Novo capítulo da Vaza Jato publicado pelo portal Uol, em parceria com o The Intercept Brasil, mostra que os procuradores da Operação Lava Jato optaram por não dar prosseguimento a denúncia apresentada pelo ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (MDR-RJ) de que a escolha do relator do seu processo de cassação na casa teria sido fraudada para beneficiá-lo.
Cunha era acusado de ter mentido à CPI da Petrobras, quando negou possuir contas no exterior, e também de ter ocultado contas bancárias na Suíça. Em retaliação ao processo de cassação, abriu o processo de impeachment que culminou com a derrubada da então presidente Dilma Rousseff, em maio de 2016. O próprio Cunha seria cassado, em setembro do mesmo ano, e depois preso pela Lava Jato.
Em mensagens trocadas em um grupo do Telegram intitulado “Acordo Cunha”, de que participavam procuradores das forças-tarefa da Lava Jato em Curitiba, Rio de Janeiro, Natal e na Procuradoria Geral da República (PGR), em Brasília, além de investigadores da Operação Greenfield, em Brasília. Eles discutiam sobre a conveniência de fechar um acordo de delação premiada com o ex-Todo-Poderoso da Câmara. Para o procurador Orlando Martello, as revelações que seriam trazidas pelo deputado cassado “mais atrapalham os processos e investigações em andamento do que ajudam”, pois a estratégia de defesa se basearia em “doações eleitorais”. Essa também era a opinião da maioria dos integrantes do grupo.
Ainda assim, se o acordo não fosse fechado, Martello lamentaria “a revelação das bolas pesadas do sorteio”, se referindo a suposta escolha fraudada do nome do deputado que relataria o seu processo de cassação. Cunha acusava o então presidente do Conselho de Ética da Câmara, deputado José Carlos Araújo (PR-BA), de ter lhe favorecido na escolha do deputado Fausto Pinato (PP-SP) como relator. “Realmente esse é um fato que talvez não devesse ser sonegado da sociedade. Isso mostra/expõe como ainda somos um País subdesenvolvido, em que os políticos estão tão distantes da realidade”, disse Martello aos colegas.
De acordo com fontes ouvidas pela reportagem, Cunha narrou aos procuradores que Araújo mandou o recado com os nomes dos três relatores que seriam sorteados dias depois: Vinícius Gurgel (PR-AP), Zé Geraldo (PT-BA) e Fausto Pinato (PP-SP). E já teria adiantado que, após o sorteio, escolheria Pinato por ser da base aliada e disposto a dar um tratamento favorável ao então presidente da Câmara. Foi exatamente o que aconteceu. Na visão dos aliados de Cunha, Pinato não o iria prejudicar no Conselho.
A manobra fracassou, pois Pinato também enfrentava problemas com a Justiça, e acabou votando pela continuidade do processo de cassação. Cunha então manobrou para substituir o relator. Pinato alegou que chegou a receber três ofertas de propina para barrar o processo de cassação. O deputado Marcos Rogério (DEM-RO) assumiu a relatoria do processo de cassação de Cunha.
Pelas conversas, o acordo de delação de Cunha não foi fechado porque os procuradores queriam direcionar as investigações. Eles queriam acusações sobre o ex-ministro da Secretaria de Governo de Michel Temer (MDB) Carlos Marun. Também esperavam informações que pudessem implicar autoridades do Judiciário do Rio de Janeiro, fatos de suposta compra de votos para a eleição à Presidência da Câmara e repasses de dinheiro feitos pelo lobista Júlio Camargo e pelo empresário Joesley Batista, da JBS.
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