A desmistificação dos fatos envolvendo o impeachment da presidenta Dilma Rousseff, em 2016, é muito mais difícil do que os que levaram ao Golpe de 1964. É que acredita Hamilton Pereira, conhecido pelo pseudônimo de Pedro Tierra, autor de uma obra sobre as bases da ditadura militar no Brasil. Para ele, se antes o inimigo usava farda, “hoje ele veste toga”.
Tierra é um dos nove autores da obra “A Repressão Militar-Policial no Brasil, o livro chamado João”. O volume, entre outros, contesta o pensamento histórico de que a violência no regime militar era obra dos porões da ditadura.
“A violência foi resultado de uma política de Estado, de aniquilamento dos opositores do regime. Os fatos revelados há poucos dias por um memorando da CIA deixam isso escancarado. Não era o excesso de um ou outro general, mas uma política de governo”, destaca o escritor, ex-secretário de Cultura do Distrito Federal.
Recentemente, um memorando secreto da agência de inteligência do governo dos Estados Unidos (CIA) revelou a autorização do ex-presidente Ernesto Geisel para executar opositores do regime militar no Brasil.
Agora, segundo Tierra, esse pensamento repressor está dentro dos Poderes da República, como o Judiciário. Os métodos utilizados na operação Lava Jato, por exemplo, levantam suspeitas de que agentes brasileiros e norte-americanos tenham passado por cima da lei para conduzir as investigações. “O Judiciário se divorciou de qualquer noção de Justiça”, lamenta o escritor.
Ditadura em vigor
Pedro Tierra esteve na Câmara dos Deputados, nesta terça-feira (22), para apresentar o livro “A Repressão Militar-Policial no Brasil” junto com outros dois autores da obra – entre eles, José Carlos Vidal, que acredita haver uma ditadura no país nos dias atuais.
“Esse livro contribui para entender a nossa história e, com ela, tirar lições. Essas lições serão fundamentais para eliminar algo que está surgindo agora que é o fascismo. O fascismo é um inimigo das massas populares e de todas as propostas de avanço político no Brasil”, disse Vidal.
O pensamento vai ao encontro ao de Tierra, que acredita que a Constituição do país vem sendo desrespeitada a partir de ações como o encarceramento sem provas do ex-presidente Lula e da criminalização da atividade política, onde a legislação é utilizada muitas vezes para justificar medidas opressoras.
“A Repressão Militar-Policial no Brasil, o livro chamado João” foi escrito por presos políticos do país durante a ditadura, tendo a sua primeira versão impressa de forma artesanal na França em 1975. O nome “João” no título foi usado pelos autores durante o regime militar para se referir à obra.
“O documento que embasa esse livro é histórico porque é a primeira denúncia redigida dentro da prisão pelos detentos. De maneira corajosa, as pessoas detidas no presídio Barro Branco colocaram em risco suas vidas para passaram a identificar quem tinham sidos os seus torturadores”, explicou o líder do PT na Câmara, Paulo Pimenta, durante a apresentação do livro.
O volume reúne informações sobre a repressão militar e policial desde a época do Brasil colônia até a ditadura militar, com ênfase nas décadas de 1960 e 1970.
Veja como foi o ato de lançamento do livro, em Brasília:
Do PT no Senado