O jornal uruguaio “La República” pulicou, nesta segunda-feira (25), um artigo do ex-ministro Celso Amorim em defesa da entrega do Prêmio Nobel da Paz para o ex-presidente Lula, baseado em seu trabalho no combate à fome e sua postura diplomática, que foi central para a mediação de conflitos na América do Sul e em outros continentes.
Neste sentido, cita sua atuação para criar o Grupo de Amigos da Venezuela, que evitou uma guerra civil no país vizinho e a mediação de um conflito interno da Bolívia como ações pela paz no continente sul-americano. No âmbito global, destaca a Conferência de Anápolis, que traçou uma rota para conquistar a paz entre Palestina e Israel, que assola o território desde o século 1948. Junto com a Turquia, também conseguiu possibilitar a Declaração de Teerã, que abriu caminho para o Acordo de Irã, um acordo nuclear assinado pelo Irã, Estados Unidos e mais cinco países.
A campanha para que Lula receba o Nobel da Paz teve início com o argentino Adolfo Pérez Esquivel, que recebeu o prêmio em 1980 pela fundação do Servicio Paz y Justicia en América Latina (Serviço Paz e Justiça na América Latina), que desde 1974 defende os Direitos Humanos e difunde a não-violência na região.
Para o argentino, Lula merece ser reconhecido pelo seu trabalho para eliminar a fome no Brasil e instituir o Bolsa Família, que foi modelo para outros programas na América Latina, Caribe e África. E é reconhecido pela Organização das Nações Unidas como exemplo mundial para erradicação da pobreza.
Leia o artigo na íntegra
Prêmio Nobel para Lula
Seis dias após a prisão do Presidente Lula, Adolfo Pérez Esquivel lançou, por uma plataforma da internet, a campanha em favor da indicação do ex-Presidente brasileiro ao Prêmio Nobel da Paz. Poucas semanas antes ele havia estado com Lula no Instituto que leva o seu nome e mencionara a ideia. Acompanhei o ativista argentino de Direitos Humanos, levado pela jurista Carol Proner, nessa visita. Na ocasião, Esquivel fundamentou sua proposta lembrando o trabalho de Lula para eliminar a fome no Brasil e a influência que o nosso programa Fome Zero teve em várias partes do mundo, tanto pelo exemplo quanto por meio de programas concretos de cooperação, sobretudo na América Latina e Caribe e na África.
A importância da iniciativa de Lula não escapou a líderes de várias partes do mundo. O Presidente francês Jacques Chirac se associaria ao nosso presidente em uma Campanha Global de Combate à Fome e à Pobreza, à qual se juntaram outros Chefes de Governo, como Ricardo Lagos, do Chile, e José Luis Zapatero, da Espanha, além do Secretário Geral da ONU, Kofi Annan. Em 2004, durante a Assembleia Geral da ONU, realizou-se uma reunião de Cúpula, que reuniu cerca de cem países, com a presença de algumas dezenas de Chefes de Estado e de Governo. Recordo-me, até hoje, da frase que escutei casualmente de um diplomata francês que, ao entrar no recinto da reunião, comentou com um colega: “o Brasil abraça o mundo”.
Obviamente, todo esse esforço teria pouco significado, não tivesse o Governo Lula retirado da pobreza extrema cerca de quarenta milhões de brasileiros, o que levou o Brasil a sair do Mapa Mundial da Fome da FAO. Essa verdadeira façanha, sem precedentes na história, fruto de uma vontade política e de uma capacidade de mobilização raramente vistas, teve lugar em plena democracia, sem violência ou conflito, o que fez de Lula um dos líderes mais admirados no mundo, independentemente do nível de desenvolvimento dos países e de inclinações ideológicas.
O combate à fome no Brasil e a campanha mundial já seriam razões suficientes para fazer com que Lula seja merecedor da honraria proposta por Pérez Esquivel, que hoje conta com perto de quinhentos mil apoiadores, incluindo as mais diversas personalidades da política, dos movimentos sociais, da cultura e das artes, assim como dos meios acadêmicos.
Mas a política de Lula teve outras dimensões igualmente importantes para a Paz na nossa região e no mundo. Seja por meio da integração da América do Sul, seja através de ações diretas em prol do diálogo e da conciliação, o ex-presidente contribuiu de forma decisiva para que os problemas internos e entre países fossem resolvidos pacificamente. Mais de uma vez, nações desenvolvidas e a mídia internacional reconheceram esse papel pacificador, ilustrado, entre outros, pela criação do Grupo de Amigos da Venezuela, que evitou uma guerra civil no nosso vizinho, e pela ação mediadora de Lula no conflito entre o Altiplano e a Media Luna na Bolívia.
O Brasil de Lula também exerceu esse papel em questões de alcance global. No Oriente Médio, o Brasil participou, a convite de Washington, da Conferência de Annapolis, que relançou o Mapa do Caminho para a paz entre Palestina e Israel, baseado no conceito de dois Estados independentes, vivendo lado a lado e em segurança. Juntamente com a Turquia, o Brasil participou da negociação da Declaração de Teerã, que foi precursora do acordo, anos depois firmado entre os Estados Unidos e mais cinco países com o Irã.
Todos esses fatos fazem que venha à mente, quando se fala de Lula para o Prêmio Nobel, a frase do Presidente Barack Obama: “Este é o cara”.
Celso Amorim é ex-ministro das Relações Exteriores (2003-2010, governo Lula) e da Defesa (2011-2015, governo Dilma), preside o Comitê de Solidariedade Internacional em defesa de Lula e da Democracia no Brasil.
Da Redação da Agência PT de Notícias com informações do Instituto Lula