Após queda de 2,2% em janeiro, a produção industrial soluçou uma alta de 0,7% em fevereiro, mas ainda se mantém2,6% abaixo do patamar de antes do início da pandemia. Também está 18,9% abaixo do nível recorde alcançado em maio de 2011, quinto mês do Governo Dilma Rouseff. Assim, a Pesquisa Industrial Mensal (PIM), divulgada nesta sexta-feira (1º) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), traduz em números a estagnação do setor.
Dos 26 ramos pesquisados pelo IBGE, apenas oito superaram ou igualaram o nível anterior à crise sanitária, que o desgoverno Bolsonaro desdobrou em múltipla crise – médica, política, econômica e social. “Dois anos após o início da pandemia, a indústria ainda está abaixo daquele patamar. Isso pode ser explicado pelo desarranjo das cadeias produtivas, já que as indústrias ficaram com dificuldade de acesso à matéria prima e insumos”, explica o gerente da pesquisa, André Macedo.
A escassez gerou uma alta generalizada de preços de insumos que ainda se mantém. Em fevereiro deste ano, a inflação industrial foi de 0,56%, conforme o IPP (Índice de Preços ao Produtor) do IBGE. Em 12 meses, a alta da “inflação de porta de fábrica” é de 20,05%.
“Pelo lado da demanda doméstica, há inflação alta, juros em elevação, mercado de trabalho ainda com contingente elevado de trabalhadores fora dele e a massa de rendimento que também não avança”, prossegue o pesquisador. “São características que ajudam a entender esse cenário da indústria”, conclui.
“O mês de janeiro também é caracterizado por ter algum grau de redução de jornadas de trabalho e pelo movimento maior de férias coletivas. Em fevereiro, há o retorno normal ao trabalho, que impulsiona a produção do mês. Isso ajuda a entender o resultado positivo de fevereiro na margem da série”, acrescenta André Macedo.
O pesquisador ressalta que, apesar do resultado positivo, a indústria acumula queda de 4,3% frente a fevereiro de 2021 e recuo de 5,8% no acumulado de 2022. A taxa no acumulado em 12 meses (2,8%) indica perda de intensidade. Isso vem ocorrendo desde agosto de 2021, quando o acumulado estava em 7,2% e o Banco Central (BC) acelerou as altas da taxa básica de juros (Selic), sob o pretexto de combate à inflação.
Neste início de 2022, a Selic já chega a 11,75% ao ano, e até o fim do semestre deve avançar até os 13% anuais, conforme as projeções dos analistas do mercado financeiro. Além de não conter a inflação, a Selic mais alta resulta em empréstimos mais caros – em 2021, no rastro dos seguidos reajustes da taxa básica, o juro bancário sofreu o maior aumento em seis anos. Encarecendo o crédito, é imediato o impacto negativo sobre o consumo da população, os investimentos produtivos e a atividade econômica. A estagnação da indústria é resultado dessa política monetária que protege investidores, mas penaliza toda a chamada economia real.
“Continuamos enxergando dificuldades para a produção industrial, mesmo com a redução do IPI adotada pelo governo federal. O setor sofre com o aperto das condições financeiras e monetárias, além do aumento de custos, intensificados com o conflito geopolítico na Ucrânia, e problemas logísticos relacionados às novas medidas de restrições adotadas na China para conter o avanço da Covid-19”, avaliou em relatório Felipe Sichel, sócio e economista-chefe do banco Modal.
Lula: soberania é indústria nacional forte´
No último sábado (26), no Rio de Janeiro, Luiz Inácio Lula da Silva defendeu a reconstrução da soberania nacional após as políticas de terra arrasada de Michel Temer e Jair Bolsonaro. “Soberania nacional significa que nós precisamos de democracia, mas também precisamos ser donos do nosso nariz”, afirmou durante o evento que marcou os 100 anos do PCdoB.
“Também significa a gente tomar conta das nossas riquezas minerais. E isso significa que a Petrobras vai ter que voltar a ser do povo brasileiro. Significa que vamos ter que ter a coragem de não deixar privatizar os Correios, o Banco do Brasil, a Caixa Econômica Federal”, prosseguiu Lula.
“Significa que o BNDES vai ter que voltar a ser um banco de investimento no desenvolvimento industrial. Significa que a gente vai ter que ter nova política industrial. Vamos ter que discutir que nicho de indústria vamos querer neste país”, acrescentou o presidente mais popular da história do país.
Lula lembrou que desde o golpe de 2016, que tirou Dilma Rousseff do poder, Temer e Bolsonaro atuaram apenas para entregar o patrimônio nacional e destruir direitos e qualidade de vida dos trabalhadores, sempre com base em mentiras. Como ocorre com a dilapidação da Petrobras, que tem tido o patrimônio fatiado e vendido em nome da “livre concorrência”, prejudicando a população com reajustes abusivos de combustíveis.
Outro ataque à soberania é o desmonte da indústria naval e do petróleo e gás, que estava diretamente atrelado ao uso da Petrobras em favor dos interesses nacionais. “Nós tomamos a decisão de que todos os navios, plataformas e sondas tinham que ter 70% de componente nacional para a gente desenvolver a engenharia, a tecnologia e a indústria brasileira. Eles acabaram com isso”, lembrou o ex-presidente.
Ao fim de 2010, último ano do mandato de Lula, a produção industrial havia crescido 10,5%, revertendo a queda de 7,4% verificada em 2009, no auge da crise econômica global causada pelo mercado imobiliário estadunidense. Foi a maior expansão anual da produção industrial observada desde 1986.
“Por isso eu tenho dito: se preparem. Brasileiras e brasileiros, se preparem, porque nós vamos abrasileirar o preço do combustível, do gás de cozinha e do óleo diesel neste país”, garantiu Lula.
Da Redação, com Imprensa IBGE