Diversos intelectuais e artistas divulgaram, nesta semana, um manifesto em que pedem respeito aos estudantes de São Paulo e que as escolas do estado não sejam fechadas pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB).
No texto, assinado por pessoas como Paulo Miklos, do Titãs; Gregório Duvivier; Luciana Genro, do PSOL; e Maria Rita Kehl, diz que o projeto tucano de “reorganização” escolar foi construído “a toque de caixa”, sem qualquer consulta às comunidades.
Desde o dia 9 de novembro os estudantes do estado decidiram ocupar suas escolas contra o projeto de Alckmin, que pretende fechar 93 unidades de ensino e transferir 311 mil estudantes para outras instituições de ensino no início do próximo ano. Até esta terça-feira (1º), quase 200 unidades foram ocupadas no estado.
“Nós, intelectuais, artistas e figuras públicas que de maneira suprapartidária subescrevemos esse manifesto reivindicamos, para o bem da cidadania e da escola pública, a suspensão imediata da “guerra” contra os estudantes adolescentes bem como desse projeto de reorganização para que de uma vez por todas se escutem as vozes das escolas e comunidades que são as mais interessadas e com quais deve se pensar a educação”, diz o documento.
Leia o manifesto, na íntegra:
“Não fechem as nossas escolas! Respeitem os estudantes!
Não bastasse o atual estado crítico do ensino básico – com salas superlotadas, baixíssimos salários para docentes e funcionários e péssimas condições de trabalho –, o governo Geraldo Alckmin impõe uma mudança de grande porte à rede de ensino paulista, fechando mais de 90 escolas, encerrando períodos inteiros, removendo milhares de estudantes de suas escolas, impactando a vida de milhares de famílias e ameaçando o emprego de professores em todo estado.
O projeto de “reorganização” foi construído a toque de caixa, sem qualquer consulta às comunidades, sem audiências efetivamente públicas, sem tempo hábil de se fazer o real debate sobre as necessidades das escolas e o mérito da iniciativa. Como tem sido demonstrado em muitos estudos que contestam o projeto, suas justificativas são muito frágeis ou questionáveis. Não por acaso, em sua versão oficial que acaba de ser publicada, a reorganização foi baixada por decreto, sequer apresentada aos parlamentares estaduais.
Para agravar a situação, de forma covarde o governo conclama a uma “guerra” contra os estudantes que tiveram que ocupar suas escolas para serem ouvidos. Estão amplamente registrados todos os tipos de agressão, intimidação, coação e diversas ilegalidades por parte da polícia e de agentes públicos na tentativa de “desqualificar” ou “desmoralizar” o movimento enquanto se supostamente se consolida o projeto como um fato consumado.
Ao contrário das tentativas, o que temos visto são estudantes com muita convicção e firmeza, reforçando como nunca sua identidade com as escolas, cuidando dos espaços públicos, sendo protagonistas das programações de aulas públicas, de eventos culturais e esportivos.
Nós, intelectuais, artistas e figuras públicas que de maneira suprapartidária subescrevemos esse manifesto reivindicamos, para o bem da cidadania e da escola pública, a suspensão imediata da “guerra” contra os estudantes adolescentes bem como desse projeto de reorganização para que de uma vez por todas se escutem as vozes das escolas e comunidades que são as mais interessadas e com quais deve se pensar a educação.
Primeiros signatários:
Ariovaldo Umbelino de Oliveira (Geografia – USP)
Cesar Cordado (Comitê Paulista pela Memória, Verdade e Justiça)
Christian Dunker (Psicologia – USP)
Cibele Lima (Rede Emancipa de Educação Popular)
Cilaine Alves Cunha (Literatura – USP)
Ciro Correia (Geologia – USP)
Cristiane Gonçalves (Políticas Públicas e Saúde Coletiva – Unifesp)
David Harvey (CUNY – Nova York)
Fábio Konder Comparato (Direito – USP)
Franciso Miraglia (Matemática – USP)
Frederico de Almeida (Ciência Política – Unicamp)
Gilberto Cunha Franca (Geografia – Ufscar)
Gilson Schwartz (Cinema, Rádio e TV – USP)
Gregório Duvivier (Ator e escritor – Porta dos Fundos)
Guilherme Boulos (Coordenador do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto – MTST)
Henrique Carneiro (História – USP)
Homero Santiago (Filosofia – USP)
Isabel Maria Loureiro (Filosofia – Unesp)
Luciana Genro (Presidenta da Fundação Lauro Campos e ex-candidata à Presidência pelo PSOL)
Manoela Miklos (Produtora Cultural)
Márcia Tiburi (Filosofia – Mackenzie)
Márcio Seligmann-Silva (Teoria Literária e Literatura – Unicamp)
Marcos Barbosa de Oliveira. Prof. Colaborador, depto. Filosofia, FFLCH-USP
Maria Cecília Wey (Aliança pela Água)
Maria Rita Kehl (Psicanalista, jornalista, ensaísta, poetisa, cronista e crítica literária)
Mariana Fix (Urbanista – Unicamp)
Mario Schapiro, professor FGV Direito SP
Marussia Whately (Aliança pela Água)
Mauro Pinto (Advogado OAB-SP)
Marcos N. Magalhães (IME – USP)
Miranda (Coordenador do Movimento Negro Socialista – MNS)
Otaviano Helene (Física – USP)
Paulo Eduardo Arantes (Filosofia – USP)
Paulo Miklos (Vocalista do Titãs)
Plínio de Arruda Sampaio Jr (Economia – Unicamp)
Ricardo Antunes (Unicamp)
Ricardo Musse (Sociologia – USP)
Rosa Maria Marques – PUCSP
Ruy Braga (Sociologia – USP)
Sara Del Prete Panciera – (Saúde, Educação e Sociedade – Unifesp )
Vladimir Safatle (Filosofia – USP)”
Da Redação da Agência PT de Notícias