O Brasil ainda tem mais de dez milhões de desempregados, bateu o recorde de informalidade em junho e os salários dos trabalhadores ocupados continuam perdendo poder de compra para a inflação de dois dígitos de Jair Bolsonaro e seu ministro-banqueiro Paulo Guedes. Esses são alguns dos dados retratados na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, divulgada nesta sexta-feira (29) pelo IBGE.
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística estima em 9,3% a taxa de desemprego do trimestre encerrado em junho, após queda de 1,8 ponto percentual (p.p.) em relação ao trimestre anterior. É o menor patamar do período desde 2015, sob Dilma Rousseff, quando foi de 8,4%. A mínima da série histórica, iniciada em 2012, ocorreu em 2014, também sob Dilma, quando a taxa chegou a 6,5%.
Com isso, o número de desempregados chegou a 10,1 milhões de pessoas. “A retração da taxa de desocupação no segundo trimestre segue movimento já observado em outros anos. Em 2022, contudo, a queda mais acentuada dessa taxa foi provocada pelo avanço significativo da população ocupada em relação ao primeiro trimestre”, destaca a coordenadora de Pesquisas por Amostra de Domicílios do IBGE, Adriana Beringuy.
A população ocupada (98,3 milhões) é a maior desde o início da série histórica da pesquisa. Frente ao trimestre anterior, são três milhões de pessoas a mais no mercado de trabalho. Mas se o emprego com carteira assinada aumentou, o trabalho sem carteira cresceu o dobro. Em 12 meses, o número de empregados com carteira no setor privado subiu 11,6% (mais 3,685 milhões), enquanto o informal subiu 23% (2,438 milhões).
Na comparação com o trimestre anterior, a informalidade cresceu 2,8%, o que representa 1,1 milhão de pessoas. Com isso, o número de trabalhadores sem carteira assinada, empregadores e por conta própria sem CNPJ, além de trabalhadores familiares auxiliares (39,3 milhões), também foi o maior da série histórica desse indicador específico, iniciada em 2015. A taxa de informalidade chegou a 40,0%.
“Nesse segundo trimestre, houve a retomada do crescimento do número de trabalhadores por conta própria sem CNPJ, que havia caído no primeiro trimestre”, explica Adriana. “Além disso, outras categorias principais da informalidade, que são os empregados sem carteira no setor privado e os trabalhadores domésticos sem carteira, continuaram aumentando.”
LEIA MAIS: Herança da Reforma Trabalhista: 32,5 milhões de empregos precários
O número de trabalhadores por conta própria, somados formais e informais, foi estimado em 25,7 milhões, o maior contingente para um trimestre encerrado em junho desde 2012. Houve crescimento de 1,7% (431 mil pessoas) frente ao trimestre anterior e de 4,3% (1,1 milhão) em relação ao mesmo período do ano passado.
Entre os empregados sem carteira assinada no setor privado, o aumento foi de 6,8% (ou mais 827 mil pessoas) frente ao último trimestre. Com isso, o contingente também foi o maior da série, ao ser estimado em 13,0 milhões de pessoas. O número de trabalhadores domésticos sem carteira cresceu 4,3% no período, o equivalente a 180 mil pessoas. Com a alta, essa categoria passou a ser formada por 4,4 milhões de trabalhadores.
“Podemos observar que parte importante dos serviços, como os serviços pessoais prestados às famílias, tem grande participação de trabalhadores informais e está influenciando essa reação da ocupação. Isso também tem ocorrido na construção, setor com parcela significativa de informais”, detalha a pesquisadora do IBGE. “Então, a informalidade tem um papel importante no crescimento da ocupação.”
Trabalhadores perderam 5,1% do poder de compra em um ano
O rendimento médio habitualmente recebido pelo trabalhador brasileiro foi estimado em R$ 2.652. Em termos nominais (sem efeito da inflação), houve alta de 6,2% em um ano (havia sido estimado em R$ 2.498 no segundo trimestre de 2021). Em termos reais, no entanto, ele apresenta queda de 5,1% no mesmo período.
Já a massa de rendimento chegou a R$255,7 bilhões, um aumento de 4,4% frente ao trimestre anterior e de 4,8% em relação ao mesmo período do ano passado. “Embora não haja aumento no rendimento médio dos trabalhadores, houve crescimento da massa de rendimento porque o número de pessoas trabalhando é bastante elevado”, explica Adriana.
Segundo a coordenadora da pesquisa, foi a primeira vez, desde o primeiro trimestre do ano passado, que houve aumento significativo do rendimento nominal no país. Todavia, a pressão inflacionária faz esse aumento desaparecer.
“Embora tenha havido crescimento em termos nominais, em termos reais o que observamos foi uma queda significativa. Ou seja, tem um efeito importante da inflação sobre os rendimentos no país”, enfatizou Adriana.
Da Redação, com Agência IBGE