Quarenta e quatro bilhões. Isso é quanto vale o Brasil para esse governo ilegítimo e inescrupuloso. Inescrupuloso porque em seu novo pacote de privatizações tem coragem de prever a venda até da Casa da Moeda. Sim, a Casa da Moeda. Uma das instituições mais antigas e respeitadas do país, criada ainda no Império, em 1694, e hoje uma das únicas empresas do mundo a dominar toda a tecnologia para a confecção não só de dinheiro, mas também de passaportes e selos fiscais.
Mas o governo pretende vender também o controle dos nossos recursos hídricos, com a privatização da Eletrobras, e já fala mais uma vez em privatizar a Petrobras. Não basta entregar parte do controle do petróleo às empresas estrangeiras. Para saciar o grande capital, é necessário entregar tudo – vender cada milímetro da soberania nacional.
Apesar do absurdo que esses dois fatos já representam, o pacote de Temer não para por aí – a intenção é vender na bacia das almas 57 empresas e serviços hoje prestados pelo Estado, muitos deles estratégicos para o Brasil. É o caso da Eletrobras. Com a venda da empresa o governo pretende arrecadar R$ 20 bilhões. Um troco para uma empresa que conta com 114 termelétricas, 47 hidroelétricas, 69 usinas eólicas e gera mais de 47 mil megawatts de energia.
Mas mais importante ainda do que esse serviço prestado é o papel estratégico de regular a geração de energia elétrica no país, principalmente se considerarmos que praticamente toda a energia brasileira tem geração hídrica, de baixo custo de geração e com pouco impacto ambiental. Todos sabem que a nova fronteira do desenvolvimento, e mesmo da manutenção do padrão civilizatório atual, depende da geração de energia renovável, exatamente o caso da produção brasileira. Por isso a ânsia da iniciativa privada em controlar esse mercado. E esse governo, claro, está muito disposto a, mais uma vez, prestar seus serviços a quem controla o capital.
A cada dia fica mais claro que não foi por acaso que se perpetrou um golpe de Estado contra uma presidente honesta e legitimamente eleita nesse país. O que estava em jogo naquele momento, e continua em disputa agora, era a soberania do país. É claro que o “deus mercado” não poderia permitir que um país periférico no capitalismo continuasse a deter o controle absoluto de suas reservas naturais – como água e petróleo – e, com isso, fazer frente a interesses privados poderosos.
Não por acaso, a primeira medida aprovada após a chegada de Temer ao poder foi a mudança do regime de exploração do petróleo do pré-sal. Com o regime de partilha quem decide quando e como explorar as reservas é o Estado brasileiro. Claro que não poderia continuar assim. Por isso alteraram novamente a legislação para transferir essa decisão ao mercado. Com o regime de concessão, o governo até arrecada uma parte do lucro, mas fica fora das decisões estratégicas sobre a gestão de uma de suas maiores fontes de riqueza.
E agora o governo pretende entregar o outro bem que hoje já é o mais disputado no mundo, inclusive em guerras, – o controle das nossas águas. Sim, porque a privatização da Eletrobras nada mais significa do que entregar ao mercado a gestão dos nossos recursos hídricos, uma vez que, como já foi dito, a quase totalidade da energia consumida no Brasil vem dos rios.
Mas o servilismo não tem limites. E o governo quer repassar também ao senhor mercado o controle do nosso espaço aéreo. Parece inacreditável. O pacote de privatizações da Era Temer prevê a concessão à inciativa privada do Departamento de Controle do Espaço Aéreo (Decea). Em qualquer lugar do mundo o controle do espaço aéreo é considerado item sagrado da soberania de um país. Por isso, não basta vender os aeroportos, inclusive os mais lucrativos, até porque já está claro que não é disso que se trata, é preciso vender tudo que resta da nossa SOBERANIA.
Em nome de equilibrar as contas públicas, esse governo vende o país, e por um valor que sequer chega perto de cobrir as benesses que ele mesmo concede ao “andar de cima”. Basta lembrar que cálculos da Receita Federal e da Controladoria da União mostram que apenas com o programa de refinanciamento de dívidas (Refis) – sempre de grandes devedores, claro – o Tesouro vai perder mais de R$ 220 bilhões até 2020. Portanto, fica cada vez mais patente que o discurso da austeridade não passa de um mal disfarce para a venda pura e simples do Brasil. E por um trocado.
José Guimarães é advogado, deputado federal (PT-CE), líder da oposição na Câmara