Militantes do Levante Popular da Juventude, do coletivo Rua, da Juventude do PT, do Juntos e da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes) foram os debatedores da tarde de terça-feira (24) na Universidade de São Paulo (USP). A programação faz parte do Seminário “Caminhos de Esquerda diante do Golpe”.
Estavam presentes nomes críticos ao governo de Dilma Rousseff e também aqueles mais otimistas com as mudanças realizadas no Brasil desde 2003. É consenso, porém, que este é o momento de unir forças para resistir ao golpe.
Uma das debatedoras foi a presidenta da Ubes, Camila Lanes. Para ela, “não é hora de ressaltar nossas diferenças, mas nossa unidade. Porque o ladrão da merenda está solto em São Paulo e se enriquecendo com dinheiro dos trabalhadores”.
Ela citou o acampamento nas ruas de Pinheiros, onde reside Michel Temer em São Paulo, e criticou o fato de a Polícia Militar nunca ter questionado os manifestantes que ficam na calçada da Avenida Paulista, a “torcida organizada pelo impeachment”. “Caminhões da Tropa de Choque, com água fria, tiraram trabalhadores da rua porque estavam na rua do Temer”, disse.
Alertou para a perda de direitos após o golpe, como bolsas de ensino superior e auxílio para permanência na universidade, e também para iniciativas de deputados conservadores, que querem anular o direito de uso do nome social por transexuais e travestis. “Se necessário, vamos ocupar a Paulista, vamos ocupar a Alesp de novo. Vamos fazer uma vaquinha e vamos ocupar o Senado. Não dá para ficar inerte agora”.
Em sua fala, Camila considerou que um dos problemas atuais é que não existe, há muitas décadas, um esforço para mudar a qualidade de escola pública. “O mesmo ensino que minha avó teve, minha mãe teve e eu tive. A escola pública parou no tempo”. Falou de sua mãe, professora, a primeira mulher da família a entrar no ensino superior.
Disse que estudantes conseguiram se organizar, seja por meio da Ubes, de outras entidades ou de maneira independente, e ocupar as escolas. “Hoje no país temos mais de 300 escolas ocupadas no Brasil. Isto é democracia”.
A militante Jessy Daiane, do Levante Popular da Juventude iniciou sua fala afirmando que a história do Brasil é aquela contada pelos conciliadores, é a “história do acordão”.
Os últimos 13 anos recompuseram a classe trabalhadora e permitiu que sua luta conseguisse avançar, e em nome da crise não se pode igualar o projeto do PT àquele do PSDB e do PMDB, disse ela. “Com todas as críticas ao projeto do PT, a gente não pode dizer que foi igual. E aí queria que vocês olhassem para o pedacinho do Nordeste. Mudou muito. Mesmo com o enorme crescimento que aconteceu, a desigualdade ainda é muito grande” argumentou Jessy. “É um governo neodesenvolvimentista comparado com um governo neoliberal, ortodoxo”, completou.
Em sua opinião, para traçar os próximos passos e conseguir avançar na história, este é o momento de fazer uma análise crítica para reconhecer os erros, mas não fazer competição de quem errou mais. “Concordo com a companheira Camila de que este é o momento da unidade”.
Citou ainda que existe uma parcela, sobretudo entre trabalhadores que melhoraram sua renda e suas condições de vida, que está órfã de organização política, e que conquistar seu apoio é importante para mudar o Brasil. “É disputar consciência, disputar projeto”.
Já para o secundarista Ícaro Andrade, este é o momento para militantes independentes e movimentos sociais retrocederem em sua atuação, mas pensar em formas de avançar. Lembrou a briga dos secundaristas contra a reforma escolar do governo de Geraldo Alckmin (PSDB-SP), considerando as ocupações das escolas uma importante ferramenta de luta. “Antes a gente queria estar na escola, agora a gente quer comer na escola. “É uma questão de direitos humanos”.
Segundo ele, os secundaristas vão se manifestar contra o golpe. Neste momento, ele considera importante a união entre trabalhadores e sindicatos com estudantes para fazer frente a Temer.
Participou do debate também Wellington Amorim, do Coletivo Rua. Sua expectativa é que sejam aplicados pacotes de austeridade. Em sua avaliação, perdas no sistema previdenciário e nos direitos trabalhistas devem ser as consequências negativas, principalmente para os jovens que não entraram ainda no mercado de trabalho. “O que temos é um golpe institucional. Quem é negro, pobre, sabe dos desafios que é morar na periferia (…) o golpe de 64 acontece todos os dias na periferia”, disse.
Há um bloco liberal e conservador no Brasil que conseguiu se organizar em momento de crise e quis barrar qualquer avanço que caminhasse para acabar com desigualdades econômicas e sociais, ponderou o secretário estadual da Juventude do PT de São Paulo, Erik Bouzan.
Existem setores que não aceitam as mudanças feitas pelo PT desde o primeiro governo de Luiz Inácio Lula da Silva. “O salto civilizatório que aconteceu no Brasil é indispensável para análise, mesmo com as críticas”.
Para Bouzan, há uma crise geracional política, não somente no Brasil, como no mundo. E as esquerdas devem aproveitar este momento para discutir como ocupar novos espaços. “É preciso fazer uma reforma real do Estado para ele conseguir realizar as reformas necessárias”, finalizou.
Por Daniella Cambaúva, da Agência PT de Notícias