O ex-presidente uruguaio José Mujica (2010 – 2015) está oficialmente afastado da política desde que renunciou ao senado do país portenho por “estar cansado da longa viagem” iniciada desde o início dos anos 70, quando ainda era um jovem líder revolucionário.
Ainda assim, o carismático Pepe, como é conhecido, não conseguiu abdicar de suas contundentes posições em defesa da democracia e da estabilidade institucional tão ameaçada em toda a região. E não há causa em que se disponha a defender com tanto afinco – dada a simbologia que carrega – quanto a liberdade do ex-presidente e amigo brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva.
Em entrevista publicada pelo portal de notícias argentino Cenital nesta terça (9), o uruguaio voltou a prestar solidariedade a Lula quando perguntado sobre as ameaças aos principais líderes políticos do continente. Pepe, então, relembrou que as perseguições acontecem “desde sempre”.
“Tudo o que quero é que Lula fique bem. Porque esta partida não acabou. Nós nunca vamos alcançar o mundo perfeito ou tocar o céu com nossas mãos. Quando nascemos, recebemos uma herança brutal. O que chamamos de civilização não começou conosco, mas com uma longa linhagem de pessoas indígenas que não conhecemos, desde a invenção da roda até a biologia molecular. É a maior coisa do homem. Tentamos dar um pequeno passo, mas a escada não termina conosco”, avaliou Pepe, mantendo o tom otimista que sempre o caracterizou.
Na entrevista ao Cenital, Pepe também criticou os avanços de ideais neoliberais e pediu que os campos progressistas pensem em novas maneiras de conduzir o debate frente ao novo cenário político que se instalara no mundo nos últimos anos. “Temos que encontrar outro caminho e essa é uma dívida que temos pela frente. Eu ainda não estou convencido pelo capitalismo (…) Se continuarmos assim, isso vai nos levar a um holocausto ecológico. Eu não sei se podemos segurá-lo”.
“Irmão mais velho”
O primeiro encontro de Mujica com amigo no cárcere político ocorreu há pouco mais de um ano, quando o uruguaio ainda era senador em seu país. Em 21 de junho do ano passado, Pepe passou cerca de uma hora com Lula na sede da Polícia Federal em Curitiba e depois falou com os militantes da Vigília. “Considero Lula como um irmão mais velho”, declarou.
Mujica, que tem mantido sua preocupação com os ataques à democracia no Brasil antes mesmo de Lula ser levado à prisão por um crime que jamais cometeu, afirmou também “que homens e mulheres podem estar presos, mas que as causas nunca estarão. Lula somos todos. Todos os que têm problemas na América Latina.”
Da Redação da Agência PT de Notícias com informações de Cenital