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Interino, general Pazuello atropela fatos em assembléia da OMS

Em sua manifestação, além dos fatos, o general Pazuello atropelou um dos preceitos mais importantes da ética militar, que é “cultuar a verdade”.  Interino, e lançando mão de um discurso com tom “político-partidário”, aos incrédulos interlocutores mundiais afirmou que o governo atua “por meio do diálogo com os três níveis de governança”. Sem ministro efetivo, e ao estilo da velha política do “Centrão” de ocupação de cargos executivos, nesta terça-feira (19) mais nove militares foram nomeados para cargos no Ministério da Saúde.

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Ministro interino da Saúde, general Eduardo Pazuello.

A participação do general Eduardo Pazuello na Assembléia Geral da Saúde, da Organização Mundial da Saúde (OMS), na segunda-feira (18), aumentou a percepção mundial negativa do governo brasileiro, exposta diariamente nas capas dos principais jornais do exterior.

“Em seu discurso, o novo chefe do Ministério da Saúde não citou uma só vez a própria OMS, nem o salto no número de casos e nem o fato de o presidente insistir em não seguir e até criticar as recomendações da entidade”, registrou o jornalista Jamil Chade, no jornal O Estado de São Paulo. Se faltou sintonia com a realidade dos fatos, a apresentação manteve o rigor oficialista dos cenários tradicionais, com a foto do presidente Bolsonaro ao fundo.

A intervenção do general Pazuello atropelou um dos preceitos mais importantes da ética militar, em particular do Exército, que é “cultuar a verdade”. Interino, e lançando mão de um discurso com tom “político-partidário”, aos incrédulos interlocutores mundiais afirmou que o governo atua “por meio do diálogo com os três níveis de governança”. E foi além, dizendo que o governo federal “apoia estados e cidades com os recursos necessários para mitigar os efeitos da pandemia”. Em inglês, afirmou que “o governo federal acessa diariamente a situação dos riscos e apoia cidades e estados com os recursos necessários para reduzir os efeitos da pandemia”. Até o momento, o presidente da República não realizou uma visita sequer a hospitais, limitando-se apenas a lamentar que “as pessoas morrem”.

No mesmo dia de sua apresentação, a realidade se impôs elevando o Brasil para a posição de terceiro país com mais casos de contaminação, um total de 256.523 registros, e 16.895 mortes. Ao contrário do que disse o ministro, o dramático crescimento rumo ao topo mundial do ranking da pandemia é resultado, em grande parte, da falta de coordenação e assistência do governo federal. Informação sonegada na manifestação do general Pazuello, a inércia do governo federal levou o Supremo Tribunal Federal (STF) a autorizar Estados e Municípios a adotarem medidas locais e regionais para enfrentar a pandemia.

Sem ministro efetivo à frente da Saúde, e ao estilo da velha política do “Centrão” de ocupação de cargos executivos, nesta terça-feira (19) mais nove militares foram nomeados para o ministério, entre eles o coronel Antônio Élcio Franco Filho, ex-secretário de saúde em Roraima, para ocupar o posto de número 2 na pasta.

Em inglês, afirmou que “o governo federal acessa diariamente a situação dos riscos e apoia cidades e estados com os recursos necessários para reduzir os efeitos da pandemia”. Até o momento, o presidente da República não realizou uma visita sequer a hospitais, limitando-se apenas a lamentar que “as pessoas morrem”. Foto: Edmar Barros

Além da surpresa diante da descrição de um cenário conflitante da realidade apresentada diariamente na mídia mundial, o plenário formado por especialistas renomados estranhou a presença de um militar, e não de um médico falando pelo Brasil. Internamente, a participação de Pazuello na Assembleia da OMS foi vista com uma maneira de naturalizar a presença do militar à frente do Ministério da Saúde.

A irresponsável interinidade, que deixa o país sem ministro da Saúde em plena explosão da pandemia, é considerada um movimento estratégico para viabilizar o uso da cloroquina. A expectativa é que o general Pazuello assine o decreto autorizando o protocolo de uso do remédio no país, objetivo de Bolsonaro que já causou a queda de dois ministros. Em sua coluna, a jornalista Mônica Bergamo, da Folha de S. Paulo, informou que o general Pazuello é um entusiasta do remédio, ainda sem comprovação médica de sua efetividade.

Se assinado pelo general Pazuello, o novo protocolo de uso da cloroquina no tratamento de pacientes com coronavírus do Ministério da Saúde devera abrir uma nova frente de conflito com os governadores, de acordo com o jornal Estado de São Paulo. De acordo com o jornal, para os governadores o que os brasileiros precisam neste momento são leitos de UTI, respiradores e outros equipamentos médicos.

Os governadores já se manifestaram dizendo que manterão o protocolo anterior para uso do medicamento, e que a decisão, se for o caso, é de cada médico envolvido. Enquanto o Conselho Federal de Medicina não reconhece comprovação para o uso da cloroquina, médicos temem que o governo pressione hospitais públicos pela adoção do remédio.