Um golpe de Estado está em curso no Brasil. Esta é a avaliação da professora de Estudos Latino-Americanos e especialista em Brasil da Universidade de Leiden, na Holanda, Marianne Wiesebron. No dia 18 de abril, um dia após a votação do impeachment da presidenta Dilma Rousseff na Câmara dos Deputados, o jornal holandês ‘de Volkskrant’ publicou entrevista com a pesquisadora.
“Um golpe de Estado está em curso no Brasil. Todo mundo sabe que é justamente Rousseff quem não é corrupta”, afirmou Wiesebron. Para ela, o processo de impeachment contra Dilma é antidemocrático. “O processo de impeachment existe para lutar contra o crime, e o que Rousseff fez não cabe na definição necessária para uma renúncia ao cargo”, completou.
Segundo Wiesebron, é evidente o papel do vice-presidente Michel Temer (PMDB) no golpe contra Dilma. “Já faz um ano que um grupo de oito se prepara para tirar Rousseff do poder. Um deles é o vice-presidente Michel Temer. No mês passado, seu partido deixou a coligação com o PT de Rousseff, mas ele não. E por quê? Porque com a queda de Rousseff ele sobe ao poder. Esta é única maneira pela qual eles podem tomar o poder”, disse.
A pesquisadora lembrou que o próprio Temer é suspeito de ter cometido irregularidades, assim como o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). “É hipocrisia ao extremo. Principalmente porque durante as viagens oficiais de Rousseff, ele mesmo, como vice-presidente, não era avesso à contabilidade criativa. Seu colega de partido e Presidente da Câmara, Eduardo Cunha, também não é diferente. Ele foi mencionado nos Panamá Papers, mas pede que fechem os olhos para as suas finanças questionáveis como uma recompensa pela queda de Rousseff”, enfatizou.
Na opinião de Wiesebron, estão querendo tirar Dilma porque “a direita brasileira não suporta a ideia de que o Partido dos Trabalhadores já está há 14 anos no poder e ajudou 30 a 40 milhões de pessoas a sair da pobreza”. “Com a ascensão da classe média, eles estão vendo seus privilégios desaparecer. Depois da reeleição de Dilma em 2014, eles apelaram três vezes ao conselho eleitoral contra a vitória e perderam as três vezes. Mas parece que eles acabarão conseguindo a vitória de uma maneira antidemocrática”, disparou.
Ao ser perguntada o que pode acontecer a partir de agora, a professora da Universidade de Leiden afirmou que o processo de impeachment precisa ser parado no Senado. “Oito mil advogados brasileiros já assinaram um manifesto com esse apelo. Eles também acham que um golpe de Estado está em curso. Agora é o Senado que decidirá se o procedimento realmente será instaurado”.
Wiesebron finalizou afirmando que o povo brasileiro está nas ruas contra o golpe, mas que isso, “dificilmente é refletido na mídia brasileira, que também é anti-Rousseff”. “A gigante midiática Globo desempenha um papel particularmente nocivo. Recentemente um veterano foi demitido, porque disse ser contra o impeachment e, consequentemente, a favor da permanência de Dilma. É assim no Brasil: as notícias são estupradas. Desculpe a palavra, mas não posso descrevê-lo de outra forma”, destacou.
Desde o início do processo de impeachment de Dilma, outros diversos veículos internacionais denunciaram o golpe em curso no Brasil e manifestaram preocupação com a condução do caso por Eduardo Cunha (PMDB).
Por Luana Spinillo, da Agência PT de Notícias