimarães é advogado, deputado federal (PT-CE) e líder da oposição na Câmara