Há uma perseguição ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e uma campanha de ódio ao PT, afirma o senador Lindbergh Farias (PT-RJ), ao avaliar o momento político pelo qual passa o Brasil.
Em entrevista à Agência PT de Notícias, o senador falou sobre o pedido de prisão de Lula, feito pelo Ministério Público de São Paulo no último dia 10. Ele disse considerar o pedido “desastrado e frágil” e afirmou que a iniciativa visa “tocar mais fogo no ambiente político do País para chamar para a manifestação do dia 13”.
Lindbergh ainda avaliou que existe, hoje, um atentado ao estado democrático de direito. “Estão criando um caminho em relação ao estado de exceção e esse golpe é um golpe maior. É um golpe querer tirar a presidenta eleita democraticamente, que tem um mandato de quatro anos, mas é um golpe maior, que está ferindo o nosso estado democrático de direito”, apontou.
Líder estudantil da década de 90, época do impeachment do ex-presidente Fernando Collor, o senador faz uma clara distinção entre aquele momento e a atual realidade no Brasil.
“Eu sou contra o impeachment da Dilma porque não tem fatos objetivos contra a presidenta Dilma. Para se afastar um presidente, tem que ter crime de responsabilidade, com a participação objetiva do presidente da República. Você pode discordar do governo dela, mas ela é uma mulher honrada, uma mulher honesta”, afirmou.
Para o senador, quem incita a violência no País não é o PT, mas sim os grupos fascistas e anti-petistas.
“Nós vamos dar uma resposta com a nossa mobilização no dia 18. Nós vamos fazer manifestações como sempre fizemos, manifestações democráticas, pacíficas. Mas nós vamos para a rua. Nós não vamos ter medo nesse momento de ameaças desse pessoal e ninguém vai nos tirar das ruas para defender a democracia e o estado democrático de direito. Nós vamos derrotar esse golpismo e vamos defender o nosso presidente Lula”, garantiu.
Confira a entrevista na íntegra:
Agência PT – Temos assistido a constantes ataques ao ex-presidente Lula, à presidenta Dilma e à democracia. Como o senhor se posiciona sobre isso?
Lindbergh Farias – Nós estamos muito preocupados com que está acontecendo com a nossa democracia brasileira. Aquela condução coercitiva do presidente Lula foi uma condução ilegal. Aquilo foi um absurdo. O artigo 260 do Código do Processo Penal diz o seguinte: você só pode ter condução coercitiva depois de você ser intimado e se negar a depor por duas vezes. O presidente Lula nunca se negou. Para mim, há um atentado ao estado democrático de direito. Nós estamos criando aqui um caminho em relação ao estado de exceção e esse golpe é um golpe maior. É um golpe querer tirar a presidenta eleita democraticamente, que tem um mandato de quatro anos, mas é um golpe maior, que está ferindo o nosso estado democrático de direito.
AGPT – E o pedido de prisão de Lula, feito pelo Ministério Público de São Paulo na última quinta-feira (10)?
LF – É uma perseguição ao ex-presidente Lula e uma campanha de ódio. É inacreditável o que estão fazendo de perseguição ao presidente Lula. Essa ação é tão desastrada, tão frágil, que até o PSDB em nota se distanciou da posição do promotor. Disse que não via sustentação para isso. Até o PSDB. Veja que escândalo. É uma perseguição eu uma campanha de ódio e intolerância. Esse promotor de São Paulo passou de todos os limites. Eu só consigo entender uma razão para uma atitude como essa: tentar tocar mais fogo no ambiente político do País para chamar para a manifestação deles no domingo, a manifestação do dia 13. Esse promotor, eu só tenho uma coisa para definir o que ele fez: está querendo aparecer de forma mais irresponsável possível. Eles estão transformando o ambiente político no Brasil em um clima muito pesado de radicalização política. É um irresponsável. Mas nós vamos derrotar esse golpismo e vamos defender o nosso presidente.
AGPT – Qual a sua opinião sobre as delações e os vazamentos seletivos na Operação Lava Jato?
LF -Está vindo alguma coisa lá da Operação Lava Jato, do Paraná, que nos preocupa, com várias ilegalidades, e não é só a condução coercitiva. Primeiro é preciso dizer que nós não somos contra a investigação, nós queremos que se investiguem todos, até os tucanos, que é um problema que tem hoje que é a seletividade. O senador Aécio Neves já foi citado por quatro delatores e a gente não consegue entender porque não abrem inquérito contra ele. Investigação tem que ser para todos. Agora, tem outras ilegalidades, uma série de vazamentos ilegais. Outro problema são essas prisões preventivas. Se fica preso preventivamente por um ano. E praticamente se institui um elemento de tortura para obrigar a delação. Isso é medieval. Na ditadura também se torturava para delatarem e novamente estão utilizando esse estatuto para delatarem contra o PT. E aí tem uma coisa: você encontra vários ladrões delatores soltos, com seu patrimônio intacto. Por que? Porque delatou alguém do PT. Isso é uma prática que está acontecendo agora dia após dia. E tem o espetáculo. O juiz Sérgio Moro escreveu um artigo sobre a Operação Mãos Limpas que ele fala da necessidade dessa aliança com a imprensa e desse espetáculo.
AGPT – Qual a consequência dessa espetacularização da Operação Lava Jato?
LF – O problema desse espetáculo é que as investigações precisam ser investigações sóbrias, porque esse espetáculo está parando a economia brasileira. Estamos completamente imobilizados. Dos 3.8% da recessão do PIB do ano passado, várias consultorias econômicas estão colocando 2% fruto da Lava Jato. São construtoras, a crise no setor de petróleo e gás. Então eu estou muito preocupado com a situação do País, porque não dá para haver uma recuperação econômica do País sem nós pacificarmos essa luta política e sem também organizarmos um pouco para que essas investigações existam, mas deixem de ser espetáculo, e não podem prejudicar também as empresas. As pessoas têm que ser presas, por isso os acordos de leniência são acordos importantes.
AGPT – Por que a presidenta Dilma não pode sofrer impeachment?
LF – Muita gente às vezes me cobra “você foi líder estudantil dentro da UNE na época do impeachment do Collor, como é que você é contra o impeachment da Dilma?”. Eu sou contra o impeachment da Dilma porque não tem fatos objetivos contra a presidenta Dilma. Para se afastar um presidente, tem que ter crime de responsabilidade, com a participação objetiva do presidente da República. Na época do Collor sabe o que houve? Acharam contas do PC Farias e de empresas fantasmas, nessas contas, dinheiro na conta da esposa do Collor, da mãe do Collor, pagamento de despesas pessoais, reforma do jardim da casa da Dinda. Teve tudo isso. Com a Dilma não. Você pode discordar do governo dela, mas ela é uma mulher honrada, uma mulher honesta. Então esse é o primeiro ponto.
Segundo: o processo de impeachment de Collor uniu o Brasil. Agora não. Está dividindo profundamente o nosso País. Eu nunca vi um quadro como esse. Uma radicalização política gigantesca, que está prejudicando a vida do povo, porque está prejudicando a nossa economia também. Aqui o Congresso está praticamente parado no Fla-Flu. Esse senador Aécio Neves não aceitou o resultado eleitoral. Desde o começo do mandato da presidenta Dilma nós vivemos esse impasse político. Então, essa campanha contra Dilma não tem nada a ver com o impeachment do Collor. Muito pelo contrário. Na verdade o que eu consigo fazer analogia é a Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek e João Goulart. É uma tentativa de golpe como tentaram dar naquele período. Era a velha UDN no passado, hoje é essa aliança do PSDB com setores da mídia, da Rede Globo, é isso que está conduzindo essa nova tentativa de golpe.
AGPT – Há manifestações contra Dilma marcadas para este domingo, dia 13. Qual será a mobilização do PT e dos setores da esquerda, como a Frente Brasil Popular, em relação a isso?
LF – Nós vamos dar uma resposta à mobilização do dia 13 com a nossa mobilização no dia 18. Eu, inclusive, vi alguns jornalistas essa semana, jornalistas da Globo, falando em “milícias do PT”. Teve um que falou, inclusive, que era necessário o exército ficar atento contra as “milícias do PT”. Ora, nos respeitem. Nós temos uma larga tradição democrática nesse País. Nós estamos sendo vítimas desse clima de uma parte fascista da sociedade. Nós não esquecemos, por exemplo, o que aconteceu no funeral do nosso companheiro José Eduardo Dutra, a bomba no Instituto Lula, as pichações nos diretórios do PT.
Se tem uma violência acontecendo no País, é essa justamente que está sendo feita por grupos fascistas, em torno de Jair Bolsonaro, que estão convocando a manifestação do dia 13 com armas na mão. Teve um secretário-adjunto do governo do Rio Grande do Sul que chegou a colocar na suas redes sociais que petistas têm que ser tratados com tiros, bombas e cassetetes. É esse pessoal que incita violência, e esse pessoal está associado ao PSDB. Eu até hoje não vi um discurso de uma liderança do PSDB demarcando campo com esses grupos fascistas que defendem a intervenção militar em pleno século XXI. Então nós vamos fazer manifestações como sempre fizemos, manifestações democráticas, pacíficas. Agora, nós vamos para a rua. Nós não vamos ter medo nesse momento de ameaças desse pessoal e ninguém vai nos tirar das ruas para defender a democracia e o estado democrático de direito.
Por Luana Spinillo, da Agência PT de Notícias