Havia menos de 10 dias para que Luiz Inácio Lula da Silva entregasse a faixa presidencial à sucessora Dilma Rousseff. Era 20 de dezembro de 2010 e, para usar um jargão do próprio ex-presidente, nunca antes na história deste país o povo se sentia tão orgulhoso de ser brasileiro. E mais do que isso: para 87% da população o homem à frente do Palácio do Planalto era o grande responsável pelo milagre econômico e social iniciado oito anos antes.
A enorme popularidade de Lula às vésperas de deixar o cargo, confirmados pelos números da pesquisa publicada pela CNT, era a consagração de um governo que havia realizado uma série de revoluções como acabar com a pobreza extrema do país e inserir as populações mais pobres na economia, na educação e na cultura.
Para se ter ideia, mesmo meses após a divulgação da pesquisa, os analistas ainda tentavam entender como aquele retirante nordestino e líder sindical conseguiu entregar legado muito superior ao dos presidentes “diplomados” que o antecederam.
Na visão do cientista político Cláudio Gonçalves Couto, em artigo publicado em janeiro daquele ano, “a administração de Lula representou um ponto de inflexão crucial nas relações entre as classes sociais no Brasil, tanto no que diz respeito às consequências da luta política mais ampla para a ocupação de posições de poder, como no que concerne a uma mudança no regime de políticas públicas atinentes aos setores mais pobres da população”.
Em março, foi a vez da revista London Review of Books publicar artigo do historiador britânico Perry Anderson que chamou o ex-presidente Lula de o “político mais bem-sucedido de seu tempo”. Segundo o ensaísta, Lula é o “único líder mundial” cuja popularidade se reflete “não na moderação, mas na radicalização no governo”.
“Esse sucesso se deve muito a um excepcional conjunto de talentos pessoais, um misto de sensibilidade social e frieza política, ou – como sua sucessora, Dilma Rousseff, identifica – racionalismo e inteligência emotiva, sem falar em seu bom-humor e charme pessoal”, afirmou Anderson.
Já o Estadão comparou a popularidade de Lula a de outros líderes mundiais. A reportagem cita o exemplo de Michelle Bachelet que deixou a presidência do Chile em 2010 com 84% de aprovação e do líder sul-africano Nelson Mandela que saiu do governo, em 1999, com 82%, ambos com índices inferiores aos alcançados pelo brasileiro.
Na época, além da popularidade recorde do ex-presidente, o Brasil ultrapassava o Reino Unido para se tornar a sexta maior economia do mundo. Mais uma prova indiscutível de que o país era muito melhor e maior quando Lula esteve na Presidência da República. Sua popularidade é consequência de seu enorme legado.
O adorado vizinho
Além do furor entre analistas nacionais e internacionais, a despedida de Lula em 2011 também foi o impulso para declarações entusiasmadas dos presidentes do Mercosul, com quem o brasileiro se encontrou em 17 de dezembro daquele ano.
Após discursar para uma plateia emocionada e sob aplausos, todos os presidentes dos países membros do bloco – Argentina, Paraguai, Uruguai-, dos Estados associados – Chile e Bolívia -, e representantes da Venezuela (em processo de adesão) homenagearam o anfitrião brasileiro.
O boliviano Evo Morales, um dos mais efusivos, disse que Lula “merece ser secretário-geral das Nações Unidas”.
A argentina Cristina Kirchner disse que o encontro era um apenas “até breve, Lula”. O paraguaio Fernando Lugo fez questão de expressar sua “gratidão e respeito em relação a um grande estadista”.
O uruguaio José Mujica, parceiro de Lula até hoje, chamou o ex-presidente de “O Senhor Mercosul” enquanto o chileno Sebastián Piñera recordou a despedida do rei do futebol Pelé no Maracanã e se empolgou: “Fica Lula! Fica!”.
Por Henrique Nunes da Agência PT de Notícias