Da Redação, Agência Todas
Filha das terras da região Norte, Janaína Oliveira, 38, nasceu no Pará, viveu uma parte da adolescência no Maranhão, mas onde se firmou mesmo foi em Belém – PA. Hoje, ela é secretária nacional LGBT do PT, mas o chão que ela trilhou para chegar até aqui foi longo.
Nascida em uma família tradicional heteronormativa, ela vivia com a mãe, o pai, quatro irmãos e uma avó que, hoje, já não está mais entre nós. Mas que fez muita diferença na vida dela e na forma como ela se relaciona com as pessoas.
Na juventude, em São Luiz do Maranhão, Janaína participava das atividades com a juventude da igreja católica — momento que começou a despertar para outros debates sociais. Quando retornou a Belém, foi o movimento estudantil secundarista que a levou para a práxis da política e da luta por direitos. Diferentemente de muitas trajetórias, Janaína começou tendo aversão a partidos políticos, mas sem abrir mão das lutas. Chegou até a disputar e vencer a presidência do CEFET (Centro Federal de Educação Tecnológica) contra a Juventude do PT na época.
No entanto, um fato marcante viria a transformar essa linha negativa de pensamento em relação a partidos. Foi a construção do Fórum Social no Pará, em 2009, que levou Janaína a ter mais contato com companheiros e companheiras do PT e, consequentemente, compreender o projeto político do partido. A criação do núcleo nacional de jovens negros e negras do PT, a JN13, despertou o encantamento da militante e consolidou a filiação.
Enquanto várias mudanças ocorriam na forma que Janaína lia e relia a vida política e da sociedade, uma outra transformação caminhava junto com esse momento de intensas descobertas. Janaína ainda negava sua própria identidade, mas começava a notar que não compunha a “caixinha da normalidade” heteronormativa e até se forçava a tentar relações heterossexuais. Assim como várias trajetórias LGBT, ela acreditava ser muito mais fácil negar a verdade do próprio eu do que ser vista como uma aberração. Na família, apenas um irmão e a avó sabiam da verdade. E foi para a avó que Janaína contou que estava indo morar com a companheira, com quem está junta até hoje, há quase 20 anos.
A saída do armário foi traumática e deixou marcas na vida de Janaína ao ponto de sua mãe ser “alertada” sobre o “tipo de pessoa” que ela era. Ou seja, mulher lésbica. Portanto, permanecer na própria casa não era mais uma opção. Com uma rede de apoio e amigos, ela contou com pessoas para ser acolhida nesse grande passo da vida e não ter como única opção a rua — como acontece com a maioria dos LGBTs.
Dentro do PT, a jornada da militância continuou. No partido, ela teve a oportunidade de ser da executiva nacional da JPT, coordenadora da setorial LGBT e hoje é Secretária Nacional LGBT do PT. Foi nos espaço de organização da juventude, LGBT e de combate ao racismo que ela transformou sua visão de mundo e percebeu o papel do partido na vida das pessoas e no diálogo com os movimentos sociais.
“Esse processo de ajudar a construir um projeto cada vez mais inclusivo, me faz ter muito orgulho do PT”, Janaína Oliveira
Dentre os momentos marcantes de sua vida, está o encontro com sua companheira e a certeza que ninguém iria separá-las. Quando decidiram viver juntas aos 19 anos, optaram por seguir a vida que escolheram para si diante de um mundo hostil e uma sociedade preconceituosa. Hoje estudante de Direito e com o sonho de adotar uma criança, Janaína também tem orgulho de viver sem ter vergonha de quem é, muito menos de quem ama. É esse traço de coragem, determinação e a luta por uma sociedade mais livre que faz seus passos seguirem adiante.