Se o boneco inflável da oposição nada tem por dentro, por fora simboliza bem o discurso do ódio, da condenação prévia, do preconceito, da criminalização da esquerda, da intolerância. Em um editorial, dedicado ao boneco, a Folha de São Paulo chega afirmar que “mesmo que nada esteja provado contra Lula, o boneco vestido de presidiário sintetiza a ojeriza que seu partido desperta”.
Estranha que a mesma ojeriza não se destine também a outros partidos e empresas igualmente citadas em investigações. Nem mesmo apareçam nos cartazes de manifestações organizadas pelos responsáveis do boneco, bem como, pouco se fale ou critique escândalos de corrupção, como o Trensalão tucano de São Paulo, o mensalão do PSDB mineiro, a Zelotes, ou as contas secretas no HSBC na suíça.
Na indignação seletiva de alguns, interessa que apenas um partido, um governo, uma liderança, uma corrente política, sejam apontados e condenados publicamente. Para além da correta condenação dos que são comprovadamente culpados de corrupção, determinados segmentos da sociedade tentam se utilizar deste tema para promover a criminalização, o julgamento sumário e a condenação de grupamentos humanos por sua posição ideológica, que bem poderia ser por raça, etnia, sexualidade ou credo. O que nos faz lembrar o período sombrio da ditadura brasileira e um dos piores momentos da história da humanidade: o nazismo e o fascismo do século XX.
Em meio à onda de intolerância, alimentada por alguns segmentos políticos e parte da grande mídia, assistimos a escalada do ódio em episódios supostamente isolados, como agressões a ministros e membros do governo nas ruas e em restaurantes, blog de ex-candidato do PSDB ameaçando de morte a Presidenta, e até pedidos de intervenção militar.
Na esteira desta insanidade, avança a pauta conservadora na Câmara, com terceirização das atividades fins, redução da maioridade penal, financiamento empresarial para partidos. Se os responsáveis pelo boneco guardassem qualquer coerência deveriam primeiro confeccionar os bonecos de tantos de seus dirigentes partidários que, diferente do ex-presidente Lula, estão denunciados pelo Ministério Público Federal.
Uma das nossas grandes conquistas é o Estado Democrático de Direito, a garantia de julgamentos justos, não de tribunais de exceção. Infelizmente, aqui está se criando uma nova modalidade de justiça e sentença. Transforma-se em presidiário alguém que não cometeu nenhum crime, não foi sequer denunciado, julgado e muito menos condenado. O maior crime de Lula, para estes, é ter contrariado interesses até então dominantes. Em algumas destas manifestações, ao que parece, Lula é culpado de ter priorizado enfrentar a extrema pobreza em que viviam milhões de brasileiros, e ter promovido o maior processo de distribuição de renda, ainda insuficiente. Um crime imperdoável.
Os principais meios de comunicação do país, assim como dirigentes da oposição, tem responsabilidade em estabelecer limites, e não permitir que a crítica, legitima e necessária, rompa as fronteiras da democracia, levando o Brasil a um ambiente de golpismo e convulsão social.
(Artigo inicialmente publicado no Conversa Afiada)
Henrique Fontana é deputado federal (PT-RS). Artigo originalmente publicado no Conversa Afiada