O Brasil não cabe no projeto medíocre, antipopular e antinacional dos golpistas.
O povo brasileiro está consciente e rejeita o plano neoliberal de entrega do país a grupos econômicos que pretendem subtrair livre e desmedidamente as riquezas nacionais e submeter o povo brasileiro a condições de superexploração.
A usurpação de direitos dos trabalhadores; a desregulamentação da economia; o enfraquecimento dos sindicatos; a privatização das estatais; a liberação da exploração indiscriminada dos recursos naturais; o desmonte da educação e a disseminação da insegurança e do medo culminando na vergonhosa entrega da soberania nacional são dimensões do processo de recolonização do Brasil iniciado no golpe que destituiu presidenta Dilma e que está tentando se perpetuar.
A cada dia que passa, a sociedade brasileira compreende com mais clareza que o golpe não foi apenas contra o governo do PT. Foi um golpe no futuro do país. Foi contra o Brasil, contra os interesses da maioria dos brasileiros e contra o nosso futuro como povo livre e nação soberana.
Esta verdade foi estampada dias atrás na capa do maior jornal do país, que publicou o resultado de uma pesquisa do Datafolha na qual se vê claramente a repulsa da maioria da população ao projeto neoliberal que impulsionou o golpe.
Nem a campanha da mídia para manipular a opinião pública e dar sustentação ao golpe foi capaz de esconder os interesses por trás da criminalização do PT e das esquerdas e, principalmente, a perseguição e tentativa de destruição da imagem do presidente Lula.
A pesquisa do Datafolha é clara:
-71% dos brasileiros rejeitam a reforma da Previdência;
-58% são contra a reforma trabalhista;
-70% são contra a privatização das estatais, sobretudo da Petrobras;
-71% dos brasileiros rejeitam Temer;
-87% não votariam em candidato com seu apoio.
Ninguém mais duvida de que está em curso um projeto de submissão do Brasil empreendido por grupos econômicos estrangeiros, associados a uma elite nacional impatriótica e desumana composta de políticos, homens e mulheres do poder judiciário, ruralistas e empresários apoiados por grupos de jornalistas e de intelectuais indiferentes às desigualdades sociais brasileiras e identificados com o que há de pior no capitalismo. Querem transformar o Brasil no que foi o Chile de Pinochet. Uma espécie de parque temático neoliberal.
São nítidos os interesses econômicos por trás do golpe, assim como não dá mais para esconder o partidarismo da operação Lava Jato e da mídia corporativa, que têm o PT e o presidente Lula como alvo exclusivo. O resto é a degradação do Estado brasileiro e suas instituições, o escárnio, a arrogância e o desrespeito ao que já tínhamos conquistado de vida democrática. Os insultos à cidadania são constantes e em grande quantidade.
Esses dois movimentos, o golpe e a Lava Jato, estão cada vez mais articulados, agressivos e descarados. Já estão cuidando de restabelecer a censura. Estão em cima dos direitos conquistados pelas mulheres, pelos negros, pelos jovens, pelos povos indígenas.
Dão sinais de desespero à medida que a resistência em defesa da democracia e da soberania nacional ganha força e eleitorado insatisfeito demonstra disposição de dar uma resposta contundente nas urnas.
O apoio dos eleitores ao presidente Lula só cresce, enquanto patos e paneleiros fazem silêncio penitente e a direita se debate em busca de um nome para enfrentar a potência de uma reação popular ao golpe. Esse é o dilema dos golpistas neste momento: se não acabarem com Lula, vão ter que acabar com as eleições presidenciais de outubro.
Condenar Lula no próximo dia 24 de janeiro, na maior farsa judicial de que se tem notícia, é uma tentativa sórdida e desesperada de exclui-lo do processo eleitoral – manobra que dificilmente será bem-sucedida. Com Lula na disputa, eles têm certeza de que serão derrotados. E mesmo sem Lula, violentando os princípios democráticos que garantem eleições livres, dificilmente vencerão.
O projeto neoliberal nunca foi e jamais será aprovado nas urnas o que torna iminente o perigo de um novo golpe. As eleições de 2018 estão ameaçadas. Os golpistas farão de tudo para se manter no poder e para impedir a reorganização das forças populares e democráticas brasileiras.
Este é um momento de incertezas para todos os lados do espectro político brasileiro. É, portanto, a oportunidade de abrirmos novas frentes de resistência e de defesa da democracia. Uma grande frente democrática, multifacetada e policêntrica vem aos poucos se delineando.
Temos que mobilizar toda a sociedade, colocar em segundo plano as divisões, a polarização artificial, moralista e reacionária, que colocou grupos de trabalhadores e setores populares em campos opostos, e unir forças para garantir eleições justas e democráticas de 2018.
Nada é mais importante neste momento do que garantir a legalidade e a realização das eleições. Só com a volta da normalidade democrática evitaremos as reformas destrutivas, a entrega do patrimônio nacional e a degradação do povo e da nação brasileira.
Juca Ferreira é sociólogo, secretário de Cultura e ex- ministro da Cultura.
Texto publicado no Facebook do ex-ministro.