Em meio a uma ofensiva conservadora e forte ataque midiático que busca destruir a legenda, na próxima quinta dia 11 de Junho inicia na cidade de Salvador o 5° Congresso Nacional do PT, que reunirá 750 delegados/as de todo o Brasil, parlamentares e lideranças que durante três dias terão a tarefa de ajudar o partido a reencontrar seus rumos em meio ao difícil momento político que o partido enfrenta. Além de temas da conjuntura, o congresso tem como pauta debater e deliberar sobre a organização interna do PT.
Como parte da agenda que antecede o calendário de realização do congresso nacional, diretórios municipais e estaduais do partido em todo o país realizaram nos últimos meses as etapas municipais e etapas estaduais. Ainda não foram divulgados os números finais, mas já é possível afirmar que todos os municípios brasileiros com mais de 150 mil habitantes realizaram etapas municipais. No Pará estamos organizados em 141 dos 144 municípios do estado, sendo 105 diretórios municipais e 36 comissões provisórias, destes, 35.4% realizaram etapas municipais.
Atualmente no PT enfrentamos excessiva burocratização partidária, esvaziamento de direção, mandatos parlamentares que agem como se fossem maiores que a direção do partido, ausência de diálogo com as nossas bases e uma grave crise de direção que em muitos casos não dá conta de responder o atual momento que o partido enfrenta. Em meio a tantos problemas colocadossurgem pessoas que de forma simplista tentam vender como saída para estes e outros problemas o fim das cotas de jovens/mulheres/negros e negras. Falar em acabar com a participação desses setores é querer propor saídas simplista para problemas que são muito mais complexos. É preciso avançar sem retroceder e isso significa ter a coragem de enfrentar os vícios instalados no conjunto do partido sem meramente entrar no discurso fácil de que o problema ou a pouca capacidade da atual direção seria a “falta de qualificação” dos atuais dirigentes.
O futuro do PT depende da manutenção da sua pluralidade, da renovação de quadros e também da capacidade de nossos dirigentes entenderem que não somos apenas uma máquina eleitoral, que temos vida e agendas partidárias que não se limitam a disputar eleições a cada dois anos. Fortalecer os setoriais do PT, nossa organização de juventude e entender o novo momento político que a sociedade vive estão entre as tarefas necessárias para corrigir rumos. É necessário debater e emitir opinião sobre temas da atualidade. O PT precisa dizer pra sociedade o que pensa sobre temas importantes. Mais do que corrigir rumos é preciso falar. É preciso falar com setores que nos afastamos no ultimo período e principalmente falar com quem sai às ruas insistindo em nos mandar mensagens que muitas vezes parece que não entendemos ou não nos esforçamos o suficiente para entender.
Nosso partido sempre teve um papel protagonista em propor coisas novas, fomos os primeiros a garantir a participação feminina em candidaturas e espaços de direções. Somente depois do PT é que se aprovou a Lei 9.504/97 que assegura a participação da mulher na política. Precisamos voltar a ter a ousadia de propor novas práticas políticas e como parte desta sinalização dois temas são centrais: Fim do processo de eleição direta (PED) e o fim do financiamento empresarial.
O fim do PED e o retorno aos congressos, neste momento, representam à volta as origens. Mais do que isso, representa uma sinalização de que estamos dispostos a fazer o debate de forma mais fraterna entre nós sem necessariamente transformar nossos filiados/as em boletos ou mesmo reproduzir para dentro do nosso partido os métodos que condenamos no sistema eleitoral brasileiro e que tanto lutamos no congresso nacional para que sejam mudados.
Outra questão central está no fim do financiamento empresarial de campanhas, relação que dá origem a corrupção. Este tipo de financiamento estabelece uma relação de dependência entre os partidos políticos, parlamentares e empresas privadas. Limita a democracia ao privilegiar candidaturas com maior poder econômico na disputa eleitoral. Nós do PT não temos apenas discurso diferente, temos práticas diferentes. Cabe aos delegados/as do 5° congresso aprovar a decisão já tomada na reunião do Diretório Nacional do PT em 17 de abril no que se refere ao não recebimento de contribuições empresariais. Não podemos continuar aceitando que o grande capital continue financiando a democracia brasileira. É preciso quebrar os laços da corrupção no sistema eleitoral.
O PT precisa reafirmar novas práticas para continuar sendo o partido da esquerda brasileira e da classe trabalhadora que demonstrou nas urnas a vontade de romper com os governos neoliberais e eleger um sindicalista pra mudar a história deste país dando voz aos que durante décadas foram oprimidos. Que o congresso do PT seja o momento de reafirmar os nossos laços com os trabalhadores e trabalhadoras que sempre viram em nós a ousadia pra fazer diferente.
Karol Cavalcante é socióloga e secretária Geral do PT do Pará