A Lei Federal de Cotas, 12.711 de 2012, promoveu o ingresso de 111. 668 estudantes negros no ensino superior, segundo dados da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República (Seppir/PR). Ao fim de 2015, serão cerca de 150 mil negros matriculados a partir do direito legal que completa três anos neste sábado (29).
De acordo com a Seppir, 33% das vagas de graduação foram reservadas para cotistas, em 2013, sendo que 17,25% foram para estudantes negros. Em 2014, dos 40% das vagas reservas, 21,51% dos alunos matriculados eram negros.
Para o representante do Núcleo de Estudos Afro-brasileiros da Universidade de Brasília (UnB), Nelson Inocêncio, as cotas para negros são grande passo, mas é importante avançar em uma política voltada para as escolas públicas. Por outro lado, ele afirma que há um engano quando a lei subordina a inclusão da população negra à escola pública, ou seja, define que pretos, pardos e indígenas, para entrar na universidade pública, precisam vir de uma escola pública.
“Não é possível reduzir a questão racial à questão econômica. Acho que pobreza e racismo estão próximos, mas são fenômenos diferentes e precisam ser tratados no âmbito de suas particularidades”, observa o professor.
“É um engano achar que uma pessoa negra que não é de baixa renda não seja alvo da discriminação racial”, sustenta.
Para o professor, “estamos apenas no começo. “O Brasil tem pouco mais de 10 anos de políticas de inclusão da população negra. A sociedade deve apostar nisso e o Estado deve desenvolver ações políticas para que a população negra consiga realmente participar de modo efetivo”, ressalta.
Ao levar em consideração que o Brasil tem mais tempo de sociedade escravocrata do que de sociedade livre, o professor defende que serão necessários pelo menos 200 anos para chegar a estabelecer uma distância significativa da escravidão.
Para ele, é “terrível” saber que, quase 130 anos depois da abolição da escravatura, a situação da população negra não é confortável.
“A população negra continua vivendo uma condição de vulnerabilidade, no que diz respeito à saúde, educação, ao trabalho e segurança. Os negros são alvo preferencial da polícia cujas abordagens são baseadas em estereótipos”, lembra o professor.
Nara Paiva estuda Publicidade na faculdade de Comunicação Social da UnB, onde ingressou como cotista parda, em dezembro de 2012. Para ela, a nova medida é um mínimo de compensação pelos 350 anos de escravidão e mais de 120 anos de ausência de políticas públicas para os negros.
Nara afirma não ter conhecimento se os colegas sabem que ela entrou por meio de cotas, mas percebeu que o ambiente ainda é hegemonicamente branco.
“Está sendo bem tranquilo. Acho que as pessoas não sabem que eu entrei por meio de cotas, mas se souberem não faz a menor diferença. A UnB ainda é muito branca. Não tenho um professor negro”, conta a estudante.
Por Guilherme Ferreira, da Agência PT de Notícias