Levar uma universidade a cada periferia do Brasil era um sonho de Fernando Haddad, desde que assumiu o Ministério da Educação do governo de Luiz Inácio Lula da Silva, em 2005. Mas ele sabia que levaria muitos anos para fazer chegar ensino superior público e de qualidade para cada cidade do Brasil.
Haddad também sabia que quem precisa e deseja fazer uma faculdade não pode esperar por tanto tempo. A solução encontrada foi criar a Universidade Aberta do Brasil (UAB), que dá acesso a faculdades tradicionais nos lugares mais afastados.
É ensino à distância funcionando em parceria com a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), ligado ao Ministério da Educação e às prefeituras. Foi assim que, quando era ministro, conseguiu cumprir este objetivo.
Ao ser escolhido prefeito, Haddad tinha os mesmos planos para São Paulo: fazer com que todos tivessem acesso a faculdades tradicionais como Unifesp e Unesp, mesmo morando a 60 quilômetros de distância de um campus. Quatro anos depois, a cidade tem 46 universidades nas periferias, no modelo da UAB. Formando uma rede, a Rede UniCEU.
Os Centros Educacionais Unificados (CEUs) estão sempre nos pontos extremos da cidade. São lugares onde a distância para ir até uma universidade pública é uma barreira. Tanto que, até 2013, somente 2% das periferias da capital tinham acesso ao ensino universitário, explica a coordenadora de Polo UniCEU Elza de Lourdes Ramello Naous.
“Acredito que a periferia está tendo uma oportunidade ímpar de crescer e de ter acesso ao ensino de qualidade na cidade de São Paulo. É muito difícil acessar a USP, as particulares. A gente conseguiu, com este projeto, levar a comunidade da periferia ao ensino superior. Consequentemente, ao acesso à cidadania”.
Para ela, a Rede UniCEU está transformando São Paulo na capital dos bairros educadores. “O CEU tem esta vocação – com cultura, esportes e educação para todos”, disse.
Em junho de 2013, já havia 18 pólos da UAB, aprovados pela Capes, uma solicitação de quando Haddad era ministro. Em 2015, mais 14. Em 2016, o número chegou a 46. Ao todo, são 11.152 alunos.
São 6 universidades parceiras: Unesp (Universidade Estadual Paulista), Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), Universidade Federal de Minas Gerais, Universidade Federal de Juiz de Fora, Universidade Federal de Ouro Preto, Instituto Federal do Triângulo Mineiro.
Existem diversos modelos de educação à distância. Em São Paulo, é semi-presencial, e a plataforma usada é aquela que a universidade disponibiliza. Há um professor, um orientador para disciplinas. Há videoconferência e as aulas presenciais.
“O ensino semi-presencial é uma realidade não só de São Paulo ou do Brasil, mas do mundo. Estamos vivendo uma realidade em que as informações são simultâneas, tudo hoje vem muito mais rápido. O ensino virtual garante uma parcela bastante importante”, afirma a coordenadora de Polo Elza.
Sobre a qualidade das UniCeu, Elza explica que é a mesma de um curso presencial tradicional, mas com a garantia de ser a mesma de universidades federais e estaduais. E os TCCs das turmas que começaram em 2013, segundo ela, surpreendem pela qualidade postiva.
As disciplinas se encerram quinzenalmente. Isto é, a cada 15 dias, o aluno precisa entregar ao sistema um resultado de seu estudo. O diploma é entregue pela universidade, e tem todos os direitos de um aluno daquela universidade.
Para garantir que todo aluno tenha condições de estudar com internet e computador de qualidade, cada CEU possui a estrutura de um telecentro, com 50 computadores com acesso à rede, política oferecida pela Secretaria de Serviços (SES) da prefeitura.
Atende principalmente jovens que não teriam condições de fazer faculdade, muito menos uma federal. Qualquer pessoa com ensino médio completo pode se inscrever, prestar vestibular e cursar, desde que residente em São Paulo. Há também licenciaturas e pós-graduações para atender a professores.
Para a coordenadora do Polo localizado no CEU Meninos, Sandra Regina Duda Mela, UniCEU dá oportunidade para pessoas que não teriam oportunidade de cursar ensino superior mas não somente pede proximidade.
“A gente está trazendo para o território uma possibilidade de formação. Estamos investindo no jovem que está usando o tempo para se formar. Não é que ele está economizando tempo para ir. Não é que a universidade está aqui porque ele não tem tempo de ir até ela. Ele está usando este tempo para poder estudar, aproveitar isto e ter mais condições dentro da sua casa. Ele está se formando com um livro, com a internet, para se instruir”.
“Muda muito a vida da comunidade. A gente trabalha, no CEU, com a criança desde os primeiros meses até não ter limite de idade. A gente traz para o jovem hoje uma persepctiva de presente e de futuro. É ter certeza da importância que a cidade dá para este jovem”.
Os CEUs contam com um Centro de Educação Infantil (CEI) para crianças de 0 a 3 anos; uma Escola Municipal de Educação Infantil (EMEI) para alunos de 4 a 6 anos; e uma Escola Municipal de Ensino Fundamental (EMEF), que também oferece Educação de Jovens e Adultos (EJA).
Todos os CEUs são equipados com quadra poliesportiva, teatro, usado também como cinema, piscinas, biblioteca e espaços para oficinas, ateliês e reuniões.
Por Daniella Cambaúva da Agência PT de Notícias