O senador João Capiberibe (PSB-AM) se dirigiu ao plenário do Senado perguntando: “O que somos nós nesse momento? Juízes ou políticos? Respondo por mim. Não me cabe a toga da justiça, nesse momento sou o que sou, político. Um político profundamente engajado na democracia”. Ele ainda falou da necessidade de se reconstruir a credibilidade da política.
Para Capiberibe, “a política é o amálgama das demais atividades humanas. Sem o mínimo de coesão, a sociedade se desencontra, desintegra-se”. Ele disse reconhecer nossa carência de uma ideia ampla de nação que coloque brasileiros e brasileiras no mesmo cesto da felicidade. “Que não deixe os mais pobres do lado de fora”.
“A história se repete”, disse o senador. “Coloco na roda do presente o Marechal Deodoro da Fonseca, que liderou uma quartelada e destronou ao amigo e imperador D. Pedro II”. Ele mencionou que para alguns historiadores, isso ocorreu porque a Princesa Isabel assinou a Lei Áurea, desagradando os senhores do agronegócio da época. “Esse episódio marcou a proclamação da República”, acrescentou.
“Desde lá, esses homens brancos e letrados, com direito a votar e ser votados, zelosamente organizaram a governança da nação brasileira, para si e para os seus”, prosseguiu o senador. “Infelizmente, até hoje se sentem senhores absolutos dos anéis. Vira e mexe comenta-se nesse plenário sobre a república da Avenida Paulista, com seus patinhos amarelos”.
De acordo com Capiberibe, o impeachment de Dilma Rousseff é similar à quartelada do Marechal Deodoro, só que com mais sofisticação. “Ao invés de fuzis e baionetas, usam a Constituição para apeá-la da presidência. Mudam-se os personagens e a correlação de forças, mas o transe político é semelhante.”
O político de Macapá afirmou: “A acusação de que a presidenta recorreu em crime de responsabilidade é frágil. Quase ingênua, num país como o nosso. Do meu ponto de vista não se sustenta”.
O julgamento é político; o formalismo processual serve de cortina de fumaça para tentar justificar a rebelião política”
“Na verdade, a acusação que deu origem ao processo carece de comprovação, mas nada disso importa nesse momento”, afirmou Capiberibe. “O julgamento é político; o formalismo processual serve de cortina de fumaça para tentar justificar a rebelião política”.
“Não tive nenhuma participação no governo do PT e PMDB liderado pela presidenta Dilma. Muito pelo contrário, fui crítico ácido”, afirmou o senador. “Em contrapartida, reconheci seus acertos. Decido pela soberania do voto popular. Decido pelo que é melhor para a democracia.
Ele prosseguiu afirmando que “Não tenho esperança de sair da crise pela condução que estamos dando nesse momento. Vivemos quadro preocupante. Vivemos o sectarismo que se alastra pelas ruas, pelas escolas, aqui mesmo no plenário do Senado e até em nossas relações familiares”.
Ele lembrou da crise política que levou a transição da ditadura para a democracia. “No dia 25 de abril de 1984, com a rejeição da emenda Dantes de Oliveira pela Câmara Federal, que propunha eleições diretas, o povo ficou de fora do acordo de bastidores e das elites”.
Para ele, “essa estranha aliança sustentada no loteamento de cargos públicos atravessou o tempo e chegou aos nossos dias, e tudo indica que vai continuar”.
Capiberibe disse que a corrupção é uma das doenças congênitas da política brasileira. “Temos leis que nos permitem acompanhar os gastos públicos com muita eficiência. Temos um antídoto contra a corrupção, mas não basta a lei, é preciso que você, cidadão, você que nos acompanha neste momento dramático, que você se organize e se mobilize em exercer o controle social”.
Para ele, “a criação dos portais de transparência de todos os entes federados foi o primeiro passo. Vivemos hoje a era da tecnologia da informação e da comunicação em que toda informação está à distância de um clique, disponível a qualquer hora. Hoje, graças às redes sociais, essa ferramenta digital começa a ser utilizada pelos cidadãos para acompanhamento e controle social da execução de orçamentos públicos”.
“Por fim, repito o que falo desde março: o impeachment não resolve a crise. Precisamos de uma saída pactuada”. Capiberibe diz que a saída é chamar um plebiscito para que o povo decida se quer uma eleição.
“Precisamos o povo como juiz, mediador e árbitro definitivo dessa crise, por uma razão: estamos em uma sinuca de bico. Mesmo atingidos e maculados por denúncias de corrupção, a maioria dos políticos não desapega dos cargos públicos e a lava jato comprova isso”. Ele finalizou dizendo que, “pelas razões expostas e pela democracia, declaro meu voto contra o impeachment”.
Da Redação da Agência PT de Notícias