O momento atual é de séria instabilidade política. Ele exige de todas as lideranças esforço em favor de uma grande concertação nacional que estanque a crise e nos tire do imobilismo.
O cenário não deve abrigar atitudes inconsequentes nem pode ser usado como justificativa para saídas sem amparo na Constituição. Atos dessa natureza denotam imaturidade política, reprovável falta de compromisso com a democracia e servem a diminuir o Brasil ante a comunidade internacional.
Os que agem com responsabilidade e altivez já começam a externar inquietude com os expedientes de que alguns têm se valido para atiçar a crise e incendiar o país. A nota das duas maiores federações de indústrias do Brasil — Fiesp e Firjan — é um exemplo. Há manifesto apoio à proposta de união das forças políticas e uma exortação à responsabilidade.
Soma-se a diversas manifestações de empresários, juristas e veículos de comunicação social, que têm criticado a forma temerária como a oposição age no Congresso ao aprovar projetos com devastador impacto nas contas públicas. Para impor derrotas ao Planalto, atiram contra o Brasil, operando em favor da deterioração da economia e colocando em risco empresas e empregos.
São incendiários que acham que vão renascer como fênix das cinzas de um país que trabalham para destruir. Mas os elevados interesses da nação não podem ser submetidos à satisfação de caprichos pessoais.
A oposição deve retomar seu papel de combater o governo dentro da legalidade e da legitimidade. O mandato da presidente Dilma só findará em 2018. Ela não vai renunciar nem vai ser impedida de governar. Qualquer tentativa de abreviar seu mandato não será aceita.
Num primeiro momento, pode até ser que o povo assista a tudo bestializado, para citar a célebre expressão de Aristides Lobo. Mas, depois, os movimentos sociais e os milhões de cidadãos que mudaram de vida graças às políticas públicas dos governos do PT convulsionariam o país em protestos porque, sem legalidade e legitimidade, nenhuma coalizão que sucedesse Dilma poderia ser aceita pelos brasileiros.
Essa cegueira política — que quer esmagar até mesmo a liderança do ex-presidente Lula, alguém com imensa credibilidade para o diálogo interno e externo — não pode ganhar mais espaço. É hora daqueles que se colocam à margem da legalidade abdicarem dessa posição e trabalharem pelo Brasil.
Nosso governo também deve encarar suas responsabilidades. É forçoso reconhecer erros e estender a mão a um diálogo efetivo com todos os setores. É preciso restaurar a base parlamentar no Congresso Nacional, especialmente na Câmara, onde, hoje, encontra-se ilhado. É necessário, enfim, reiniciar o jogo.
Desse encurralamento, só se sai por meio de novo pacto político e social, do redesenho das alianças partidárias e da construção de outro ciclo de diálogo com o povo brasileiro, acenando com ações concretas.
A onda de cansaço com a política está nas ruas não é de agora, e não é apenas com o governo ou com o PT, como muitos querem fazer parecer. Os movimentos de 2013 evidenciaram a insatisfação dos brasileiros com o modelo de representação vigente.
Temos condições de dobrar a crise econômica e assegurar ao Brasil o caminho do desenvolvimento inclusivo. Mas não conseguiremos vencê-la enquanto interesses mesquinhos patrocinarem uma crise política. É o momento de construirmos essa ampla concertação para garantirmos a estabilidade institucional de que o país precisa para seguir em frente.
(Artigo originalmente publicado no jornal “O Globo”, no dia 16 de agosto de 2015)
Humberto Costa é líder do PT no Senado