Do ponto de vista puramente tático, Dilma se movimentou bem na última semana: o excelente programa de TV do PT, que isolou as panelas nos bairros ricos; o acordo com Renan Calheiros, a sinalização da Agenda Brasil, que trouxe a Fiesp e a Firjan contra o Impeachment e emparedou Aecio; O pacto com Alckmin pela legalidade, a reunião com movimento social para mostrar força, a derrota no STF da agenda de votação de contas presidenciais sem o Senado por Eduardo Cunha…
Desta maneira, o clima das manifestações de domingo (16/08) não foi mais de ofensiva da direita, mas de resistência do golpismo. Não se pode dizer que mostraram força, mas não também que chegaram ao “game over”. O fato de terem sido menores do que as edições anteriores não resolve o problema da baixa popularidade do governo e os índices de desaprovação da presidenta. Portanto, ainda haverá fôlego para a disputa do voto das “pedaladas” no TCU e o prosseguimento da desestabilização em busca do tal “fato jurídico” que permita justificar a luta pelo Impeachment.
Sem dúvida, apesar da agenda positiva do governo na semana que passou, as manifestações respiraram pela ação da Polícia Federal, última trincheira do golpismo, com o vazamento, sábado, do sigilo fiscal da empresa de palestras de Lula e de conversa dele com um executivo da Odebrecht. A semana que começou nesta segunda-feira, assim, será marcada pela disputa da agenda política e o enorme boneco de Lula vestido de presidiário que chamou atenção no protesto de Brasília, é sinal de que segue na ordem do dia a ameaça de prisão do ex-presidente. Ou seja: esta em curso a estratégia, no mínimo, de salvar Dilma para pegar o PT e seu líder maior. Conseguido isso, se voltará a carga contra o governo, agora sem retaguarda e na mão da globo e empresariado.
O governo pagou para ver o que seriam as manifestações deste domingo e assistiu a um empate, ainda que com gostinho de vitória à la Zagallo. Então, é a hora de “jogar em casa” com todo o ímpeto para a definitiva “classificação”.
O anúncio da Agenda Brasil, iniciativa de Renan Calheiros, foi louvável e correspondeu ao modus operandi de um grande partido de centro, âncora histórico da estabilidade, no momento tático adequado. A coalizão é plural e é legítimo que o PMDB apresente sua agenda em coesão com os empresários e a mídia. E é legítimo também que o PT, por meio da condição de dirigente do governo, negocie a sua dentro deste escopo anunciado pelo presidente do Congresso já que, embora seja um ensaio de mensagem política fora dos marcos do Ajuste Fiscal, ainda carece de contemplar os eleitores da presidenta Dilma.
O próprio Renan, em artigo, disse que a proposta é aberta à negociação, não uma faca no pescoço. Nela há pontos importantes, como a redução da burocracia do ambiente de negócios, mas há pontos indeglutíveis como o fim do Mercosul, a cobrança à classe média no SUS, a relativização das licenças ambientais, por exemplo.
É a oportunidade para tentar dar o giro programático, como a redução da meta fiscal indicou
Se o passo tático da semana passada foi atrair o empresariado para isolar os radicais das ruas e do PSDB, o passo seguinte é a definitiva coesão dos eleitores da presidenta. Coesão programática com os movimentos, para que não se sintam em dúvida no “dia seguinte” à reunião no Palácio do Planalto.
Dilma dependente da Globo e das federações industriais, com PT e Lula sob risco, impopular, com uma Agenda que não é a que a reelegeu,por mais que sinalize um pacto com o Congresso, é a nova fórmula do golpe.
É preciso sinalizar ao povo no âmbito dessa Agenda Brasil e evitar que se cometa o mesmo erro do anúncio do Ajuste onde contemplar os eleitores de Dilma ficou em segundo plano.
Precisamos de uma agenda com início, meio e fim para os empresários e para o povo e isso não se faz apenas através de um site aberto à opiniões avulsas sem concertação, embora tenha sido um avanço inegável. Por que o PPA e o processo dialogado de sua construção, como está sendo tentado, não vira a pedra onde se inscreve este pacto com empresários e com a sociedade civil, o instrumento da síntese da Agenda Brasil com a que defendem as centrais sindicais, MST e MTST, presentes à reunião do Palácio do Planalto?
E há insumos para negociar: o programa de governo não lançado, as contribuições no Dialoga Brasil, as propostas do PT, as plataformas dos movimentos sindicais e sociais mais fortes.
É hora de superar a visão que vende que os movimentos recentes de Dilma a “salvam”, mas que o PT é “problema do PT” e “relançar o governo” com uma espécie de nova “carta ao brasileiros”, só que correspondente aos 13 anos de governo do PT e seus aliados.
Com o PT, saímos do pacto entre as elites para o pacto nacional. O alvo é o projeto. A queda de Dilma, Lula e o PT, seja na ordem que for, serve ao objetivo de retroceder do pacto nacional de volta ao pacto das elites. Não é o “aprofundamento da revolução democrática” que está em jogo neste quadrante da história, mas a atualização deste pacto nacional iniciado por Lula em 2002.
Isso determinará as possibilidades de avanço.
PS.: Discordo do jornalista Ricardo Amaral sobre a ida de Lula ao governo. Para este autor, o centro deste movimento não seria concedê-lo foro privilegiado, mas sinalizar, de uma tacada só, a recomposição com a base aliada,com os movimentos sociais e com o PT para uma “virada de mesa” na conjuntura a partir do governo. Justamente ele atenderia à convocação que se faz aos grandes líderes nestes momentos de graves impasses. Ainda dá tempo e seria a “cereja do bolo” neste horizonte de fazer os eleitores da presidenta se enxergarem na Agenda Brasil, no embalo do esmorecimento aparente das marchas golpistas.
Leopoldo Vieira foi secretário Nacional Adjunto de Juventude do PT e coordenou o Monitoramento Participativo do PPA 2012-2015 e o programa de governo para o desenvolvimento regional da reeleição da presidenta Dilma Rousseff