“Eu comecei a ser torturado no momento em que cheguei lá. O capitão Albernaz, que já era conhecido como um dos piores carrascos do DOI-CODI, me disse: ‘Começa a falar porque a guerra acabou pra você. Se não falar o que sabe, vai virar presunto.’ Esse era o termo que usavam no esquadrão da morte para os cadáveres que ‘surgiam’, que eram encontrados nos terrenos baldios de São Paulo, assassinados pela polícia.”
Essa é apenas uma das fortes memórias que Anivaldo Padilha, preso político da ditadura militar brasileira (1964 – 1988), carrega consigo. Militante da Ação Popular (AP), líder da juventude metodista e da articulação ecumênica no Brasil e na América Latina durante os anos 1960, Padilha é um sobrevivente da repressão instaurada pelo Ato Institucional 5 (AI-5).
Assinado há exatamente 50 anos, em 13 de dezembro de 1968, o AI-5 institucionalizou a perseguição política aos seus opositores e autorizou uma série de medidas de exceção. Entre elas, o fechamento do Congresso Nacional, a intervenção em estados e municípios e a suspensão de direitos políticos de qualquer cidadão. Mais de 170 mandatos parlamentares foram cassados no período.
Detido pela Operação Bandeirantes (OBAN), em 1970, criada com o objetivo de combater e caçar organizações que faziam oposição ao regime militar em São Paulo, Padilha ficou preso durante dez meses. Os três primeiros foram no DOI-CODI, órgão de inteligência e repressão inaugurado após o golpe militar de 1964.
Ao se negar a passar informações sobre o paradeiro de outros militantes e organizações clandestinas, foi vítima de tortura frequentemente. “Falei que não sabia de nada, neguei. Fui imediatamente torturado com choques elétricos, pancadas, com a cadeira do dragão (que era uma cadeira elétrica) e ameaçado de ser colocado no pau de arara. Fui torturado durante várias horas no primeiro dia e jogado na cela”, conta o ex-preso político.
“Entrei em crise. Por um lado, já tinha experimentado o que me esperava nos próximos dias, sabia que as torturas iriam se intensificar. Claro que tinha medo, tinha medo das torturas, as dores são terríveis. Tinha medo de não conseguir aguentar. Com a dor da pancada, ao levar uma surra de ramos, era possível estabelecer certo controle, mas ainda assim era muito difícil. Com os choques elétricos não. Os choques elétricos nos levam ao desespero”, continua Padilha, indiciado por infiltração comunista na igreja metodista, a qual frequentava desde sua infância.
Para ele, o ato institucional possibilitou a fase mais sangrenta e autoritária do golpe militar. “Com o AI5, foi estabelecido um regime de terror no Brasil muito pior do que a partir de 1964. Um regime de terror que estabeleceu a tortura como um método sistemático de interrogatório, de assassinato e de desaparecimento forçado.”
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