Representantes de religiões de matriz africana, como o candomblé e a umbanda, reivindicaram a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para averiguar atos de violência contra templos religiosos e seguidores.
Em audiência pública na Comissão de Direitos Humanos do Senado Federal na quarta-feira (16), os líderes religiosos afirmaram que a onda de intolerância é crescente no País.
“É preciso uma CPI para que se tomem providências imediatamente, porque estão ficando cada vez mais graves os ataques às nossas religiões”, defendeu o babalorixá Joel de Oxaguiãn.
Somente nos arredores do Distrito Federal, dois terreiros foram atacados no último fim de semana. Um deles, localizado em Santo Antônio do Descoberto, município goiano da região metropolitana da capital federal, foi destruído por um incêndio.
Esse foi o segundo ataque ao templo. Menos de um mês antes, a casa foi invadida e os assentamentos dos orixás foram violados.
Na cidade de Águas Lindas uma caminhonete derrubou o portão da casa de santo. Até o dia da audiência pública, ninguém havia sido preso.
Os participantes lembraram do caso de Kayllane Campos. A menina de 11 anos levou uma pedrada na cabeça em junho deste ano, no Rio de Janeiro, ao andar na rua com as roupas características dos seguidores do candomblé.
De acordo com o Centro de Promoção da Liberdade Religiosa e Direitos Humanos (Ceplir) do do Rio de Janeiro, entre julho de 2012 e dezembro de 2014, foram registrado 948 denúncias de intolerância religiosa no estado. Os casos de intolerância contra religiões de matriz africana são 71% do total.
A coordenadora de Comunidades de Matriz Africana de Terreiros da Fundação Cultural Palmares e iyalorixá Adna Santos de Araújo informou que o órgão recebeu 218 denúncias de violência contra casas de culto de religiões afro-brasileiras.
Mãe Baiana, como é conhecida, informou que a Palmares acompanha todas as ocorrências, com o intuito de garantir a punição aos responsáveis. Para ela, as ações de violência têm relações profundas com o racismo.
Nesta sexta-feira (18), a presidenta da Fundação Cultural Palmares, Cida Abreu, formalizou o pedido de providências ao Procurador da República do Estado de Goiás, Marco Túlio Oliveira e Silva, sobre os atos de vandalismo.
O presidente da Comissão, senador Paulo Paim (PT-RS), afirmou durante a audiência que o natural seria cada brasileiro estar “tranquilo e em paz” para professar qualquer religião. No entanto, diante dos casos de intolerância, “não adianta somente chorar sobre o sangue derramado”, mas fortalecer o respeito.
“A liberdade de culto e religião é cláusula pétrea da nossa Constituição. É necessário defender o direito de todos a manter sua identidade e as suas raízes”, declarou.
A senadora Regina Sousa (PT-PI) pediu uma atenção maior ao tema nas escolas, para que as crianças possam aprender a conviver com as diferenças e não adotem o caminho da intolerância.
“Vai ser importante fazer essa CPI para mostrar que a intolerância tem consequências, tem punição. No Piauí temos crianças que não querem mais ir para as escolas porque são chamados de macumbeiros”, exemplificou.
O senador Donizete Nogueira (PT-TO) também manifestou solidariedade e se pôs à disposição para colaborar com ações contra a intolerância e o preconceito.
Da Redação da Agência PT de Notícias, com informações do PT no Senado e da Fundação Palmares