‘Um escândalo recente na Coréia do Sul levou ao impeachment e prisão da então primeira-ministra do país, Park Geun Hye. Ela teria recebido dinheiro de grandes corporações, como a Samsung, o que levou à condenação de um dos herdeiros da empresa, Lee Jae Yong. O caso tem ares parecidos ao enfrentado por outras empresas na operação Lava Jato, no Brasil. A diferença é que, lá fora, a atuação policial mira corruptos e não na economia.
O paralelo foi feito recentemente pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ele lembrou que deve haver punição aos ‘empresários que roubam’, mas não prejuízos a empresas e trabalhadores(as). “O dono da Samsung está preso, mas a empresa continua produzindo, continua gerando emprego. Aqui [no Brasil] desmontaram tudo”, disse Lula.
O desmonte é resultado de verdadeiros linchamentos públicos, impossibilitando a reestruturação e recuperação de empresas que possuíam investigados em seus quadros. A situação é tão grave que, em 2015, só a Lava Jato foi responsável por descontar cerca de R$ 142 bilhões do Produto Interno Bruto (PIB) nacional.
Para o ex-ministro da Justiça, Eugênio Aragão, a atuação do Ministério Público Federal (MPF) em tais operações destrói os ativos nacionais, como as empresas de construção civil e naval: “o principal nessa atuação militante do MP é que, antes de atingir os chamados ‘corruptos’, atinge a população através dos seus empregos, das empresas que estão hoje sobre o fogo cruzado”.
Aragão lembra ainda que tal atuação tem deixado centenas de milhares de brasileiros e brasileiros desempregados de uma hora para a outra. “Perdemos empregos, perdemos direitos com o golpe, mas temos o combate à corrupção. Que combate é esse? Um combate que causa miséria, que tira empregos. Em nome de quem?”, questiona.
Isenção colocada em segundo plano
Eugênio Aragão acredita que a corrupção passou a ter uma visão mais politizada e partidarizada no País. A atuação seletiva seria no sentido de debilitar certas instituições partidárias, referindo-se principalmente à perseguição ao Partido dos Trabalhadores e seu maior expoente, o ex-presidente Lula.
Para o ex-ministro, houve uma deformação completa do chamado enfrentamento da corrupção, que acabou se transformando num monopólio de certas carreiras. “[Estes agentes públicos] quiseram brilhar na opinião pública como super-heróis para livrar, paternalisticamente, a sociedade de mazelas que lhe são inerentes”.
Ainda segundo ele, a sociedade não pode achar que um órgão, ungido como ‘perfeito, excelente, moral, ético’, faça justiça expondo de forma ‘vergonhosa’ determinados atores políticos. “Infelizmente, é isso que tem acontecido. O Ministério Público abandonando a isenção que seria esperada de um fiscal da lei. […] O que se tem ali é uma cultura de linchamento completamente contrária ao próprio espírito da Constituição”, disse.
Aragão acrescenta que suspeitos de crimes devem ser lavados à Justiça dentro dos parâmetros do devido processo legal, independente da sua ideologia política. “Não podemos transformar personagens que têm uma certa visibilidade na sociedade como bodes expiatórios para, querendo bater neles, expiarmos os problemas que são de nós todos”, finalizou.
Carlos Mota do PT no Senado