O jornal argentino “Página 12” publicou, no domingo (26), um artigo em que fala sobre a “campanha suja” contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em curso no Brasil. No texto, Darío Pignotti lembra a recente investigação aberta pelo Ministério Público Federal contra o petista e dá ênfase ao currículo “duvidoso” do procurador.
“No Brasil, um procurador-adjunto, sem currículo acadêmico expressivo e com uma ficha de serviços judiciais em que sobressaem 245 avisos por desempenho negligente e/ou demorado, acusou em tempo recorde o ex-presidente e líder do PT”, diz o artigo.
Além disso, o texto relembra a campanha difamatória contra Lula em 1989, durante campanha presidencial. “Era preciso descontruir a imagem, ou melhor, a legitimidade de Lula através de notícias trapaceiras e da montagem do debate final no estúdio de televisão”.
No artigo, Pignotti fala sobre a fragilidade da denúncia contra o ex-presidente e relembra publicação da revista “Época”, que cita suposto “tráfico de influências” de Lula.
“Quem vai lendo e relendo os quase 20 mil caracteres da reportagem publicada em 30 de abril e citado pelo procurador para fundamentar suas suspeitas, chegará a conclusão de que a reportagem tem tantos indícios contra Lula como tinham as pastas vazias que levaram à presidência a dupla Collor-Globo em 1989”, afirma o texto.
Em comentário ao jornal sobre os ataques contra o ex-presidente, o líder do PT no Senado, Sibá Machado, disse que há uma tentativa de impedir Lula de retornar à Presidência da República, em 2018.
“O eventual retorno do líder petista nas eleições de 2018 é uma hipótese contra a qual trabalha a família Marinho, dona da Globo, e seus sócios políticos locais. Esse bloco contrário ao eventual regresso de Lula em 2018 possivelmente conta com o aval de grupos de interesses estrangeiros, “provavelmente norte-americanos”, comprometidos com a restauração de um projeto de livre mercado hemisférico, comentou com este jornal o chefe da bancada de deputados do PT, Sibá Machado”, conclui o texto.
Leia o artigo (tradução livre):
Campanha suja contra Lula é reavivada
No Brasil, um procurador-adjunto, sem currículo acadêmico expressivo e com uma ficha de serviços judiciais em que sobressaem 245 notificações por desempenho negligente e/ou demorado, acusou em tempo recorde o ex-presidente e líder do PT.
Por Darío Pignotti
Pastas vazias. Em dezembro de 1989, as intenções de voto para o candidato Luiz Inácio Lula da Silva cresciam sistematicamente, quanto se estabilizavam as do candidato favorito Fernando Collor de Melo, finalmente eleito presidente graças ao auxílio prestado pela corporação Rede Globo. Era preciso descontruir a imagem, ou melhor, a legitimidade de Lula através de notícias trapaceiras e da montagem do debate final no estúdio de televisão, na qual Collor chegou um uma volumosa pasta em que assegurava que estavam provas irrefutáveis dos ilícitos cometidos por seu viral. Vinte e um anos depois, o ex-diretor da Globo admitiu ter maquinado o espetáculo de Collor posando de justiceiro diante das câmaras com um portfólio cheio de papéis em branco.
Pesquisas subsequentes combinadas com essa fraude eletrônica, complementada pela reedição do debate dos candidatos igualmente tendenciosa, reverteram a curva de aprovação ascendente de Lula, que três dias depois, em 17 de dezembro de 1989, sofreria sua primeira derrota presidencial perante a Globo, a única força política que sobreviveu impune aos 21 anos de ditadura, obstruindo a transição democrática (censurando as mobilizações massivas por eleições diretas), e se prolongou como partido hegemônica até os dias atuais.
Duas semanas atrás, um procurador-adjunto, sem currículo acadêmico expressivo e com uma ficha de serviços judiciais em que sobressaem 245 avisos por desempenho negligente e/ou demorado, abriu um “Processo de Investigação Criminal” em tempo recorde contra Lula, em quem recaem suspeitas de crime de “tráfico de influências internacional”.
O funcionário suplente conhecido por sua velocidade de tartaruga na comarca judicial de Brasília (integrada por vários procuradores e juízes antilulistas) iniciou o procedimento investigativo atropelando o prazo previsto pela procuradora titular que terminava em setembro.
E o fez baseado em matérias publicadas pelo grupo Globo nas quais se associava as viagens de Lula ao exterior entre 2011 e 2014 com alegada representação fraudulenta em favor da construtora Odebrecht, com atuação em vários países e há décadas favorecida pelas gestões de governantes civis e militares.
Em uma matéria ilustrada com a imagem de Lula com gesto intrigante, a revista Época o define como um “operador” das construtoras e associa, sem comprovação documental nem testemunhal, sua agenda internacional com o tráfico de influências.
O semanário da Globo mostra fac-símiles que confirmam as viagens, o que é redundante, porque estas foram públicas, e ignora que a maior parte delas não foram realizadas a pedido da Odebrecht. Para completar a desinformação, a nota se esquiva de explicar devidamente que várias dessas viagens ao estrangeiro foram para receber prêmios e títulos de doutor honoris causa na Espanha, Estados Unidos e México, ou para reunir-se com ex-presidentes, como fez por duas vezes com Bill Clinton.
Quem vai lendo e relendo os quase 20 mil caracteres da reportagem publicada em 30 de abril e citado pelo procurador para fundamentar suas suspeitas, chegará a conclusão de que a reportagem tem tantos indícios contra Lula como tinham as pastas vazias que levaram à presidência a dupla Collor-Globo em 1989.
A falta de informação oferecida pela Globo em essa e outras matérias similares se transformaria em um escândalo mundial em questões de horas: agências internacionais e redes de televisão globais replicaram a notícias de que Lula estaria envolvido em um suposto complô. A bola de neve se agigantou com o passar das semanas e aquela notícia oca inspirou análises cautelosas, especialmente na imprensa anglo-saxônica, e ainda mais nos meios financeiros anglo-saxões como o Financial Times, que na semana passada escreveu um editorial sobre o “filme de terror” de um Brasil que se afunda na corrupção e só se salvará com um plano de ajuste exemplar. Como é imposto â Grécia? Possivelmente sim.
Aliás, as teses neoliberais ao extremo do Financial Times são tomadas como próprias pela Globo, que imagina como um futuro próximo pós Lula e pós Dilma Rousseff, que a querem fora do Planalto apesar da política ortodoxa de seu ministro da Fazenda Joaquim Levy, que já foi funcionário do FMI e do banco privado Bradesco.
A urgência do grupo midiático mais concentrado da América Latina para virar a página da era “lulopetista” se resumiu na semana passada em um artigo de opinião intitulado “Sem tempo” com argumentos a favor de uma saída antecipada de Dilma e a continuidade do ortodoxo ministro Levy em uma gestão pós golpe institucional.
Como os nazistas.
Poucos jornalistas conhecem como Tereza Cruvinel a lógica política da Globo, empresa na qual trabalhou durante mais de uma década como colunista política. Cruvinel assegura que o plano editorial para acabar com o capital simbólico e político de Lula tem um capítulo fundamental com sua chegada ao poder em 2003.
“Esta novela começou a ser esboçada desde 2003 e agora começa a tomar forma. Em um epílogo desenhado por seus autores, Lula sai da história, lugar ao qual tem direito por sua trajetória e termina vergonhosamente como um processado (declarado pela Justiça), inelegível, e assim o povo não repete a ousadia de voltar a eleger alguém que veio da pobreza e da classe trabalhadora”, afirma Cruvinel.
Lula respondeu na sexta-feira as acusações da Globo em conluio com procuradores e partidos de direita. “Tenho a impressão de que o que vemos na televisão se parece com os nazistas criminalizando o povo judeu, com os romanos criminalizando os cristãos. Estou cansado de ver este tipo de criminalização contra as esquerdas”, disse.
Vermelho de indignação, enalteceu a honestidade de Dilma, caluniada diariamente com insinuações sem provas, ao falar em um ato com sindicalistas no cinturão industrial de São Paulo. Vestindo a camisa de militante, o ex-presidente percorre o Brasil denunciando a intensão do golpe branco contra Dilma, reivindicando a política econômica distributiva dos governos petistas assim como a continuidade da política externa latinoamericanista.
Apesar das companhas contra, tem mantido uma agenda de encontros internacionais que nos últimos meses incluiu os presidentes Evo Morales e Cristina Fernández, o secretário geral da Unasul Ernesto Samper e o titular do Parlamento venezuelano Diosdado Cabello, encontro ocorrido pouco antes de uma missão de senadores oposicionistas brasileiros viajar para a Venezuela para encontrar-se com os referentes golpistas de lá.
Lula é o único sobrevivente da trinca sul-americana, junto com Néstor Kirchner e Hugo Chávez, que em 2005 freou o projeto de “anexação” da Alca fincado por George Bush quando este desembarcou em Mar del Plata acreditando que ninguém se atreveria. Tinha ao seu lado o corpulento presidente mexicano Vicente Fox que se revelou um anão político de burrice diplomática ímpar.
O eventual retorno do líder petista nas eleições de 2018 é uma hipótese contra a qual trabalha a família Marinho, dona da Globo, e seus sócios políticos locais. Esse bloco contrário ao eventual regresso de Lula em 2018 possivelmente conta com o aval de grupos de interesses estrangeiros, “provavelmente norte-americanos”, comprometidos com a restauração de um projeto de livre mercado hemisférico, comentou com este jornal o chefe da bancada de deputados do PT, Sibá Machado.
Por Luana Spinillo, da Agência PT de Notícias