A falta de coordenação nacional no combate ao coronavírus, aliada a uma série de medidas erradas por parte do governo federal, é a principal razão de o Brasil ter se tornado um dos países mais afetados pela pandemia de Covid-19. É essa a conclusão de um estudo da Universidade de Harvard publicado na Science, uma das revistas científicas mais respeitadas do mundo.
“No Brasil, a resposta federal (à pandemia) foi uma perigosa combinação de falta de ação com medidas erradas, incluindo a promoção da cloroquina como tratamento, apesar da falta de evidência”, escrevem os pesquisadores, liderados por Marcia Castro, professora de demografia da Escola de Saúde Pública da universidade norte-americana. “A falta de uma resposta coordenada, efetiva e igualitária serviu de combustível para a propagação do vírus SARS-Cov-2”, acrescentam.
Para chegar às suas conclusões, os autores do estudo analisaram dados de infecções e óbitos das Secretarias Estaduais de Saúde para reconstituir como o novo coronavírus se espalhou pelo Brasil. Assim, eles recriaram a evolução da Covid-19 no território nacional ao longo de 2020 e começo de 2021.
O que fica claro na análise é que, como não houve uma ação unificada, que deveria ter sido liderada pelo governo federal, cada estado ou cidade tomou medidas de controle diferentes e em momentos distintos. Assim, a Covid-19 podia até ser reduzida e controlada temporariamente em determinada área, mas seguia se espalhando e infectando e matando em outras.
“Sem uma estratégia nacional coordenada, respostas locais variaram em forma, intensidade, duração e momento de começo e término”, descrevem os cientistas. “Como estados e cidades impuseram e relaxaram medidas restritivas em diferentes momentos, a mobilidade da população facilitou a circulação do vírus e funcionou como um gatilho para espalhar a doença”, completam.
Brasil tinha condições de controlar a pandemia
O mais dramático da situação brasileira é que o país tinha boas condições para enfrentar a pandemia de forma eficaz. “O Brasil é o único país que, com uma população de mais de 100 milhões, possui um sistema de saúde universal, completo e gratuito. (…) Apesar de recentes cortes no orçamento, era esperado que o sistema de saúde do Brasil desse ao país boas condições para controlar a pandemia de Covid-19. No entanto, o Brasil é um dos países mais severamente afetados pela Covid-19”, constatam os pesquisadores.
As conclusões de Harvard são mais uma evidência de que a forma como Jair Bolsonaro conduziu o governo durante a pandemia causou a morte de centenas de milhares de brasileiros. O novo estudo, somado à pesquisa da Universidade de São Paulo (USP) segundo à qual a falta de ação agora identificada por Harvard foi proposital, não deixa outra conclusão possível se não a de que Bolsonaro deve ser responsabilizado pela morte de inúmeros brasileiros.
Não por acaso, um comitê de juristas criado pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e presidido pelo ex-ministro do STF Carlos Ayres Britto concluiu esta semana que Bolsonaro cometeu, em tese, diversos crimes, incluindo os de “homicídio e lesão corporal por omissão imprópria”.
Da Redação