São Paulo assiste o colapso da falta de água em São Paulo se aproximando como se fosse uma história de terror daquelas bem apocalípticas, feitas em Hollywood. Como se fosse um cometa que assombra aquelas cidades americanas, que todos os dias recebem a notícia de que o desastre está cada vez mais próximo, os paulistas recebem todos os dias a contagem regressiva do primeiro volume morto do Cantareira, que está cada vez mais perto do fim.
Tal qual a ficção, o desastre não se consumou ainda e os prejuízos já ocorrem. O temor não espera a hora final: o preço dos caminhões pipa já disparou 270%. Certamente, o custo de abastecimento de água redundará em aumento de preços dos serviços e é obvio que empresas e agricultores irão adiar investimentos. Em São Paulo, por culpa da crise hídrica, teremos inflação por um lado e retração econômica por outro.
Tal como nos filmes, existem autoridades que, mesmo ciente dos fatos, não informam a verdade. Ocultam detalhes importantes e preciosos para a população. Esquivam-se de responsabilidades, ao mesmo tempo, que, com hipocrisia, enfrentam as críticas com desdém.
Assim, se questionados, serão frios e técnicos em público, presunçosos nos bastidores. Não se assustem se alguma gravação não oficial revelar que esses personagens chamam seus interlocutores de vagabundos e sem-vergonha. Enfrentam a cobrança dos representantes do povo como se “estivessem em um teatrinho que não vai dar em nada”:
Na ficção e na vida real teremos dificuldade de entender como essas autoridades chegam ao poder e como conseguem continuar, eleição após eleição. O enredo sugere grande capacidade de manipulação, talvez com apoio de parte da imprensa dita “livre”. Mas, não há tempo para reflexões mais profundas. O desastre se aproxima e precisamos saber, individualmente, como mitigar os prejuízos.
O discurso enganador atribui a origem do desastre às forças da natureza. Sabemos, entretanto, que mesmo que existam problemas imprevisíveis, as autoridades não se podem furtar ao papel de enfrentar os problemas com planejamento e planos de contingência. Se por ventura as obras não fossem feitas, seriam necessárias medidas emergenciais como o racionamento.
Mas as autoridades da ficção e de nossa realidade paulista não se curvam a imperativos éticos. Chamam a falta de água de “administração da disponibilidade hídrica”.
Enganam, adiam decisões importantes por interesses mesquinhos e potencializam os danos daquilo que já seria ruim por natureza. Na ficção, o problema de índole, de moral, é característico dos bandidos, que antes de duas horas de película serão derrotados pelos mocinhos. Na democracia real é diferente: o problema é ético, de falta de compromisso com o cidadão, que só pode ser superado nas urnas, dentro de um longo processo de aprimoramento democrático.
*João Paulo Rillo é deputado estadual e líder da bancada do PT na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo