O último boletim do Banco Central sobre o setor externo, divulgado na quarta-feira (22), mostra que os investimentos diretos no Brasil aumentaram US$ 5,4 bilhões em junho, com acumulado de US$ 81,9 bilhões de ingressos líquidos em 12 meses. O valor equivale a 3,84% do Produto Interno Bruto (PIB).
Os dados econômicos refletem os investimentos noticiados pela imprensa brasileira, acompanhados pela frase “apesar da crise”. No setor automobilístico, diversas empresas anunciaram ampliação de investimentos ou instalação de fábricas no País. É o caso da General Motors (GM), que planeja dobrar os investimentos, alcançando os R$ 13 bilhões até 2019.
Em coletiva de imprensa, o presidente da GM para a América do Sul, Jaime Ardila, informou que o dinheiro será destinado ao desenvolvimento de novos produtos, e não na ampliação de capacidade produtiva.
No fim de abril, a Jeep inaugurou um polo automotivo em Goiana, Pernambuco. O empreendimento do grupo Fiat Chrysler Automobiles (FCA) deve empregar, até o fim desde ano, mais de nove mil trabalhadores, 82% deles nordestinos. De acordo com a Consultoria Ceplan, em 2020, o Polo representará 6,5% do PIB do estado.
A Toyota, por sua vez, anunciou na quinta-feira (30), a contratação de 500 funcionários para fábricas localizadas em Porto Feliz e Sorocaba, no interior paulista. A unidade de Porto Feliz deve ser inaugurada no começo de 2016. As vendas da marca cresceram 3% no primeiro semestre.
Ainda no setor automobilístico, matéria publicada pelo UOL Carros apontou que o Brasil terá 10 novas fábricas, com previsão de R$ 14 bilhões em investimentos até 2016. A maior parte delas são sedes de empresas que eram importadoras e aderiram ao Programa de Incentivo à Inovação Tecnológica e Adensamento da Cadeia Produtiva de Veículos Automotores (Inovar-Auto).
O programa foi criado pelo governo federal em 2012 para ampliar a produção de carros mais eficientes e os investimentos em tecnologia no Brasil.
Outros setores também se mostraram atrativos. Nos últimos quatro anos, a Asea Brown Boveri Ltda (ABB) investiu mais de US$ 200 milhões em inovação e energia. A empresa, que é líder mundial em seu setor, possui cinco fábricas no País e planeja investimentos em projetos de linhas de transmissão de energia elétrica.
O conglomerado alemão ThyssenKrupp, que atua em diversas áreas, como aço, elevadores e autopeças, pretende investir, até 2020, R$ 2 bilhões no Brasil. Em viagem ao País, o presidente mundial do grupo, Heinrich Hiesinger, se mostrou cauteloso e afirmou que as aplicações vão ocorrer de acordo com o desempenho da economia brasileira.
A senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) compara o “apesar da crise” utilizado pela imprensa ao “imagina na Copa”, frase utilizada pelos veículos de comunicação para questionarem a capacidade do governo brasileiro de organizar o evento mundial.
“Há um excesso de pessimismo com relação à economia. Como temos uma crise nas proporções anunciadas pela imprensa se há lucro nas instituições financeiras, investimentos estrangeiros”, avalia.
Para o professor de Economia da Universidade de Brasília (UnB) Jorge Saba Arbache, os dados divulgados pelo Banco Central são uma demonstração de que, “apesar da crise”, existe confiança do mercado na economia brasileira. “Tem que haver uma celebração, mas moderada. A confiança está menor do que antes, mas a situação não está tão desesperadora”, avalia.
Ele aponta que grande parte desses investimentos refletem ações do governo, como a criação do Inovar-Auto e a celebração de Parcerias Público-Privadas com empresas estrangeiras. “Fazem parte de uma programação que já havia sido feita”.
Arbache chama a atenção para a necessidade de atrair mais investimentos em novos negócios. “A maior parte das entradas vão para a aquisição de ativos, como a compra de lojas já existentes, em vez de serem direcionados para novos negócios”, ressalta.
Para ele, o Plano de Concessões terá um efeito positivo a médio prazo, quando as melhorias de infraestrutura já estiverem implementadas. “Se caminhar como esperado, certamente será positivo”.
Gleisi lembra que o Brasil já viveu dificuldades econômicas e financeiras de proporções muito maiores. “Crise foi quando tínhamos 40 milhões de pessoas vivendo na miséria, quando nós tínhamos fome, um salário mínimo de menos de US$ 100, quando não tínhamos reservas internacionais e uma taxa de desemprego de 12%. Aquilo era crise, hoje a gente passa por dificuldades econômicas”.
Por Cristina Sena, da Agência PT de Notícias