“O PT é o partido da ousadia. Não é hora de retroceder”
Aos delegados e delegadas do 5º Congresso do PT:
Nesse momento de efervescência do debate sobre os rumos do partido, quero abrir um diálogo com vocês. Vivemos uma conjuntura mundial de crise em todas as esferas. No Brasil vemos a direita, extremamente conservadora, se organizar cada vez mais para fazer retroceder as transformações conquistadas em nossos governos; e, ferozmente, contra o PT e todos os avanços que, simbólica e concretamente, o NOSSO Partido representa. O momento atual é de muitas controvérsias e disputas políticas.
Não é à toa que o PT é o catalisador de todos os ataques. O PT, a começar pela sua própria fundação, foi marcado pela ousadia. Ele ousou ao construir um projeto político inclusivo para o país. Ele ousou na sua organização interna de funcionamento. E ousou, mais uma vez, ao aprovar, no 4º Congresso, a paridade e as cotas de jovens e ético-racial, seguindo o exemplo de tantos outros partidos progressistas no mundo que vivenciam a paridade há anos, mas sendo o primeiro no Brasil a reconhecer que diferenças de gênero, são meramente biológicas e em nada influi nas capacidades intelectuais, cognitivas e/ou afetivas de nenhum dos sexos. O PT sempre ousou e se deu o tempo necessário para o aprendizado, o exercício, a maturação processual de suas ousadas, mas, necessárias e transformadoras mudanças.
Porém, estranhamente, pela 1ª vez, talvez inconscientemente influenciado pelas turbulências aparentemente intermináveis, o PT parece querer rejeitar sua própria história ao negar que decisões se toma num momento específico, mas sua efetividade requer tempo e aprendizado. Foi assim, reconhecendo que as mudanças são desafiadoramente assimiladas no decorrer dos dias, que o PT se fez PT. Responsabilizar a paridade e as cotas pelas deficiências da gestão é um equívoco e, talvez, uma forma de negar a necessidade de uma profunda reflexão sobre a estrutura da gestão partidária. Não houve tempo, se quer, para que os homens e as mulheres que agora ocupam os espaços pudessem assimilar essa nova realidade e lidar com ela como uma conquista e não uma concessão. Mudar as regras para a composição das direções foi e é fácil. O desafio, que temos que enfrentar no dia a dia, é o da mudança da cultura interna do poder, e de nossas próprias convicções, muitas vezes conservadoras, mas acomodadas tão profundamente que nem percebemos sua presença.
Por mais que neguemos, ainda carregamos o machismo e o conservadorismo nas nossas relações políticas. Por tanto, nosso desafio agora é enfrentar esse novo momento com muita discussão, sem querer achar culpados, mas tentando enxergar esse novo alvorecer do partido como uma revolução que, como toda outra, requer tempo para se consolidar.
A paridade e as cotas são de todos e todas militantes do PT, embora, seja fato que é necessário diminuir o espaço masculino para estabelecer o equilíbrio. Precisamos estabelecer um debate que transcenda a busca por “culpadas (os) ” ou a necessidade de qualificação de apenas um dos gêneros. O desafio é mudar o modo como vemos o mundo e nos relacionamos com ele e com as diferenças que o constituem.
Este é sim um momento que requer qualificação, mas de homens e mulheres para que ambos saibam reconhecer, aceitar e aprender que diferenças somam, não excluem. É preciso que voltemos às origens, que resgatemos a formação como um valor do Partido e não como referência de supremacia de uns sobre outros (as). A formação deve ser regra para todos e todas, dirigentes e militantes. Um avanço neste congresso seria (re) estabelecer a formação como um diferencial do Partido, a começar pela inclusão do tema “paridade e seus reflexos” buscando conhecer um pouco da experiência já em curso em pelo menos um terço dos países da América Latina. Outro, seria reavaliar o modelo de direção do partido. E preciso sair da zona de conforto e articular novas formas de interação, discussão e repartição do poder. Aprovar a paridade foi um passo nesta direção.
Pensemos sobre isso!
Sim à paridade!
Sim às mulheres!
Sim ao PT!
Laisy Moriére é Secretária Nacional de Mulheres do PT