As queimadas no Cerrado, no Pantanal e na Amazônia são consequência da ação humana. É o que garante a doutora em geociências e coordenadora do Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais (Lasa), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Renata Libonati. Em entrevista à Agência Brasil, ela afirma que apenas 1% dos incêndios são iniciados naturalmente, pelos chamados “raios secos”. “Todos os outros 99% são de ação humana”, explica.
Libonati está encarregada do sistema Alarmes, que permite o monitoramento diário dos incêndios no país por meio de imagens de satélite, inteligência artificial e dados de focos de calor. Questionada acerca da legislação vigente que restringe o uso do fogo na atividade agropecuária, sancionada pelo presidente Lula no fim de julho, a coordenadora do Lasa é categórica: “Todos esses incêndios, mesmo que não tenham sido intencionais, são, de alguma forma, criminosos. Exceto quando é acidental”, definiu.
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A especialista considera “muito crítica” a situação nos três biomas monitorados pelo Alarmes, especialmente na Amazônia, onde a presença do fogo é mais danosa. No Cerrado e no Pantanal, a intensidade das queimadas está, nas palavras de Libonati, “muito próxima do máximo histórico”. “Regiões como o Cerrado e parte do Pantanal, que são constituídas basicamente de regiões savânicas, são o que chamamos de dependentes do fogo”, esclarece.
“É diferente da Amazônia e de qualquer floresta tropical, que a gente chama de ecossistemas sensíveis ao fogo. Quando ocorre, é altamente prejudicial. É sempre bom fazer essa distinção entre o Cerrado, Pantanal e Amazônia, porque as relações que cada ecossistema tem com o fogo são diferentes, e o uso do fogo precisa ou não ser tratado de forma diferente de acordo com o ecossistema”, pondera Libonati.
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A especialista da UFRJ também vê ligação entre as queimadas e a agropecuária. “A ocorrência dos incêndios no Brasil está intimamente associada ao uso da terra, às atividades econômicas, principalmente, ligadas ao desmatamento para abrir áreas de pastagem e agricultura e, quando já está consolidado, muitas vezes se utiliza o fogo por várias razões, e isso causa os grandes incêndios que estamos observando”, descreve.
Sistema Alarmes
O Alarmes foi lançado, em 2020, para permitir que os órgãos de prevenção e combate aos incêndios pudessem ser informados quase em tempo real. Antes do advento do sistema, as informações chegavam com até três meses de atraso.
“Isso nos permitiu criar esses alertas rápidos. Enquanto antes nós precisávamos esperar de um a três meses para ter essas localizações do que queimou, nós temos essa informação no dia seguinte que queimou”, compara Libonati.
Desde o início do ano, informa o Alarmes, o Pantanal teve 12,8% de sua área queimada. Em 2020, o pior ano já registrado pelo bioma, a destruição atingiu 30%, muito por conta do notório negacionismo climático do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
“A média anual que o Pantanal queima é em torno de 8%. Então, 2020 foi muito acima e 2024 também ultrapassou a média de porcentagem diária atingida. Isso representa cerca de 1,9 milhão de hectares queimados em 2024”, lamenta a coordenadora do Lasa.
Em 2024, a Amazônia já teve 10 milhões de hectares queimados, enquanto que o Cerrado, 11 milhões. “De uma forma geral, a situação é muito crítica nos três biomas. A Amazônia no máximo histórico, e, nos outros biomas, muito próxima do máximo histórico”, conclui.
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Mudança de paradigma
A doutora da UFRJ também elogia o compromisso do governo Lula com a transição ecológica e reconhece que o planeta já não suporta mais o modo de vida capitalista. Na percepção de Libonati, “essas condições climáticas são muito desfavoráveis ao combate”.
“O que estamos vivenciando hoje é resultado do que a humanidade vem fazendo ao longo de várias décadas. Realmente é preciso fazer uma mudança na forma que a gente utiliza o planeta, porque o nosso estilo de vida atual é incompatível com o bem-estar da nossa sociedade no futuro.”
Da Redação, com Agência Brasil