No local que serviu de palco para o primeiro congresso nacional do MST, em 1985, a 17ª Jornada de Agroecologia voltou a colocar Curitiba no foco das lutas pelas causas do campo no ato de abertura realizado nesta quarta-feira (6).
O evento, que ocorre até o próximo sábado (9), está entre os maiores do setor do Brasil e é organizado por mais de 40 movimentos sociais e entidades do Paraná. O ato contou com a participação do teólogo Leonardo Boff e da atriz Letícia Sabatella. Durante todo o evento o público gritava “Lula Livre” e pedia a volta do ex-presidente.
O coordenador do MST, Roberto Baggio, fez questão de convocar a plateia a gritar “Boa Noite, presidente Lula”, e lembrou de quando o então líder sindical era uma das pessoas mais aguardadas durante o congresso realizado ainda em 1985. “Este momento tem significado muito importante. Além de ter sido o local do primeiro congresso nacional do MST em 1985 também teve a honra de receber Luiz Inácio Lula da Silva. Dizíamos na época que sem reforma agrária não haveria democracia. Hoje temos a batalha pela democracia e também pela reforma agrária”, declarou.
Baggio também ressaltou a trajetória de quase duas décadas da Jornada. “A caminhada dos 17 anos desta jornada foi uma grande articulação e um grande movimento para conhecer o Paraná. E na medida que a gente conhecia o estado a gente conhecia as suas contradições. A jornada sempre motivou os trabalhadores do campo par que se organizassem e lutassem”.
“Durante este tempo nós enraizamos um projeto de agricultura popular e soberana. Temos acúmulo de experiência do ponto de vista filosófico. Nós precisamos recuperar a democracia. Precisamos avançar numa democracia popular que vai muito além dessa democracia institucional. Tudo isso aqui depende de nós porque não podemos esperar mais nada da elite. Para reconstruir este país é com nós mesmos”.
Margareth Mattos, procuradora do Ministério Público do Trabalho, também saiu em defesa do MST e tudo o que o movimento representa para as causas do campo no Brasil. “As pessoas precisam conhecer quem é o MST e para isso precisamos de uma mídia independente para mostrar o quanto vocês fazem em prol da sociedade brasileira. Vocês fazem um trabalho maravilhoso de sonhar com uma agroindústria com alimentos agroecológicos e conseguem tirá-lo do papel”, defende.
Sobre a hipótese de que produtos agroecológicos, uma das marcas do MST, serem mais caros, Margareth é enfática: “Ele é mais caro porque custa uma mão calejada, um suor no rosto do trabalhador. O que ele precisa ter é subsídio do governo para que chegue mais barato aos trabalhadores. Eu não posso deixar de citar uma frase que eu gosto do Papa: que não tenhamos uma família sem teto, nenhum trabalhador sem direitos e nenhum camponês sem terra”.
Olímpio de Sá, promotor público lembrou também o ato da década de 80: “Em 1985 o MST neste mesmo espaço realizou seu primeiro encontro estadual. De lá para cá eu não tenho dúvida em dizer que foi graças a participação decisiva que avançamos na questão agrária”.
Salvar a terra
Organizado por mais de 40 movimentos sociais e entidades do Paraná, o evento terá cerca de 80 atividades até 9 de junho e teve como convidado especial na conferência de abertura o teólogo Leonardo Boff, que discorreu sobre os problemas decorrentes da iminente escassez de água no mundo e a necessidade de preservar a natureza e os bens que ela oferece.
“Essa escassez da água é um problema terrível e global. É outro problema grave que pesa sobre a humanidade na maioria dos países. Até no Brasil que tem abundância de água ela é má distribuída”, afirmou o teólogo e amigo de Lula, que tentou visita-lo em 19 de abril, mas foi impedido pela juíza Carolina Lebbos. Na segunda tentativa, ele conseguiu visitar o amigo Lula. Durante o ato, ele lembrou as lutas do MST e falou sobre os retrocessos e sobre o mal que o capitalismo faz ao povo pobre, mas também ao planeta.
“A luta de vocês é esta no dia a dia. Está no campo, mas sem perder um horizonte maior. Nunca na história da humanidade chegamos numa situação tão crítica em relação à natureza”.
Boff citou o Papa Francisco: “Eu prefiro acabar com uma frase do papa: irmãos e irmãs sigamos cantando que os problemas da humanidade amanhã na terra não nos tire a alegria e a esperança. Nós vivemos dessa alegria e esperança”. Finalizando a palestra. Logo depois, a atriz Letícia Sabatella cantou para os presentes após o ato político.
Da Redação da Agência PT de Notícias